A diretora e roteirista Jane Campion andou bem sumida das telonas (12 anos desde "O Brilho de Uma Paixão"), mas voltou mostrando que ainda tem muita força de conteúdo, e principalmente que sabe como surpreender o espectador com suas sacadas embutidas em atos que nem mesmo conseguimos imaginar acontecer, pois acaba nos pegando desprevenidos nos momentos menos sutis, faz com que o público não canse mesmo em um longa mais lento, e principalmente entrega estilo próprio, pois se olharmos o roteiro a fundo veríamos ao menos mais duas possibilidades diferentes de como contar a história, e a escolhida pela diretora foi tão clássica, tão formatada para festivais e tão impactante para ser discutida, que dificilmente vai ser não ver todas as indicações acontecendo nas premiações, e claro que a Netflix vai investir pesado, afinal é o que mais tem chances de explodir. Aliás o roteiro é uma adaptação do livro de Thomas Savage, e mesmo o filme trabalhando de forma capitular não ficou tão forçado de viradas de páginas, o que é bacana de sentir na forma que a diretora escolheu para entregar o longa.
Agora sobre as atuações, já faz muito tempo que Benedict Cumberbatch vem mostrando um papel melhor que o outro, mas aqui seu Phil é daqueles que você fica com ódio, fica com raiva e muitos outros sentimentos pelo que faz em cena, sendo impactante de trejeitos, trabalhando força nos diálogos sem explodir totalmente, e claro interagindo com muita dinâmica entre todos do ambiente, ao ponto que funciona demais, e agrada demais, sendo com certeza cotado para todos os prêmios da temporada, pelo menos na indicação, mas com certeza deve ganhar muitos também. Kodi Smit-McPhee também entregou um Peter cheio de desenvolturas, com trejeitos bem sutis e marcantes, sabendo pontuar exatamente em cada ato para chamar atenção e conforme seu personagem vai crescendo na trama, o ator vai se soltando mais ainda para algo ainda melhor de ser finalizado, ou seja, um tremendo ator coadjuvante para ser lembrado. Kirsten Dunst trabalhou sua Rose no ponto máximo da curva de ficar exagerada e estar perfeita, combinando álcool com loucura em pleníssimo estado de força, chamando demais atenção para sua personagem, e acertando em cheio na maioria dos atos. Ainda tivemos Jesse Plemons num papel até que gracioso com seu George, mas ficou muito em segundo plano e não teve tanto impacto expressivo na trama, então não foi muito além do que precisava nas conexões da trama.
Visualmente o filme tem muitos elementos cênicos importantes, desde objetos ocultos no cantinho do protagonista no meio da floresta, as diversas cenas nos lagos tanto do protagonista como dos figurantes todos de forma bem emblemática, toda a nuance da casa cheia de elementos escuros, mas determinantes para chamar atenção em cada ato seja tocando o piano e o banjo, seja bebendo em todos os cantos da casa, todo o envolvimento do castração dos animais, das peles, uma ótima cena num campo todo amarelo contrastando com o sangue, as operações nos animais, e principalmente o feitio da corda de couro numa cena brilhante no celeiro aonde tudo é muito referencial e chamativo, ou seja, a equipe de arte comeu o livro e entendeu cada detalhe que deveria ser impactado na trama, e acertou em cheio.
Enfim, é daqueles filmes marcantes, fortes e cheios de personalidade, que quem ama um bom drama vai se deliciar do começo ao fim nem vendo ele passar, e olha que o ritmo é bem lento e pontual, para que seja esmiuçado e cheio de desenvolvimentos para irmos montando o quebra-cabeça completo, afinal a trama tem muita crítica e muito sentido, o que faz ele ser chamativo demais para as premiações. Ou seja, recomendo muito o longa, mas deixo a ressalva que se você não é fã de dramas mais lentos é melhor fugir, pois não vai ser o seu estilo de filme. Bem é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.
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