Exorcismo Sagrado (The Exorcism Of God)

2/12/2022 02:24:00 AM |

Costumo dizer que a maioria dos filmes de exorcismo que andaram sendo lançados foram bem mais puxados para o ar cômico do que realmente para um terror tenso, e a culpa nem é tanto das histórias, pois sempre é colocado um demônio interessante, muitas torções de corpo, vômitos e tudo mais, mas faltava aquele elo de dar medo, de ficarmos pensando nas possibilidades que tinha ao redor, e finalmente posso dizer que hoje com "Exorcismo Sagrado" vi algo que diria ser bem completo de estilo, com cenas bem intensas (poderia dar um pouco mais de medo, mas isso não chega a atrapalhar), e principalmente com uma história que envolvesse mais pilares ao redor de tudo do que apenas uma pessoa, o que acabava sendo apenas uma salvação meio que tosca na maioria dos casos, o que não acontece aqui, pois aqui colocaram toda a santidade em jogo, um demônio que joga muito bem, e uma locação de possessão bem trabalhada para tudo o que ocorre. Ou seja, é o famoso pacote completo que ainda fizeram as devidas homenagens para os clássicos do estilo, brincaram com um teor sexual forte, enfiaram vários pecados no meio, e ainda sobrou espaço para deixar uma continuação, então agora é aguardar se vão ter coragem de ir além e acertar ainda mais com tudo, mas já vale a conferida só pelas cenas nas paredes.

A sinopse nos conta que ao ser possuído durante um ritual de exorcismo, o padre Peter Williams acabou cometendo um terrível sacrilégio. Dezoito anos depois, as consequências de seu pecado voltam para assombrá-lo e acabam desencadeando uma batalha ainda maior entre o bem e o mal.

Diria facilmente que o diretor e roteirista Alejandro Hidalgo em seu segundo longa soube ser ousado sem soar apelativo dentro do estilo, e que conseguiu brincar com todos os elementos clássicos trazendo uma certa modernidade para um filme de exorcismo, ao ponto que a trama tem uma pegada mais séria, e também se deixa levar dentro de toda a insanidade que é o gênero de possessão. Claro que o filme poderia causar mais e assustar menos, que é aquele caso que arrepiamos por inteiro quando algo acontece, mas ao tentar isso no seu filme, o diretor entregou algo rápido demais, o que acaba fazendo o famoso susto gratuito, ou seja, ele trabalhou um elo mais dinâmico e causou um pouco menos, mas ainda assim temos cenas fortes que deram um bom tom para o filme, e fez o principal que foi de não tornar uma comédia as cenas, pois isso é o famoso desandar de tudo, o que não ocorreu.

Sobre as atuações, conseguiram trabalhar bem Will Beinbrink com seu Padre Peter Williams nas duas épocas só mexendo bem com seus cabelos, e o ator entregou um ar imponente, soube conduzir bem os olhares de seu personagem, e principalmente foi convincente nos atos mais tensos, o que acabou chamando muita atenção, só que nos atos mais calmos ele ficou meio sem atitude, o que é um leve desandar, o que poderia dar uma tensão maior, e melhorar, mas felizmente não estragou o estilo do filme. María Gabriela de Faria não só deu show com a maquiagem que colocaram em sua Esperanza, mas trabalhou tantos trejeitos, tantos movimentos corporais, tanta desenvoltura explosiva com o demônio no corpo, que nas cenas finais quando a vemos normal temos quase a certeza de ser outra pessoa, ou seja, a atriz se jogou por completo e acertou demais. O mesmo posso dizer de Irán Castillo com sua Magali, pois a atriz começou o filme toda incorporada, e depois ficou uma senhora bem tranquila e cheia de sutilezas, o que resultou em algo bem diferente de ver, além claro da sensualidade que jogou no começo ser de primeira linha, ou seja, foi muito bem no que fez. Ainda tivemos boas cenas de Joseph Marcel com seu Padre Michael Lewis, sendo forte nas imposições para expulsar os demônios, mas falhou um pouco no seu ato dramático, ao ponto que poderia ter ido mais além. Também tivemos mais dois bons demônios incorporados em Alfredo Herrera como Jesus possuído e Eloisa Maturen como a Virgem possuída, ao ponto que ambos se entortaram bem, trabalharam olhares e bocas bem fortes, e acabaram chamando muita atenção. E ainda tivemos algumas pequenas cenas bem colocadas de Hector Kotsifakis com seu Dr. Nelson e Juan Ignacio Aranda como o Bispo Balducci, não entregando tantas cenas, mas aparecendo bem nos atos que precisaram deles.

Visualmente a equipe de arte caprichou em todos os momentos, tendo desde as casas simples dos possuídos toda destruída com os pertences espalhados para todos os lados, e junto com uma computação gráfica (ou será que foram efeitos práticos de cabeças saindo das paredes?) bem imponente o resultado acabou surpreendendo bastante, mas sem dúvida alguma o grande destaque ficou para as cenas na prisão que o padre Michael até faz uma leve piada se iria precisar de água benta ou alvejante para entrar ali, pois tudo é muito sujo, muito antigo e com luzes de contraponto ficou ainda mais marcante do começo ao fim, tendo ainda muitos elementos cênicos bem usados, e claro as cenas com Jesus e com a Virgem ainda trabalhando com situações bem ousadas e marcantes, ou seja, a equipe de arte trabalhou e muito.

Enfim, não digo ainda que seja um filme perfeito de terror, mas foi anos-luz melhor que muita coisa que vem sendo lançada ultimamente, e assim acaba sendo uma ótima indicação para quem gosta do estilo, e como já falei irei torcer muito para a equipe ser corajosa e já engatar na construção da continuação. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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