O longa nos conta que logo após os acontecimentos mortais do primeiro filme, a família Abbott precisa agora encarar o terror mundo afora, continuando a lutar para sobreviver em silêncio. Obrigados a se aventurar pelo desconhecido, eles rapidamente percebem que as criaturas que caçam pelo som não são as únicas ameaças que os observam pelo caminho de areia.
Se com o primeiro filme, o ator John Krasinski ficou famoso como diretor e roteirista, agora com a continuação mostrou que não foi sorte de principiante, entregando algo tão bem elaborado quanto o original, sendo criativo nas situações que acabamos vendo os protagonistas se envolvendo, e claro rolando coisas improváveis que sempre fazem com que xinguemos os protagonistas (aquela famosa sina de filme de terror, que se ninguém fizer uma burrice o longa não acontece!), e sendo bem trabalhado nas dinâmicas, não dando respiros para que ninguém canse, e principalmente brincando com cada elemento da trama, desde o ruído do aparelho de surdez da garotinha, com uma estação de rádio que indica uma pista, com a preparação de armadilhas e nuances certeiras para que cada momento ficasse melhor que o outro. Ou seja, é daqueles filmes que até procuramos erros para reclamar, mas dificilmente encontramos algo que impacte de menos na produção toda, e sendo assim só o fato de deixarem algo para ser fechado como uma trilogia é o que dá para resmungar um pouco, mas de resto é incrível, e certamente o diretor fez valer cada segundo do que entregou, superando as expectativas e criando algo maior e com muita responsabilidade para ter um bom desfecho na terceira parte.
O mais engraçado no longa é que não tenho como dar destaque para ninguém no filme, pois todos foram muito bem no que fizeram, e ao dividir o elenco em grupos (isso até acaba sendo um tremendo spoiler) temos praticamente duas histórias bem separadas (nem vou considerar o desesperador início quando as criaturas começam a atacar, pois ali apenas vimos um jogo, conhecemos rapidamente Emmett que será usado logo em seguida, e vemos todo mundo sendo comido, afinal ninguém sabia que não podia fazer qualquer barulho, já que se passa antes do que vimos no primeiro filme), então diria que no grupo que fica no galpão, o garotinho Noah Jupe (que cresceu bem, e quase estragou a primeira parte por estar mais alto que no filme anterior) foi responsável por querermos xingar ao máximo tudo o que faz, pois qual é a mecânica, ficar quieto em silêncio e pronto, mas não ele vai sair xeretando tudo, e vai fazer barulho para que os bichos o ataque, vai esquecer algo, vai se dar mal, e o melhor é que ele faz toda essa patifaria bem, entregando personalidade e chamando a responsabilidade para si, o que é muito bom de ver, mesmo caindo nas tramas de um bom terror, e Emily Blunt colocou o famoso desespero de mãe para jogo, fazendo tudo e mais um pouco com sua Evelyn, criando nuances fortes, indo a lugares complicados na ponta do pé, mas lutando e se expressando com muita imponência em tudo. Já na turma que foi em busca do que achavam ser a solução dos problemas, o destaque icônico ficou para a garotinha que é surda de verdade e não apenas no filme Millicent Simmonds com sua Regan imponente, cheia de atitude, e muito determinada e expressiva nos seus atos, colocando tudo com tanta força explosiva que até chegamos a torcer por ela na trama, ou seja, perfeita, e Cillian Murphy trabalhou seu Emmett com um estilo único, daqueles que já não tem mais valor no que faz por ter perdido toda a família, que leva esporro por não querer ajudar, mas que quando bota a prova mostra que aprendeu e se entrega, ao ponto que vemos o ator com olhares tão desesperados em alguns atos que chega a impressionar, mostrando muito primor e técnica em todos os seus atos. Agora quanto aos demais, não chegaram a aparecer suficientemente para impactar na trama, e desde Djimon Hounson como o mais conhecido ali na ilha, mas sem grandes explicações nem atitudes para chamar atenção, até chegarmos na garotinha infeliz e assustadora Alice Sophie Malyukova no cais apareceram e trabalharam da forma que deu, dando um rápido destaque para o diretor John Krasinski agora como ator, nas primeiras cenas mostrando todo seu ar defensivo para com a filha na cena do bar, que vimos depois acontecer bem no primeiro filme.
Visualmente o longa também é impecável, cheio de detalhes, com rasgos dos monstros aonde quer que olhemos, seja nos trens, seja nas madeiras, em tudo, além disso tivemos o galpão aonde um dos protagonistas viveu durante quase todo o ano escondido, desenhando, cuidando de sua esposa doente, plantando, mas principalmente com um cofre a prova de ruído com uma traquitana bem montada para não travar por fora, o que claro acaba dando errado em determinada cena, tivemos ainda o caixote com oxigênio aonde a protagonista leva seu bebê para não ter barulho de choro, que também sabíamos que daria errado em algum momento, tivemos o trem cheio de mortos e sustos com coisas aparecendo do nada, tivemos a descoberta da garota com seu aparelho de surdez criando uma microfonia monstruosa para os ouvidos dos bichões, tivemos o cais com muitas aparições e detalhes das pessoas que viviam ali, uma ponte lotada de carros abandonados, e claro a ilha da música, aonde praticamente tivemos uma nova civilização, e claro o barco que na hora já tive a certeza que daria muita merda, ou seja, a equipe de arte trabalhou muito no filme, e ainda que não detalhei toda a cidade bonitinha para uma partida de beisebol aonde vemos o começo do caos, com carros, ônibus e tudo mais voando pelos bichões que aqui foram muito mais detalhados, e até lembram um pouco os bichos de "Stranger Things".
Como é um filme aonde qualquer barulho chama os monstrengos, a ausência de som em vários momentos é insana, faz com que parássemos de respirar quase que junto dos protagonistas, qualquer ruído faz parte do ambiente e chama muita atenção, e as trilhas que compõem alguns momentos dão ritmo e vivência para a emoção que a trama pede, ou seja, uma montagem primorosa que envolve tanto que ao sairmos do cinema é até estranho ouvir o barulho de carros e pessoas conversando.
Enfim, certamente era um dos filmes mais esperados de 2020, que acabou sendo um dos mais esperados de 2021 e cumpriu a promessa de não decepcionar em nada, sendo imprescindível ser visto nos cinemas, de modo que fizeram bem de não lançar direto em nenhum streaming, pois é necessário o ambiente fechado, toda a ausência de ruídos, e o envolvimento de ver um filme, afinal em casa pausamos, em casa outras coisas fazem barulhos, e assim a sensação que a trama passa acaba sendo completamente diferente, e como vi numa sala gigante com muita tecnologia sonora, o ambiente acabou ficando perfeito, o filme ficou perfeito, e claro que recomendo demais ver dessa forma. Sendo assim, mesmo ficando um pouco bravo de não termos o final realmente acontecendo (algo que até já sabia por ter escutado em algum lugar, e já estar esperando com o andamento da trama), ainda vou manter a nota máxima, mas daria para roubar um ponto com a decepção disso acontecer, já que queríamos o clímax continuando por mais uma meia hora após tudo o que rola. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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