Bagdá Vive Em Mim (Baghdad In My Shadow)

9/21/2021 01:18:00 AM |

Diria facilmente que a essência do filme suíço "Bagdá Vive Em Mim" fala bem mais do que o que é entregue na tela, pois costumo dizer que um filme quebrado só funciona bem quando tem um fechamento mediano e todo o restante funciona bem ou quando o fechamento é impactante e muda completamente tudo o que os vários pedaços picados não tão grandiosos tentaram passar, e o filme em si fala de tantas vertentes dos migrantes muçulmanos que vivem em Londres e não tiraram suas essências originais como homossexualismo, separação, casamento com pessoas de outros credos, traição familiar, entre outros assuntos, porém não foca nem nisso tudo, nem tenta florear como alguns jovens são facilmente influenciados por religiosos que acabam distorcendo os textos sagrados para algo em seu favor e acaba bagunçando tudo. Ou seja, o filme não é daqueles que vamos sair da sala impressionados com o que vimos, pois é praticamente um fotograma do que vemos em jornais e tudo mais já há muito tempo, mas que certamente poderia ser tão impactante com apenas alguns ajustes na edição, pois tudo seria menos abstrato ou então totalmente poético que agradaria bem mais do que em cima do muro das três formatações.

O longa nos conta as histórias de vida de Taufiq, um escritor fracassado, de Amal, uma arquiteta se escondendo do marido, e do jovem Muhannad, especialista em tecnologia, que se cruzam no Abu Nawas, um café aconchegante e ponto de encontro popular para exilados iraquianos em Londres. Mas Nasseer, sobrinho de Taufiq, instigado pelo pregador de uma mesquita islâmica radical, ataca os amigos de seu tio, que desaprova o conservadorismo, ele acaba transformando a vida de todos os frequentadores do Abu Nawas em um inferno.

O diretor e roteirista Samir até pode ter imaginado que a forma escolhida pela montagem de ser inteiro quebrado para refletir sobre talvez os pensamentos do protagonista em cima de tudo o que aconteceu, como tudo foi acabar virando aquele conflito imenso e tudo mais seja algo bom para seu filme, porém só serviu para mostrar alguns atos várias vezes, precisar ficar indo em alguns momentos para explicações e reverter tudo para algo não muito chamativo para a estrutura narrativa, pois alguns olham para a essência de um filme, acham ela simples demais e resolvem que tudo tem de ser amplo, cheio de nuances e tudo mais, mas não, a simplicidade do tema aqui seria muito mais envolvente, muito mais marcante e até direta no ponto se ele fizesse não necessariamente algo linear, mas sim algo quebrando apenas o ato final e toda a desenvoltura do meio, sem precisar ir, voltar, pegar partes do passado, colocar cada momento de cada personagem, voltar novamente, ir para o interrogatório 20 vezes com o copo de água, e assim ficou parecendo que ele queria mostrar até algo a mais que não foi mostrado, e até cansando o público, tanto que me vi fazendo gestuais toda vez que voltava a cena, e isso é irritante em certo ponto, mas não estragou ao menos a essência do filme.

Sobre as atuações, diria que todos tentaram abrir algumas nuances a mais do que o usual, e com isso pareceram em alguns atos artificiais com o que estavam fazendo, mas nada que estragasse a proposta, e assim sendo conseguimos até nos conectar a eles. Haitham Abdel-Razzaq trouxe para seu Taufiq os envolvimentos poéticos mais amplos, trabalhou olhares nos depoimentos e até foi bem no que tentou passar, mas fez aberturas demais para suas falas, e isso pesou um pouco. Zahraa Ghandour acabou ficando muito recuada com sua Amal, ao ponto que suas cenas do passado em alguns momentos até pareciam ser outra pessoa e outro momento até conectarmos tudo, e ela não se jogou como poderia num primeiro momento, mas de certa forma acabou convincente ao menos, e assim sendo o resultado até que funciona no fim de tudo (mesmo que suas falas finais ficassem ainda mais fora de eixo de tudo). Shervin Alenabi trabalhou seu Nasseer exatamente como acontece com a maioria dos jovens que viram terroristas alienados, pois acabam entrando para aprender mais sobre o Alcorão, e quando veem já estão completamente nas paranoias dos gurus, fazendo coisas que nem eles mesmos seguem, e que acabam sendo tão facilmente manipulados que explodem depois, ou seja, foi muito bem em tudo o que fez, sendo bem representativo. Quanto aos demais, cada um da sua forma tentou aparecer bem na representação colocada, desde o jovem casal gay vivido por Waseem Abbas e Maxim Mehmet, passando pelo adjunto cultural falso vivido por Ali Daim Mailik, até chegarmos nos donos do bar vividos felizmente por Myriam Abbas e Awatef Naeem, e mesmo os oficiais tentaram aparecer um pouco, mas não foram muito além.

Visualmente a trama trabalha alguns elementos alegóricos interessantes, como um café iraquiano comunista, alguns elementos da arquitetura árabe mas sem fluir muito para lado algum, nem mostrar algo de fato, uma mesquita bem simples que nem é mostrado nada exuberante por fora, e por dentro é apenas uma salinha, uma boate gay, uma sala de interrogatório, e algumas casas, além do passado da protagonista como algo mais efetivo realmente e elaborado, ao ponto que se gastaram muito com tudo a equipe abusou, pois é tudo tão simples que nem o maior ambiente acaba sendo chamativo na tela. Ou seja, abusaram tanto para símbolos e fecharam tanto o ângulo cênico que é até capaz que os cortes sejam para ocultar falhas cênicas, mas isso só o diretor para saber realmente.

Enfim, é um filme que passa a mensagem e até funciona mesmo com uma simplicidade mais alegórica, porém muitos vão apenas ver alguns ensejos enquanto outros acabarão até perdidos com a bagunça recortada, mas ainda assim vale a conferida pela proposta completa, e sendo assim vale a indicação. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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