TeleCine Play - Ainda Há Tempo (Falling)

7/28/2021 11:51:00 PM |

Sabemos bem que a demência quando chega para algumas pessoas as deixa mais estressantes por repetir situações, por não aceitar ordens, e principalmente por perder algumas noções básicas do sociável, porém em alguns filmes os diretores vão tão a fundo colocando personagens tão irritantes, com uma proposta tão incômoda que chegamos a pegar ódio do filme pelo personagem em si, e o que foi colocado no protagonista de "Ainda Há Tempo" é daqueles que eu no lugar do filho teria abandonado o pai sozinho antes mesmo de completar 30 minutos de filme, quanto mais continuar tentando e cuidando! Ou seja, nos é entregue um longa tão imponente, com um realismo forte de uma situação tão bem colocada que acabamos ficando bravos com tudo, mostrando tanto a precisão cirúrgica do diretor estreante, quanto de como os atores foram bem colocados para serem representativos em um nível que vai além demais do que se podia imaginar, sendo um grandioso feitio completo.

O longa nos conta que John mora na Califórnia com seu marido Eric e sua filha, longe da vida de fazendeiro que já teve. Mas quando o seu pai Willis começa a apresentar sinais de demência, John decide vender a fazenda da família e trazer seu pai para a cidade grande. Porém, Willis se recusa a quebrar diversos preconceitos, incluindo lidar com a orientação sexual do filho.

Em sua estreia na direção e roteiro, o ator Viggo Mortensen foi tão preciso de sentimentos, sabendo colocar e pontuar exatamente cada situação da trama que até parece ser algo que ele tenha vivido pessoalmente, pois a intensidade é tamanha nos detalhes, tudo tem um envolvimento preciso, e o estilo acaba sendo encaixado do começo ao fim com tanta precisão que o resultado encanta e deixa irritado na mesma proporção, o que é extremamente bem feito e interessante de ver. Ou seja, ele mostrou conhecer bem o estilo dramático com uma ênfase bem trabalhada, e com muita técnica acabou se conectando demais com todos personagens para que cada um se entregasse bem e chamasse a atenção para si. Porém sem dúvida o filme é do pai, sendo daqueles personagens tão fortes que vamos sempre lembrar de cada detalhe do que fez em cena, e certamente o diretor conseguiu tirar tudo o que desejava dele.

E já que comecei a falar das atuações, que tanto costumo dizer ser um filme de ator até mais do que um filme de direção, o destaque total ficou a cargo de Lance Henriksen com seu Willis completamente arrogante, homofóbico, rude e claro que demente amplia todos esses adjetivos para algo muito forte de ver, mostrando que o ator entrou completamente no personagem e conseguiu criar uma intensidade fora do comum de ver em qualquer atuação, sendo perfeito no que fez, agradando demais, e como já disse fazendo com que ficássemos com muito ódio dele, ou seja, incrível de ver. O diretor Viggo Mortensen também se entregou bem fazendo com que seu John fosse sereno até demais para tudo o que acaba ouvindo do pai, pois certamente nem o mais paciente suportaria tanta pressão, e aqui ele fez olhares, trabalhou intensidades, e foi claro nos diálogos para não mandar a merda, ou seja, acertou também em cheio, algo que é raro de ver um diretor atuando bem como coadjuvante. Agora assustador mesmo foi a semelhança de Sverrir Gudnason com Viggo, pois ele fazendo o Willis jovem mostrou praticamente um clone bem colocado, algo que o ator conseguiu ainda trabalhar imposições, marcou suas cenas intensamente e chamou a responsabilidade nas cenas do arrogante homem ainda com os jovens crianças, ou seja, foi algo mais intenso ver sua semelhança do que sua atuação em si. Agora quanto aos demais todos foram bem, e chamaram a atenção nas devidas cenas sem grandes destaques, ao ponto que todas as mulheres foram praticamente humilhadas com as dinâmicas em si, mas souberam marcar com olhares e o resultado passa a envolver pelo menos.

Visualmente o longa tem dois tempos bem definidos, que é a juventude do garoto na fazenda, com um pai bruto, que logo de cara sempre maltrata a mãe, mostrando o jovem aprendendo a atirar, brincando com seu pato que matou em sua banheira, vemos toda a infância e juventude em um ambiente bem machista pelo pai, mas com pontos sem muita confluência, já no segundo ato temos o protagonista já adulto vivendo em uma casa muito bem decorada por ele, com sua filha e seu marido, e o pai no fim da vida completamente dominado pelas doenças, indo a médicos, brigando por tudo, e claro desejando voltar para sua fazendo no norte frio, ou seja, a equipe de arte trabalhou bem poucos elementos, e foi meio que ambientado nos detalhes, deixando que os diálogos falassem mais do que o visual, e isso nesse estilo de filme é bem bom de ver.

Enfim, é um filme tenso por tudo o que é mostrado e dito na tela, sendo daqueles que acabamos ficando irritados com os personagens, e felizes por um filme conseguir ser tão imponente, funcionando bastante e valendo ser lembrado quando necessitarmos indicar algum filme do gênero, pois é monstruoso o que os atores fazem em cena demonstrando algo que vai até além da doença, mas sim um condicionamento maior em cima das linguagens machistas e homofóbicas tradicionais. Bem é isso pessoal, esse foi mais um longa do Festival do Rio que ainda não tem data de estreia nem nos cinemas, nem nos streamings, mas certamente em breve deve aparecer, valendo muito a conferida. Eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um longa do Festival, então abraços e até logo mais.


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