Dois + Dois

8/17/2021 01:29:00 AM |

Já disse outras vezes e volto a frisar, se você vai adaptar algum filme já existente, o melhore, pois transformar uma comédia argentina recheada de tabu, que mesmo trabalhando situações embaraçosas fazia rir bastante, em uma novelona com pouquíssima graça usando ainda quase toda a mesma formatação é algo que desaponta demais. Digo isso com um tremendo pesar, pois esperava bem mais do filme nacional "Dois + Dois", tanto pelo bom elenco quanto pela direção de um dos melhores roteiristas de comédia do país, e infelizmente não deu muita liga, pois até temos alguns atos com um certo gracejo, temos algumas tentativas de elementos sensuais, mas se no argentino a pegada era de algo mais travado e cheio de ginga, aqui ficou parecendo como se fosse a coisa mais normal do mundo, além de exagerar nos atos forçados de clichês. Ou seja, faltou comicidade e para isso usaram do exagero, o que geralmente não agrada, e assim sendo até serve para um passatempo bem rápido, mas que infelizmente não vai ser daqueles que você irá feliz rindo sem parar para casa, ao menos não aconteceu isso com as pessoas que estavam na mesma sessão que eu.

O longa acompanha Diogo e Emília, um casal que está junto há 16 anos e que encontra-se em meio a uma fase monótona. Porém, tudo vira de cabeça pra baixo quando eles descobrem que Ricardo e Bettina, seus melhores amigos, possuem um casamento aberto e praticam a troca de casais. Agora, seus amigos tentam convencê-los de que é possível ser feliz levando esse estilo de vida.

Marcelo Saback foi e ainda é um dos melhores roteiristas de comédia do país, isso é fato, e já teve tantos grandes sucessos na telinha quanto na telona, porém resolveu se arriscar em uma área nova e cheia de riscos só que ao invés de pegar um roteiro original seu que certamente teria muito mais chances de funcionar, optou por pegar um longa argentino de sucesso e adaptar para uma versão nacional mais aconchegada digamos assim, pois usa os mesmos moldes, os mesmos personagens, praticamente as mesmas cenas, mas não faz rir como deveria, ficando meio que sem sal e sem atitude, o que é uma pena, pois a síntese da trama também é um tabu por aqui, tem as dinâmicas intensificadas pelo lado duplo, mas não engrena, caindo mais para o lado novelesco dramático, aonde os casais acabam abrindo mais arcos do que agregando, e assim o resultado desaponta um pouco. Claro que está bem longe de muitas comédias novelescas enroladas, pois aqui a dinâmica até flui até próximo ao final, mas não faz rir, e isso é o ponto máximo de falhar em uma comédia, ou seja, poderia ter trabalhado melhor os atos, e adaptar melhor para algo mais chamativo pelo menos, que daria um outro rumo para o filme.

Sobre as atuações, diria que a química entre os protagonistas foi até que boa, não sendo algo que vamos lembrar como sendo as melhores atuações deles, mas ao menos se doaram para os personagens e encaixaram bons trejeitos. Marcelo Serrado costuma entregar personagens com trejeitos forçados, mas aqui seu Diogo tem estilo, tem personalidade e até sai da caixa tradicional com o que faz, mas não empolgou muito suas jogadas ao ponto de dominar o ambiente, o que chega a ser estranho de ver por esperar mais dele. Carol Castro trabalhou sua Emília com ares complexos demais de serem jogados em pouco tempo, pois tem muitas vontades, muitas virtudes e quer tudo para si, e o filme tem menos de duas horas para entregar tudo isso, ao ponto que quando vemos sua virada ficou parecendo que muita coisa foi cortada, e assim ficando estranho de ver. Marcelo Laham trabalhou seu Ricardo com atitude e pontos marcantes nas nuances, o que acaba parecendo estar fora até do eixo do filme, e isso é algo que funcionaria bem numa novela ou em algo com mais tempo, pois seu personagem embora esteja bem envolvido é secundário, e não evolui, o que não é muito normal em um filme. Já Roberta Rodrigues foi completamente para jogo com sua Bettina, não se segurando nem nos atos sensuais nem nos atos de barraco, o que mostra muito mais do que atitude, mas sim vontade de mostrar serviço em cena, e isso é o que falta em muitos filmes, ou seja, fez bons trejeitos e se soltou como o filme pedia, acertando em cheio no papel. Quanto aos demais, diria que é melhor nem comentar, pois é um mais exagerado que o outro, tendo um leve destaque pelo exagero master, e claro, para o clichê máximo feito para Eduardo Martini com seu Marquito, mas fez o que o papel pedia, e assim sendo o problema está no roteiro.

Visualmente o longa tem até que bons momentos, desde uma casa bem grande de classe alta do casal protagonista, um apartamento bem arrumado do casal secundário, uma grandiosa mansão com uma festa bem cheia de pessoas diferentes de todos os estilos possíveis, com figurinos icônicos, uma clínica cardiológica com operações acontecendo sem muito detalhamento, e claro muitas propagandas dos patrocinadores aparecendo em momentos forçados como a marca de camisinhas, a marca de gilete de barbear, o aplicativo de streaming, e por aí vai, que concordo que temos de mostrar os patrocinadores afinal é deles que vem a grana do longa, mas forçar para que fique em evidência é exagero demais. Sendo assim a equipe de arte foi praticamente obrigada a montar cenas desnecessárias como a da farmácia, a do banheiro, a das crianças parando para olhar o celular, e por aí vai, mas de resto usaram bem os elementos cênicos para ao menos ficar bem representativo tudo o que o longa precisava.

Enfim, é um filme que diria recomendar mais o argentino do que o nacional, o que é uma pena, pois estava com esperanças que o diretor fizesse o mesmo que faz com seus roteiros na trama, e não aconteceu, sendo assim quem gostar de algo mais novelesco com alguns atos engraçados até pode ser que curta a trama, mas do contrário é melhor ir para outros rumos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

PS: Usando o nome do filme, vou fazer a piada de duplo sentido e dar a nota 2+2.


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