Spencer

1/29/2022 02:09:00 AM |

Sinceramente não sei se eu esperava algo a mais por falarem tanto de "Spencer" na época que seria lançado lá em novembro do ano passado, ou se realmente o diretor exagerou tanto nas considerações que falavam que Diana tinha ficado maluca após a traição de Charles e de toda a pressão da realeza que o filme acabou ficando como é dito no começo uma fábula de algo trágico muito forçado para algo que não víamos ao menos sob os holofotes da mulher forte que foi. Ou seja, não digo que o que vi foi um filme ruim, muito pelo contrário, é um tremendo filme artístico com uma imponência perfeita e cheia de nuances marcantes, mas que para alguém que está acostumado com biografias docinhas e de homenagens para os protagonistas, aqui basicamente jogaram ela como uma maluca que odiava a realeza e que estava surtada no Natal da família, o que ficou sendo abstrato, exagerado e meio que fora da base comum, mas que contando com tanta técnica, tanto envolvimento de persuasão, e uma grandeza cênica bem marcante, acaba até chamando bastante atenção, porém acredito que Diana merecia algo melhor.

O longa narra o que poderia ter acontecido nos últimos dias do casamento da princesa Diana com o príncipe Charles. O casamento da princesa Diana e do príncipe Charles há muito esfriou. E embora haja muitos rumores de casos e de divórcio, a paz foi ordenada para as festividades de Natal no Queen’s Sandringham, a casa de campo da Família Real. O evento é repleto de comida e bebida, tiro e caça. Diana conhece as regras do jogo de aparências. Mas este ano, as coisas serão muito diferentes.

Diria que o estilo do diretor Pablo Larraín é daqueles que abrem bem diversos vértices, pois já vimos ele dar nuances há duas grandes biografias, e foi marcante na forma que acabou entregando, então confesso que fui esperando algo muito mais próximo de "Jackie", ou até mesmo a intensidade de "No", e acabou não acontecendo, pois acredito que o roteiro de Steven Knight foi exagerado para um lado muito mais maçante do que trabalhado em nuances, fazendo com que nem nos conectássemos à protagonista por tudo o que está passando, nem na sua possível loucura em cima da outra rainha que foi abandonada, ficando um misto de histórias, de problemas reais e imaginários, e recaindo para algo que nem o diretor provavelmente desejava, nem para algo clássico. Ou seja, é um bom filme, é uma obra épica, porém florearam demais em algo fantasioso e abstrato, e menos em algo biográfico, o que é um pecado para a "homenageada".

Quanto das atuações, já é fato que Kristen Stewart mudou completamente da água para o vinho e cada vez mais tem entregue atuações precisas e incríveis, e aqui sua Diana é incrível, cheia de nuances, com personalidade, com vida própria e principalmente sendo um bom reflexo de tudo o que o filme precisava, além de que com uma maquiagem perfeita ficou muito parecida com a Diana verdadeira (tirando algumas cenas que praticamente esqueceram a maquiagem e ficou outra pessoa - por exemplo na cena que está brincando com os filhos a luz de velas), e assim se doou demais e acertou demais em tudo, e soou bem maluca, bem surtada e desesperada com tudo o que tinha para fazer. Timothy Spall acabou entregando um Major Gregory meio estranho, com uma imposição forte e cheia de trejeitos que até chega a assustar, e nem estamos falando de um filme de terror, mas conseguiu florear bem os pensamentos da protagonista, e seguiu resistindo brilhantemente com olhares secos e bem colocados. Outra que caiu muito bem no papel foi Sally Hawkins com sua Maggie, entregando a camareira e amiga da protagonista, Maggie, conseguiu ser singela e ao mesmo tempo bem colocada, deu um ar alegre para as cenas finais, e ainda soube dosar seus trejeitos para não parecer forçada, o que agradou bem em tudo. Quanto os demais, tenho de dar destaque para a grande semelhança das crianças Jack Nielen e Freddie Spry com seus William e Harry, a postura firme e bem direta de Jack Farthing com seu Charles, e até alguns atos marcantes de Stella Gonet com sua rainha, além claro das cenas fortes de Amy Manson com sua Anne Boleyn, ou seja, um elenco de apoio bem marcante e interessante, que deram os vértices para que a protagonista se destacasse.

Visualmente não filmaram na fazenda real, mas conseguiram reproduzir tudo tão bem, todo o movimento de uma cozinha real, dos ambientes preparados para receber a realeza num Natal, as caçadas, a desenvoltura dos ambientes duros para uma mulher sofrendo, além de muita ambientação cênica na antiga casa de Diana, com situações vividas ali misturadas com o sonho de terror dela com o livro da antiga rainha, ou seja, a equipe de cenografia trabalhou demais, e junto com uma equipe precisa de figurinos imponentes trabalhando diversos vestidos para cada momento do dia (mostrando que a pessoa não fazia outra coisa a não ser comer e trocar de roupa, comer de novo, outra roupa, e assim sucessivamente), além claro duma maquiagem bem precisa para representar bem todos os personagens e funcionar na medida certa com isso, tirando algumas falhas espaçadas.

Nem vou falar muito da trilha sonora, pois certamente foi ela que ficou tocando durante toda a filmagem para deixar a personagem maluca, pois é daquelas entonações de cordas que marcam o tempo inteiro, e chega até a cansar.

Enfim, é um bom filme, mas que poderia ser um longa incrível daqueles memoráveis sobre os momentos finais de Diana na realeza, criando algo talvez mais realista e menos maluco, ao ponto que o escrito no começo entrega bem a ideia de fábula, mas esperávamos algo muito mais próximo ao real, o que não aconteceu. Sendo assim, até recomendo o filme com muitas ressalvas, a principal é que não vá esperando ver algo que aconteceu realmente, pois tirando essa ideia da cabeça é capaz até que curta um pouco mais com toda a alegoria. Bem é isso pessoal, eu fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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