Enquanto Vivo (De Son Vivant) (Peaceful)

11/29/2021 12:31:00 AM |

Tem filmes que parecem tão simples pela ideia, mas acertam tão em cheio no público que o resultado acaba sendo quase um mar de tanta emoção, e para fazer isso atualmente tem quase que um mote fácil de encarar que é o maldito câncer, mas se o diretor não souber aonde atingir, o filme acaba soando frouxo demais. Porém felizmente isso não aconteceu com o longa "Enquanto Vivo", pois souberam tão bem dosar o sentido de presença na vida da pessoa com a ligação de presença de palco, juntamente com o envolvimento toda da perda de alguém querido que chega a ser difícil ver alguém que não tenha ao menos engasgado com algumas lágrimas na projeção do longa, afinal além de um filme belíssimo e cheio de sentimento, o resultado acaba funcionando de uma maneira tão forte e bem desenvolvido que tudo flui, tudo impacta, e principalmente tudo emociona, sendo ao menos na minha opinião, o melhor filme do Festival Varilux de Cinema Francês 2021 até agora, e que com toda certeza recomendarei com muita força para todos.

A sinopse nos conta que um homem é condenado cedo demais por uma doença. O sofrimento de uma mãe diante do inaceitável. A dedicação de um médico e de uma enfermeira para acompanhá-los num caminho impossível. Ao longo das quatro estações de um ano eles terão que lidar com a doença, domesticá-la, e compreender o que significa morrer enquanto vive.

A diretora e roteirista Emmanuelle Bercot não apenas conseguiu captar toda a essência que necessitava para que seu filme comovesse, como também foi aberta a entregas de personalidade dos atores, pois é notável ver que é daquelas tramas aonde o protagonista faz seus atos acontecerem e funciona bem dentro de quase um exercício do que é atuar, do que é viver, e como se conectar com a vida e com as pessoas ao seu redor, o que é também uma grandiosa função do ator, e claro que isso viria de uma ótima atriz, afinal Bercot também continua mais atuando do que dirigindo, e sabe como ninguém como transformar uma estrutura narrativa em algo bonito e envolvente. Ou seja, vemos um filme aonde a doença é o tema que derruba, mas sem todo o envolvimento familiar, o passar a lição de como sentir, e toda a dinâmica de abertura bem colocada acaba fluindo como as lágrimas na cara de todos da sessão, pois se a pessoa não se emocionar com pelo menos uns dois atos da trama pode dizer que o coração é ultra gelado, e assim sendo podemos dizer que a diretora encontrou o estilo que faltava para ser marcante na carreira por trás das câmeras, e se investir nesse formato vai muito longe.

Quanto das atuações, Benoît Magimel literalmente deu um show de personalidade com seu Benjamin, trabalhando desde o envolvimento clássico de um professor de atores que tenta passar todo o sentimento de perda para seus alunos, até todo o sofrimento com sua doença acamado, sentindo tudo e passando com olhares e trejeitos perfeitos cada momento seu, ao ponto de estarmos tão conectados com tudo que a vontade é aplaudir ele ao final, mas é mais fácil secar as lágrimas. Catherine Deneuve também foi muito precisa com sua Crystal, passando toda a essência de uma mãe superprotetora, e acompanhando todos os momentos de dor de seu filho, passando a interpretação com um luxo tão preciso que chama atenção demais, e dominando claro suas cenas com muita personificação. Gabriel A. Sara foi incrível com seu Dr. Eddé, sendo daqueles médicos que dá vontade de abraçar por toda a desenvoltura, todo o carinho para com os pacientes, e principalmente pelo envolvimento que passa, e sabemos bem que existem vários assim nos hospitais do câncer, e o ator soube entregar uma homenagem lindíssima para todos. Cécile de France trabalhou sua Eugénie com muita sinceridade nos atos, demonstrou seus sentimentos, e principalmente não quis mentir para o protagonista, dando para ele algumas felicidades e envolvimentos, indo até além do possível em alguns momentos o que deve revoltar um pouco algumas enfermeiras que forem conferir o longa, mas no modo ficcional foi bem no que fez. Quanto aos demais, diria que Lou Lampros trabalhou sua Lolla como o protagonista diz de paixão de aluna por professor, mas emocionou bem na sua atuação dentro da atuação, o que foi bacana de ver, já Oscar Morgan acabou sendo mais revoltante com as cenas de seu Léandre por não ir logo falar com o pai, mas isso não é do ator, e ao menos fez bem no final cantando de forma bem emocionante.

Visualmente a trama praticamente se concentra no hospital com cenas bem marcantes de transfusões, de quimioterapia e claro muitas com o protagonista deitado apenas na cama, e também num teatro aonde o protagonista ensaia seus alunos para passarem num concurso de um conservatório, e nesse entremeio temos todo o desenvolvimento de ambos os momentos para passar o símbolo principal de presença, tendo toda a discussão entre médicos e enfermeiras nos começos das estações, com música motivacional no fechamento de cada sessão e toda a representatividade de cada época nas sensações do protagonista, e assim mesmo não sendo algo muito desenvolvido, tudo é bem encaixado e chama a atenção do público para a intensidade dos atos bem dialogados, ou seja, tudo funciona bem e emociona mais ainda.

Enfim é daqueles longas que parecia inicialmente ser bem básico e direto, mas que abrange tanto envolvimento e emoção que não tem como não ficar na mente cada detalhe mostrado, e como já disse antes vá preparado com um lencinho, pois vai precisar, afinal é um longa bem bonito, inteligente e que funciona demais, valendo demais a recomendação para todos. Bem é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos do Varilux, então abraços e até logo mais.


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