Amazon Prime Video - Apresentando os Ricardos (Being The Ricardos)

12/23/2021 08:42:00 PM |

Confesso que já ouvi algumas vezes falar sobre o sitcom "I Love Lucy", mas nunca tinha nem visto nenhum pedaço do programa ou me interessado sobre a trama, muito menos sobre os atores/personagens dela, mas com as diversas premiações e indicações surgindo do longa da Amazon, "Apresentando os Ricardos", eis que fui pesquisar sobre e achei até que interessante tudo o que rolou e o que acaba sendo mostrado com muito realismo no filme, afinal usaram bastante os depoimentos dos produtores e roteiristas do sitcom, inclusive os representando com atores como se estivessem contando como tudo rolou, o que deu um tom meio que documental para a ficção de Aaron Sorkin. Ou seja, é um filme com as características clássicas de filmes de festivais, e por isso tanto tem aparecido nas indicações agora, porém quem não curte muito filmes de bastidores ainda mais sobre os anos 50/60, irá cansar um pouco com toda a dramaticidade da trama, porém a trama é bem interessante, vemos bem o ar conflitivo de se trabalhar com o marido, de ser casado com um latino na época e claro toda a nuance contra o comunismo na época, mas a cena de fechamento é bem emocionante, e faz o mérito de todas as indicações dos protagonistas.

A sinopse nos conta que Lucille Ball e Desi Arnaz se casaram em 1940 e viram sua fama decolar após estrearem uma das mais memoráveis sitcoms americanas chamada “I Love Lucy”. Entretanto, quando tudo parecia estar indo bem, os dois são envolvidos em uma trama de acusações chocantes que ameaçam sua vida pessoal e profissional. Ao longo da semana mais tensa de gravações, o relacionamento complexo dos dois será posto à prova, enquanto algumas verdades vêm à tona.

O diretor e roteirista Aaron Sorkin tem um estilo bem fechado em suas tramas, com roteiros com diálogos imponentes e situações bem clássicas, e aqui ao trabalhar uma história real, que muitos nunca souberam, mas que se der uma pesquisada vão descobrir bem, entrega uma personificação bem marcante dos bastidores dos sitcons, com todos os ensaios, preparações de roteiros, e claro o desenvolvimento para a plateia e gravações, aonde patrocinadores opinavam, diretores não tão amigáveis surgiam, e claro muitos atores se estressavam com alguns surtos de estrelas de outros, ao ponto que vemos algo bem marcante e com estilo, aonde tudo é bem pautado e interessante pela forma mostrada, não ficando tão preso somente nos atos da semana caótica, mas relembrando como tudo começou, como os protagonistas se conheceram, e todo o desenrolar de vários conflitos, de forma que tudo fica bem conciso e diferenciado, pois como disse ele conseguiu usar de um estilo aparentemente documental, mas bem dentro da ficção, aonde os ótimos artistas conseguiram causar e envolver numa trama de época, mas que facilmente veríamos acontecer nos dias atuais, pois muita coisa não mudou nesse mundo do teatro/TV e claro com artistas sempre envolvidos em confusões. Ou seja, Sorkin não brilha tanto como fez com o seu longa anterior, pois "Os Sete de Chicago" era daqueles filmes que a emoção toma conta do público, porém aqui ele trabalha a emoção dentro do set e assim acabou ficando bem funcional e interessante de ver.

E como foi necessário a expressividade por parte dos atores, é claro que não erraram nem um pouco nas escolhas, pois tanto Nicole Kidman quanto Javier Bardem se entregaram em trejeitos bem colocados, desenvolveram bem as atitudes e personificações de seus personagens, e acabaram aparecendo e roubando toda a cena, tanto que se eu falar que vou lembrar de qualquer outro ator em cena, vou estar mentindo, ou melhor, J.K. Simmons e Nina Aranda também vamos lembrar um pouco. Dito isso, vamos falar um pouco de cada um, pois merecem, e começando claro por Nicole Kidman totalmente diferente com uma maquiagem incrível que nem pareceu nenhum de seus papeis anteriores, sendo uma grata surpresa visual quanto expressiva, pois a atriz fez uma Lucille marcante, cheia de nuances, e que se usaram as imagens de arquivo reais nas cenas em preto e branco do seriado, ficou idêntica demais, ou seja, um acerto incrível que certamente lhe garantirá vaga em todas as premiações. Javier Bardem é sempre marcante também em personagens amplos, e aqui seu Desi é daqueles que tem presença, tem força visual, e tem dinâmica para segurar um ato, ao ponto que não chega a perder nenhuma cena para Kidman, e juntos dão show, e principalmente sua cena final é daquelas para emocionar e ficar na memória. J.K. Simmons entregou muita personalidade também para seu William, estando presente e fazendo presença cênica em todos seus atos fortes, mas sendo daqueles que encaixam bem e levantam os parceiros de cena, o que é bem bacana de ver. Nina Aranda trabalhou incrivelmente bem com sua Vivian, mostrando as famosas rixas femininas nos bastidores, criando uma personagem forte e marcante e agradando demais em todas as dinâmicas junto da protagonista, sendo bem interessante ver seus atos. Quanto aos demais, valem a citação para Tony Hale como Jess Oppenheimer e Alia Shawkat como Madelyn Pugh, ambos roteiristas e produtores do seriado que o filme mostra, encaixando bem nos atos marcantes.

Visualmente a trama foi bem representativa de época, brincou bem com as reuniões com os patrocinadores, diretores e afins, mostrou o estúdio incrível misturando plateia e câmeras, toda a desenvoltura de gravações, os ambientes dos programas de rádio, TV e cinema da época, e claro os shows do protagonista num bar caribenho cheio de envolvimento, aonde a equipe cênica brincou com cabelos, figurinos, detalhes, e muito mais, principalmente na discussão de como deveria ser a famosa cena da mesa do capítulo da semana, que foi muito bem trabalhada. Ou seja, foi uma retratação cênica marcante, e cheia de símbolos, que funciona e certamente vai ser lembrada também nas premiações.

Enfim, não é uma obra de arte daquelas impressionantes e muito menos é um filme que muitos vão curtir, afinal é algo mais característico de pessoas que gostam de bastidores, que querem saber de brigas e conflitos, e que dramatiza demais nos diálogos para representar bem isso, ao ponto que ficamos vendo tudo e pensando na época, em todo o desenvolvimento que a TV teve nesses muitos anos, e claro como a política e os patrocinadores influenciavam e ainda influenciam em tudo nesse meio, e assim quem não for muito ligado nesse estilo acabará achando o filme meio que chato, mas é uma tremenda representação e vale muito a conferida, principalmente se você acompanha as premiações do cinema, e que verá o filme ser muito citado nelas. Assim sendo fica a dica, e eu fico por aqui, dando uma descansada agora no feriado, mas volto depois com mais textos, então abraços e até logo mais.


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