Telecine Play - O Pintassilgo (The Goldfinch)

12/28/2021 01:01:00 AM |

O conceito de colocarmos filmes nas nossas listas dos aplicativos de streaming é engraçado demais, pois acabamos vendo alguns em trailers ou então nos lançamentos que queremos ver, e depois acabamos esquecendo que eles estão por lá, e com "O Pintassilgo" rolou algo até pior, pois quando foi lançado nos cinemas lá no fim de 2019, vi o trailer, o pôster e me interessei muito pelo que a trama entregava, mas como é de praxe, filmes intermediários que não caem nem para o lado artístico nem comercial direto acabam não aparecendo nos cinemas do interior, e com isso acabei esquecendo dele, mas eis que depois que assinei a plataforma do Telecine Play vi que tinha lá, mas era um pouco longo e apenas coloquei na minha lista de filmes que desejava ver, e novamente esqueci dele lá, mas hoje senti que precisava conferir a trama, e vi exatamente o que senti quando vi o trailer há mais de dois anos, que é a beleza de entender a moral da vida, do que vai ficar marcado, pois nós vivemos e morremos, entramos e saímos de empresas, mas a essência que deixamos nesses lugares serão sempre lembrados pelas pessoas as quais passamos algo, todos verão um detalhe marcante ou bom seu mesmo que através de algo ruim que tenha acontecido, e a trama trabalha bem esse fundo usando de um desastre, seguido de um roubo, de um envolvimento, muitas drogas e tudo mais para chegarmos num final marcante e certeiro, que pode até não ser um filme que muitos vão se apaixonar, mas que vale pela mensagem em si, e tendo um estilo imponente e ótimas atuações, o resultado acaba impressionando bastante.

A sinopse nos conta que um atentado terrorista no Metropolitan Museum of Art, em Nova York, modifica para sempre a vida do jovem Theodore Decker. Além de sua mãe falecer no evento, ele é incentivado por um desconhecido a levar consigo um quadro lá exposto, O Pintassilgo, além de um anel com o brasão de sua família. Nos dias seguintes Theo recebe o abrigo da Sra. Barbour e, ao pesquisar sobre o brasão, conhece Hobie, um vendedor de antiguidades que agora é o tutor de Pippa, filha do homem desconhecido, que também estava no museu no momento do atentado. Tal encontro modifica para sempre a vida do garoto, seja por seu interesse no mercado de antiguidades ou mesmo pela paixão que nutre pela jovem.

O diretor John Crowley conseguiu trabalhar o roteiro que lhe foi dado com uma coerência tão marcante, não necessitando capitular ou criar o famoso folhear de páginas de um livro para que a adaptação funcionasse e ainda passasse a mensagem clara e marcante com uma simplicidade precisa de estilos, pois o filme poderia ir por tantos caminhos, que nem sei se a forma que foi montada é realmente igual à do livro, mas acabou sendo impactante por trabalhar bem a essência, desenvolver bem os personagens  principais tanto na versão criança quanto na versão adulta, e ainda teve espaço para as surpresas dentro dos devidos pontos de virada, ou seja, foi funcional e objetivo, de uma forma que muito longa dramático não consegue fluir, tendo um único ponto que poderia ter sido melhorado que é a revelação final, pois ficou parecendo algo corrido e jogado, e não algo que certamente poderia emocionar e marcar, mas que felizmente não estragou todo o restante.

Sobre as atuações, o jovem Oakes Fegley foi muito perfeito na versão infantil de Theo, trabalhando olhares e trejeitos fortes e marcantes, sabendo encontrar as dinâmicas bem claras para cada ato que a câmera lhe seguia, e principalmente sabendo emocionar nos atos que foram necessários ter dinamismo, pois muitos garotinhos certamente só iriam fazer as cenas, mas ele nos fez querer saber quem é ele, e isso mostra a marca, e mostra um crescimento absurdo, pois em 2016 reclamei muito do que ele fez, de faltar carisma em sua atuação, e aqui ele foi perfeito. Ainda falando o time de jovens, Finn Wolfhard já é extremamente amado por seus fãs, e facilmente o filme foi visto por muitos pela sua presença, afinal o ator tem se destacado bastante em tudo o que vem fazendo, e aqui seu Boris não é diferente, cheio de carisma, e mesmo sendo um personagem problemático por tudo o que vive, conseguiu ter uma essência incrível e cenas perfeitas agradando demais em olhares, trejeitos e tudo mais, principalmente por ser apenas dirigido, afinal é um adolescente e certamente nunca experimentou todas as drogas que seu personagem usa, ou seja, deu show. Já passando para os adultos, Ansel Elgort trabalhou muito bem a desenvoltura de um Theo que cresceu problemático por tudo o que passou, e o ator soube dosar isso com trejeitos em cima das drogas, fazendo intenções marcantes em cada situação, e criando uma personalidade bem íntegra para uma pessoa que não é tão íntegra assim, agradando bastante mesmo não tendo tantas cenas. Nicole Kidman pode aparecer dez minutos em um filme que vai chamar atenção e aqui sua Sra. Barbour é impecável em ambos os atos, a maquiagem não carregou tanto com o passar dos anos da trama, e o resultado é daqueles para sentir sua atuação em cada momento da trama, dando uma aula de atuação realmente. Outro que caiu muito bem no papel foi Jeffrey Wright com seu Hobie bem centrado e claro representante máximo de toda a síntese moral que o filme passa, trabalhando suas cenas com muita serenidade e envolvimento, agradando demais do começo ao fim. Ainda tivemos muitos outros personagens rápidos como o pai do garoto vivido por Luke Wilson, a bela garotinha vivida por Aimee Laurence ou até mesmo Ryan Foust como o pequenino Andy, mas sem dúvida o chamariz dentre os demais fica para as cenas finais de Aneurin Barnard fazendo Boris em sua versão adulta bem marcante.

Visualmente o longa brinca bastante com o conceito de antiguidades, de arte, de drogas, vida e muito mais, usando o lar riquíssimo dos Barbour que o jovem enxerga como tudo muito morto e sem vida, mas que na oficina de Hobie parece estar nascendo com vida em suas composições, mostra bem como são feitas restaurações e réplicas de obras de arte, trabalha lugares sem vida aonde ninguém mora mais como o deserto aonde o garotinho vai viver na casa do pai, mostra o famoso meio de vida de muitos ex-atores no meio de apostas e dívidas, e claro envolve todo o ambiente da viagem, da separação familiar em vários cenários, o que demonstrou um bom estudo da equipe de arte e claro da fotografia para brincar com cores quentes e vivas versus cores mortas, e assim chamar bastante atenção no tom de cada momento do longa.

Enfim, é um longa bem interessante e envolvente, que até superou as expectativas que tinha dele, só sendo uma pena que não vi na época certa nos cinemas, pois a intensidade certamente seria maior, e assim recomendo ele para todos que ainda não viram, pois a mensagem pode servir para mais pessoas. Bem é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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