terça-feira, 2 de novembro de 2021

Marighella

Tinha apenas a certeza de que veria um filme bem imponente sobre a época da ditadura com "Marighella", porém a intensidade das cenas de tortura, do envolvimento dos personagens e até mesmo de ver como eram as ações truculentas da polícia (que não mudou muita coisa nesses quase 60 anos) acabam mostrando um filme intenso de ideias, bem elaborado de uma forma representativa, e que consegue servir não só como entretenimento, mas sim como algo que futuramente possa ser usado em aulas sobre a época, pois a estreia de Wagner Moura na direção foi algo tão preciso de essência, tão marcante de realismo e contando com tantas boas desenvolturas que o resultado acaba indo até além do que apenas pensaram em fazer, sendo daqueles filmes que você vê com uma agonia monstruosa, que sai pensando em tudo o que viu, e que não entrando em detalhes politizados, conseguiu expor bem tudo o que os grupos faziam na época em ambos os lados. Claro que muitos nem irão conferir a trama (aqueles que falam que não existiu ditadura no Brasil, não teve censura e tudo mais), mas o filme não foi feito para eles, então o público-alvo que são aqueles que sabem como foi por diversos meios, que se envolvem com tudo conseguirão ver até mais do que apenas um filme, mas sim algo explosivo e colocando até uma faísca a mais nas suas discussões, pois o que é mostrado é a ideia, e também aonde erraram cada um dos personagens, sendo bem reflexivo nesse sentido também.

O longa conta a história dos últimos anos de Carlos Marighella, guerrilheiro que liderou um dos maiores movimentos de resistência contra a ditadura militar no Brasil, na década de 1960. Comandando um grupo de jovens guerrilheiros, Marighella tenta divulgar sua luta contra a ditadura para o povo brasileiro, mas a censura descredita a revolução. Seu principal opositor é Lucio, policial que o rotula de inimigo público nº 1. Quando o cerco se fecha, o próprio Marighella é emboscado e morto – mas seus ideais sobrevivem nas ações dos jovens guerrilheiros, que persistem na revolução.

Diria que em sua primeira empreitada como diretor, Wagner Moura foi muito bem tanto na escolha de que tema pegar para discutir, quanto na execução dramática trabalhada, pois o filme tem uma pegada bem no estilo que ele costuma trabalhar, sendo centrado, direto e bem impactante na formatação, porém diria que foi um pouco afobado demais, tanto que temos diversas câmeras correndo chacoalhando, diversas situações marcadas por muitos personagens reunidos sem que saibamos quem é quem (talvez quem for mais estudioso sobre o tema até possa saber, mas mais da metade em cena tirando os protagonistas nem o nome é dito), e assim o resultado funciona bem como algo histórico, que tem um certo estilo bem trabalhado, e que resulta numa sessão tensa e forte de ver por todo o ambiente e a forma expressa nela, mas que certamente poderia ser ainda melhor montado para impactar e funcionar ainda mais. Ou seja, vemos um trabalho único e bem colocado, aonde o tema foi bem desenvolvido, cheio de nuances claras e fortes para que não ficasse cansativo e ainda fosse representativo de classe, e assim tudo envolve demais, principalmente claro o público-alvo, mostrando que o diretor certamente vai se dar muito bem nessa função também, já que como ator sempre o vimos como um dos melhores nacionais.

Sobre as atuações, muito foi discutido antes do lançamento se Carlos Marighella era negro para a escolha de Seu Jorge, mas independente de como foi o personagem real, o ator entregou algo tão forte, tão cheio de olhares e nuances que acabamos nos apaixonando pelo estilo que ele empregou para o papel, fazendo com que suas cenas fossem marcantes e tão bem expressivas que acabaremos lembrando quem foi o personagem sob essa ótica, e isso mostra o quão bom ator ele por conseguir marcar demais. Outro que foi muito bem, agora do outro lado foi Bruno Gagliasso com seu Lúcio imponente em nível máximo, mostrando não só a truculência da polícia da época, mas também os desejos desse grupo, e que trabalhando olhares, imposições fortes nos diálogos e muita explosão cênica corporal acabou indo até além demais, sendo daqueles vilões de filmes que o público certamente irá odiar, mas que o acerto acaba sendo preciso demais com isso. Luiz Carlos Vasconcelos entregou para seu Almir/Branco toda a sintonia de palavras bem ditas e colocadas, fazendo atos de imposição mais diretos, mas ainda assim bem colocados em cada cena. Ainda tivemos grandes momentos marcantes com as atuações de Jorge Paz com seu Jorge, um pai de família que tem um fechamento fortíssimo entre outras boas cenas no miolo, Humberto Carrão muito bem caracterizado com seu Humberto completamente maluco e forte em todas suas cenas, Herson Capri entregando o dono do jornal Jorge Salles com momentos simples porém bem efetivos para a trama e Henrique Vieira trabalhando boas nuances emotivas com seu Frei Henrique determinado e claro tentando a paz na conexão de tudo. Quanto das mulheres, tivemos Adriana Esteves fazendo uma Clara preocupada com o marido, trabalhando um envolvimento bem marcante e dando boa síntese para a personagem, mas o destaque mesmo ficou para a explosão e determinação de Bella Camero com sua Bela, que se quiserem seguir a linha até dá para criar uma continuação do filme com sua cena final marcante, mas todo o miolo foi bem representativo. 

Visualmente o longa foi uma construção de época incrível, com muitos carros da época, figurinos, todos os detalhes das casas da época, vários momentos mostrando os locais de encontro do grupo como uma igreja, galpões, estacionamentos, tudo muito representativo, além claro de muitas armas que contaram com vários tiroteios em ruas, prédios e tudo mais, mas sem dúvida os momentos de tortura nas cenas finais mostrando os choques e o famoso pau de arara, além claro de muitos espancamentos resultaram em algo extremamente forte que chega a dar até algo no estômago, ou seja, a equipe de arte trabalhou minuciosamente bem para agradar e entregar algo perfeito nas telas.

Enfim, é um filme para ver, para sentir e refletir, e que entrega muita personalidade tanto na direção quanto nas atuações, sendo daquelas obras que todos deveriam ver, mas que muitos vão preferir ignorar, e assim sendo indico ele com toda certeza do mundo, pois mesmo tendo alguns leves defeitos de execução, o resultado completo é impressionante e faz valer cada minuto de tela. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais. 


2 comentários:

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  2. Olá amigo, antes de mais nada eu analiso filmes, não ideologias, então se fosse assim não poderia dar nota alta para nenhum caso real de filmes americanos e europeus... e segundo se você quer criar um textão com sua ideologia, se identifique e não fique anônimo, então infelizmente seu textão está sendo apagado do site! Abraços!

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