Caminhos da Memória (Reminiscence)

8/21/2021 02:19:00 AM |

Confesso que quando vi o trailer e o pôster de "Caminhos da Memória" fiquei bem interessado na proposta e imaginava ver algo completamente diferente do que vi hoje na sessão do cinema, não sei dizer exatamente o que esperava ver, mas certamente não era um filme enrolado, meloso e sem ritmo como foi entregue, pois a proposta em si é boa, de uma máquina para que você possa revisitar suas memórias mais íntimas num mundo aonde nada mais tem futuro e o passado é algo nostálgico que você deseja viver, juntando a isso usar a máquina para buscar confissões de criminosos, e claro tentar descobrir aonde foi parar seu amor que evaporou do nada, porém usaram de tantos artifícios para essa proposta, enrolaram com tantas buscas e situações que acredito que nem se fosse uma série enrolariam tanto para entregar o final da forma que foi feita. Ou seja, o filme tem 116 minutos, porém garanto que morei na sala do cinema por quase meio dia de tanta enrolação entregue, sendo um filme muito bonito e interessante visualmente, lembrando bem as investigações dos filmes noir, mas que quiseram tanto transformar a ideia em um clássico (quem sabe daqui alguns anos), que o resultado não empolgou e nem agradou o público que está vendo agora.

O longa nos mostra que Nick Bannister, um investigador particular da mente, navega o mundo sombrio do passado ajudando seus clientes a acessar memórias perdidas. Vivendo nas margens do litoral da Miami submersa, sua vida muda para sempre quando ele aceita uma nova cliente, Mae. Uma questão simples de achados e perdidos se torna uma perigosa obsessão. Ao lutar para descobrir a verdade sobre o desaparecimento de Mae, ele descobre uma conspiração violenta, e terá que responder à pergunta: até onde você iria para manter as pessoas que ama por perto?

Vou ser bem direto ao ponto falando que a diretora e roteirista Lisa Joy dirigiu um episódio da famosíssima série Westworld e já saiu se achando a nova Denis Villeneuve, a J.J. Abrams de saias, e tudo mais, pois foi muito longe na concepção artística entregue, isso é um fato claro, mas ao querer ir além demais do que sua capacidade acabou entregando uma obra mais confusa do que envolvente, e isso é algo que pesa demais sobre os ombros de diretores que gostam de trabalhar com distopias, com futuros abstratos e claro que brincam com passados/memórias, e infelizmente ela não teve essa capacidade em seu primeiro filme, pois tudo é muito artificial, são tantas subtramas paralelas que necessitavam ser trabalhadas para dar alguma funcionalidade, e certamente ao cortar muitos momentos para dar o tempo real de um filme acabou jogando elos subjetivos importantes que realçariam algum bom momento. Ou seja, o filme acabou sendo arrastado para tentar explicar tudo, mas confuso por juntar tantas situações não desenvolvidas, e assim acaba valendo ser visto apenas pelo estilo e pelo visual interessante, mas que certamente iremos esquecer todo o restante depois de ver qualquer outro filme após esse.

Quanto das atuações, temos também um tremendo elenco de estrelas que certamente melhor dirigidas entregariam até mais para o público, pois Hugh Jackman fez seu Nick bem misterioso, propenso a entrar na mente das pessoas e manipular completamente ao seu favor, mas quando tem sua mente dominada por uma mulher acaba caindo facilmente em uma artimanha monstruosa, e o ator fez atos marcantes, trabalhou bem a personalidade necessária para o filme, e até foi estiloso na proposta completa, mas não atingiu nem metade do que sabemos que é capaz, e isso é ruim de ver. Já Rebecca Ferguson de cara já enxergamos que não é o que aparenta, e que cheia de sensualidade vai conseguir fazer qualquer um cair na lábia de sua Mae, e a atriz foi cheia de dinâmicas, cheia de atos amplos bem marcados, e que sabiamente daria para ir até mais além com todo seu mistério, mas ao menos sua cena de fechamento foi muito bem trabalhada, e diria ser até uma das melhores cenas do filme quando se declara para o policial corrupto e o protagonista modifica isso na máquina. E falando do policial corrupto, Cliff Curtis trabalhou seu Boothe de uma maneira muito explosiva, aliás até mais do que o personagem pedia, parecendo estar até drogado demais, mas que certamente foi uma escolha maior, e assim seu personagem mesmo aparecendo pouco teve um contexto bem encaixado na trama. Além desses tivemos como quase coadjuvante master Thandiwe Newton com sua Watts cheia de trejeitos, com seu problema com a bebida, mas companheira de grande nível do protagonista, que até fazem cenas marcantes, mas não temos um grande desenvolvimento dela, e isso acaba sendo ruim de ver. Ainda tivemos outros personagens menores que foram menos aproveitados ainda como o traficante Saint Joe bem criado por Daniel Wu, a promotora vivida por Natalie Martinez que nem é usada direito, a viúva do grande chefão da cidade que ficou bitolada por uma memória só e apenas pensa nisso bem marcada por Marina de Tavira, entre outros bons atores mal usados.

Agora sem dúvida alguma é um longa visual, mostrando uma Miami praticamente inteira submersa pelo oceano, com água para todos os lados e um calor terrível que faz com que as pessoas só saiam as ruas a noite, e claro com esse ar noturno todas as sombras, os letreiros dos clubes, os barcos taxis, e toda a formatação do filme teve um tom noir, incrementando toda a investigação do protagonista com muitos elementos cênicos bem encaixados como armas, drogas, brincos, cartas, muitos ambientes intensos, e claro uma máquina com uma projeção tridimensional incrível, que pode ser acoplada em algo comum bidimensional como na cena da promotoria, ou seja, algo genial que poderia ter sido melhor usado, e que como já disse funcionou para a melhor cena do filme.

Enfim, volto a frisar que não é um filme ruim, pois tem uma proposta bem interessante e um visual incrível que certamente será usado para outros filmes, mas que foi mal dirigido e acabou ficando sem ritmo para agradar quem gosta de longas policiais/investigativos mais intensos. Ou seja, certamente você verá nos sites de críticas mais cults ótimas notas para o longa, verá discussões filosóficas embasadas em toda a profundidade da trama, e tudo mais, mas não posso colaborar com a mesma ideia, pois faltou o principal em um filme que já disse ser entreter, e aqui cansou. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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