Quem conhece o estilo do diretor e roteirista Richard Linklater sabe bem que ele não faz filmes simples de serem compreendidos, e que mesmo suas obras cotidianas acabam indo para situações complexas e recheadas de simbolismos, aonde o público consegue fluir tantas ideias quanto ele realmente colocou na produção, e aqui não foi diferente, pois mesmo seguindo a ideia de uma trama de memórias, dentro de uma animação que poderia ter um elo mais infantil e/ou juvenil, o resultado acaba tendo uma fluidez que amplia o vértice de pensarmos se o garotinho realmente está vivendo tudo, se está imaginando ou o que, e em qualquer uma dessas ideias tudo tem sua devida história aberta para que o público imagine o além dela, que acredite na proposta, e até mesmo siga um caminho completamente diferente do que está na tela. Ou seja, acabamos vendo uma obra singela, delicada e ao mesmo tempo forte de essências, que consegue fluir fácil e que mesmo entregando um ritmo um pouco lento demais traz dinâmicas coesas e bem alegóricas para funcionar por completo, sendo interessante para entrar no clima, e trazendo muitos sentidos em cada traço passado na tela.
Sobre os personagens e atuações, acabou sendo bem bacana ver toda a síntese e dinâmicas que o garotinho Stan passa para o público, basicamente contando sua história de uma maneira bem marcada e cheia de dinâmicas, aonde tanto a voz que Milo Coy quanto a de Jack Black fizeram acabaram trabalhando ares mais amplos e interessantes de se ver, criando um estilo próprio para retratar a época e brincando com tudo ao seu redor, de forma que o jovem passa algo próximo de um sonho, próximo de um carinho com o momento, mas também a dúvida quanto a tudo o que está rolando, e isso soa até mágico em alguns atos, sendo um trabalho marcante bem colocado do começo ao fim. Ainda tivemos outros bons personagens como os agentes da NASA, todo o lance do pai sendo um empregado da companhia, mas não um astronauta (meio como a jogada que muitos tinham de pais que trabalhavam em banco e não voltavam cheios de dinheiro para casa em certa época), tivemos todo a síntese dos irmãos, dos amigos e todos ao redor dele que brincavam, que disputavam e assim o vértice cênico fluiu para os personagens com traços meio que diferentes no ar estético, mas interessante para a proposta, usando talvez um pouco de rotoscopia, um pouco de desenho a mão mesmo, que marca e dá a devida textura que o longa pediu.
Visualmente o longa é um pouco estranho, pois sendo bem diferente das usuais animações, vemos na tela texturas e traços meio que borrados, outras vezes formatos estranhos, mas fazendo parte da estética do filme mesmo, e dentro dele vemos brincadeiras que fazíamos na infância, as brigas pelos canais da TV, as músicas, as fotos de artistas pendurados no quarto, e claro todo o contraponto do ar cowboy do Texas com o ar futurístico da NASA em uma única cidade, com um parque temático de astros, o estádio diferenciado e tudo mais que marcaram a época no país e no mundo, além claro da boa representação dos testes e das viagens da companhia para a Lua, na famosa briga com os russos. Ou seja, é um filme bem representativo e simbólico que funciona muito bem nesse sentido.
Enfim, é uma animação diferenciada das demais, e que mesmo aparecendo cedo nesse ano, logo após as premiações, é bem capaz que seja lembrada nas premiações de 2023, afinal é de um diretor extremamente famoso nas premiações, tem um roteiro que faz pensar, não sendo apenas algo bonitinho na tela, e que tem estilo, valendo demais a conferida, sendo o único porém que coloco de não ver muito cansado, pois sendo praticamente inteiro narrado, tem momentos que a falação toda cansa e bate um pouco de sono, mas nada que em casa dê uma rápida pausa, uma água e já volta para terminar. Então fica a dica, e eu fico por aqui hoje pessoal, então abraços e até logo mais.
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