O longa nos conta que as melhores amigas e primas inseparáveis Autumn e Skylar navegam precariamente na vulnerabilidade da adolescência feminina na Pensilvânia rural. Quando Autumn inesperadamente engravida, ela é confrontada com uma legislação conservadora de colarinho azul, sem piedade de mulheres, que impõe um aborto. Com o apoio infalível da Skylar e recursos ousados, o dinheiro para financiar o procedimento é garantido e a dupla embarca em um ônibus com destino ao estado de Nova York para encontrar a ajuda que o Autumn precisa.
Diria que a diretora e roteirista Eliza Hittman até trabalhou bem a essência que desejava no filme, mas ao meu ver pelo menos, faltou aquele algo a mais que faria o público se envolver com as personagens, pois até dá para ver as nuances sofridas da jovem que provavelmente foi abusada, vemos suas antipatias para tudo o que está ocorrendo com ela, e sentimos seus atos funcionando, e até temos alguns momentos de emoção com toda a situação, mas tudo é linear demais, tudo é entregue sem conflito, tudo vai numa onda tão simples e direta que o filme acaba não impactando quem não estiver na mesma sintonia de uma mulher abusada e grávida, e isso facilmente nas mãos de qualquer outro diretor trabalharia com impacto, criaria dramas fortes para cima dela e/ou atos secundários marcantes para não ser "apenas" um filme de aborto, e assim sendo a simplicidade da diretora serviu somente para criar os atos, não indo além em momento algum, não emocionando em nada, e muito menos atingindo qualquer outra pessoa, o que é bem ruim em uma trama dramática.
Sobre as atuações, o que posso dizer de cara é que a cumplicidade das protagonistas nos atos juntas é perfeito, com muitos olhares, muito envolvimento e toda uma sinergia interessante demais de ver entre elas, mas isso não basta para que o filme exploda e marque. Dito isso Sidney Flanigan fez bem sua Autumn, porém como foi sua estreia nos cinemas ficou parecendo faltar experiência em seus atos, não passando realmente a emoção que a personagem precisava demonstrar, e isso ficou claro na maioria das cenas, salvando realmente só a cena que ela está com a psicóloga respondendo as perguntas com o nome do filme. Já Talia Ryder conseguiu se soltar bem com sua Skylar, jogando bem os olhares para a sua prima e amiga, e dominando os ares, tanto que em alguns atos pareceu ser até mais protagonista que a real protagonista, mas como era secundária precisou ser apagada da trama seja nos atos ou na edição realmente, e em diversos momentos nem lembramos mais que ela estava ali em cena, e isso foi o longa inteiro. E finalizando, mesmo com a temática pegando fogo, ficou parecendo que queriam jogar na tela Théodore Pellerin, ao ponto que seu Jasper acaba sendo até chato demais, mas funcionou no que o filme precisava, e assim sendo foi quase um objeto na trama do que realmente um ator em cena, já as demais mulheres que apareceram como a médica no começo ou a psicóloga foram pouco utilizadas no quesito atuação, porém foram muito bem encaixadas na trama, dando as devidas nuances que o roteiro necessitava.
Visualmente o longa foi bacana no sentido de mostrar a vida no interior, com os tradicionais machismos seja na empresa, na escola, em casa, e com todos os tipos clássicos, depois as velhas e tradicionais cantadas e puxadas de papo de ônibus, até chegarmos na cidade grande, aonde a vivência é maior, as idas e vindas no metrô para ter quase uma morada já que estavam sem dinheiro, e ali claro rolando também assédios, ou seja, o filme fica bem em cima dessa pauta machista versus o feminismo em questão pelo empoderamento de decisão logo da prima em levar a outra para um lugar aonde conseguisse resolver esse problema, pois na cidadela não daria certo seja pelas ideias dali, ou até mesmo da família, e assim a equipe de arte nem teve grandiosos momentos, mas foi colocando simples detalhes em alguns atos para tudo ficar bem marcado, aliás o carregamento da mala imensa para lá e para cá ficou sendo tão inútil quanto qualquer outra coisa na trama, mas não vamos entrar em conflito, pois pode ser algo simbólico como estar carregando o peso do que estão fazendo, mas é algo mais reflexivo do que real.
Enfim, é uma trama que demonstra uma boa sintonia e parceria das primas, que é direto nas nuances, e até que tem algo que chame uma atenção dentro de um tema polêmico, porém é tão cotidiano de atitudes que não tem como defender, e volto a frisar que tem um público alvo muito marcado não funcionando para mais ninguém que imagine algo do filme, e sendo assim não tenho como recomendar ele para ninguém, pois até poderia dizer que ele é ruim, mas não é, apenas é mediano e não vai além em momento algum. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos.
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