Eis que depois de 8 anos Márcio Garcia volta a dirigir um longa metragem, e mostra que ainda tem técnica, pois o filme tem diversas cenas de carros correndo no melhor estilo "Velozes e Furiosos", inclusive com toda a parada de uma rave no caso aqui um baile funk no meio do tráfico, tem todas as armações clássicas de esquemas de roubos entre roubos, e claro denúncias envolvendo políticos, policiais e um pobre contador (ou melhor auditor) no meio de tudo. E com um roteiro simples, porém bem amarrado, as sacadas funcionam, o plano é bem executado, e toda a dinâmica clássica do estilo se desenvolve, mostrando que a base foi bem feita, algo raro de acontecer em longas desse estilo, e assim sendo mostraram serviço no conteúdo e na execução, faltando bem pouco para ser algo que realmente chamaria a atenção nacional e internacional. E como disse o problema do carisma por um personagem quase chega a transformar a dinâmica toda numa novela, porém felizmente os papeis secundários não criaram tantos vínculos para quererem desenvolver, e assim o formato é realmente cinematográfico, e isso fará com que quem gosta de um longa de ação clássico se divirta ao menos nos 96 minutos da trama. Ou seja, é um filme de ação bem dirigido e roteirizado, mas que não explodiu realmente como poderia, e isso é uma pena.
Sobre as atuações diria que Bruno Gissoni até caiu bem na personalidade de seu Guilherme, mas como disse faltou carisma para o personagem, pois como um protagonista de um filme de ação seus atos necessitariam explodir, ter atitudes, ter desenvolturas, e como ele próprio diz no depoimento para a PF, ele é apenas um nerd, e isso não bastava para o papel principal, afinal seus atos teriam de ir mais além do que é feito, e mesmo suas mudanças não acabam sendo convincentes, ou seja, o ator foi bem no que fez, mas o personagem precisava mais. Monique Alfradique até trabalhou bem a sensualidade que sua Lara precisava, soube encaixar as nuances clássicas para o famoso golpe, e até trabalhou expressões de piedade que fazem qualquer homem cair facilmente numa cilada, mas nos atos de reviravolta faltou um pouco mais de atitude e desenvoltura, o que não é problema dela, mas sim do roteiro, sendo assim fez o que lhe foi mandado e não deu nada a mais que pudesse chamar atenção. Já André Bankoff colocou seu Zulu no ponto máximo da loucura mista entre ciúmes, drogas e desespero, ao ponto que da mesma forma que está super dentro do golpe para ganhar um dinheiro a mais, também fica receoso de perder a esposa, ou seja, joga dos dois lados, mas acabou sendo divertido dentro da proposta e agradou bem. Quanto aos demais, tivemos poucas nuances chamativas, mas vale o destaque de Adriano Garib com seu Tadeu bem investigativo, quase realmente um detetive profissional, e Chico Melo como o traficante Cabeça, que tem ideias de economia melhores que muito profissional da área.
Visualmente o longa tem bons momentos nas festas com carros, tem uma boa perseguição que é mostrada tanto no começo quanto no miolo do filme, uma mansão bem trabalhada no exterior, mas por dentro ficamos apenas numa salinha minúscula cheia de caixas e notas tradicionais de contabilidade, e alguns momentos na casa do protagonista, ou seja, a equipe de arte até trabalhou um pouco por toda a ideia cenográfica das malas na festa dos políticos, mas certamente poderiam ter usado mais os atos de perseguição para dar as nuances de ação com mais intensidade.
Enfim, está longe de ser um filme que muitos vão amar, mas o resultado até é satisfatório e para um estilo que raramente vemos dentro do cinema nacional, ao menos já é uma tentativa de inovar, e quem sabe assim mais diretores criam coragem e botam pra explodir tudo com as ideias malucas que andam pelo país. Sendo assim recomendo a conferida somente fazendo a ressalva de não tentar esperar o carisma surgir do protagonista, pois senão a chance de não curtir é alta. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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