Diria facilmente que a diretora e roteirista Julia Ducournau soube usar o estilo para trabalhar a famosa crise dos corpos, aonde pessoas não sabem o que desejam, que tem aversão de como anda mudando tudo em si, e junto com isso trabalhar o mote da gravidez indesejada, do estupro e tudo mais, juntando ainda com assassinatos frios, e personificações de loucuras de todas as formas, ao ponto que foi bem direta e segura dentro das possibilidades que a trama tinha, e assim vamos acompanhando a protagonista nas suas relações estranhas, na sua força e até mesmo tentando entender o que lhe motiva a seguir da forma que vai entregando, e assim sendo o resultado acaba indo até mais além do que imaginava. Ou seja, a direção é daquelas que ficamos intrigados com toda a forma da arte, que se alinha por completo do começo ao fim, e que sabe manter bem os mistérios e as coisas estranhas para que o público não desista dela, mas como disse a trama é extremamente bizarra e confusa, que poucos irão gostar realmente dela de uma forma mais ampla, e assim caiu na plataforma certa de exibição.
Sobre as atuações, posso dizer com toda certeza que Agathe Rousselle ainda vai explodir muito se lhe derem papeis melhores, pois aqui ela já se jogou por completo com sua Alexia, brincou com as nuances pedidas, fez expressões fortes e acabou chamando muita atenção, mas ainda assim sua personagem é estranha demais, ficando naquele miolo de não saber se vai além ou não, e principalmente por ser quase muda no filme todo, o que não faz deslanchar tantas dinâmicas, ou seja, foi bem para o que o papel pedia, mas tinha potencial para ir muito além, dando destaque claro para suas cenas de transformação bem fortes, e os olhares que entregou. Vincent Lindon já fez de tudo em sua brilhante carreira, e aqui seu personagem mostra aqueles homens que já fizeram realmente muito, mas que perderam o brilho no olhar, a sensatez para com tudo, que toma injeções para manter o corpo funcionando perfeitamente, mas que se recusa a enxergar o que está diante de seus olhos, e o ator soube dosar suas atitudes, trabalhou bem o envolvimento em cima de tudo o que acontece, e até poderia também ter ido além em alguns atos, mas ficou dentro do que o roteiro pedia, e assim não fluiu tanto. Quanto aos demais salvaria alguns atos de Laïs Salameh com seu Rayane, o desespero de Garance Marillier com sua Justine sendo morta, e o desdém do pai da garota desde o começo do filme até seu ato final, que foi bem feito por Bertrand Bonello.
Visualmente o longa foi bem trabalhado, mostrando inicialmente um acidente simples se olharmos bem a fundo, uma cirurgia complexa e bem mostrada, uma feira de veículos cheia de nuances, muitos corpos a mostra, uma cena de sexo entre mulher e máquina completamente maluca, e em seguida muitas mortes bem feitas, até chegarmos do outro lado do país com os bombeiros enfrentando simulações e situações reais bem comuns do estilo, com festanças e danças meio estranhas demais para um grupo, ou seja, tudo foi bem arquitetado em símbolos para vermos um pouco de tudo, mas faltou ainda algo a mais, isso sem falar em toda a bizarrice da gravidez, dos fluídos e até mesmo do bebê da forma que saiu (sim, me decepcionei nesse item, pois eu estava esperando sair um carrinho lá de dentro!).
Enfim, é um filme que tem seu valor artístico, a formatação de terror é interessante de ver também, mas que é estranho demais, e tem um nível de bizarrice que acaba indo além do que é aceito (ao menos por esse Coelho que vos digita!), mas que certamente tem seu público e alguns vão curtir bastante toda a ideia, então fica a dica, e eu fico por aqui hoje, então abraços e até logo mais pessoal.
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