Netflix - Vamos Consertar o Mundo (Hoy Se Arregla El Mundo) (Today We Fix The World)

4/17/2022 10:59:00 PM |

Costumo dizer que o gênero mais difícil que tem de se produzir é a comédia, pois fazer rir sem forçar a barra é algo que pouquíssimos roteiristas tem a capacidade, e piora ainda mais quando mensuramos a quantidade de bons atores que acabam caindo em personagens que satisfaçam essa sina de soar engraçado na tela de uma maneira bem colocada e divertida, então se entrarmos mais afundo num subgênero ainda mais perigoso que é a comédia dramática tem de ser quase um mestre das artes cênicas para ser aplaudido no final. E claro que comecei o texto da comédia dramática argentina da Netflix, "Vamos Consertar o Mundo", dessa forma pelo simples motivo de que ela é gostosa, leve e bem trabalhada, porém os momentos cômicos dela ficaram tão em segundo plano que praticamente falham em tudo, sendo bacana toda a interação dos protagonistas, a busca pelo pai e até as devidas conexões entre tudo o que rola nesse meio do caminho, mas o programa que dá nome ao filme é quase algo tão desnecessário, o dono do canal é um personagem idiota e inútil, e vários momentos ali no ambiente da TV foram tão clichés que se eliminassem eles o resultado ainda seria um bom filme e sobraria tempo para mais buscas. Ou seja, é uma trama bacana, mas que poderia ser melhor polida para que o programa tivesse algo mais expressivo para ser encaixado no mote principal, ou então já tirar de vez, mostrando que ele produz aqui e só, sem precisar mostrar três ou quatro programas ruins.

A sinopse nos conta que David Samarás é o produtor geral do popular talk show "Vamos Consertar o Mundo", onde supostas pessoas comuns resolvem conflitos de relacionamento, amizade, trabalho, paternidade e filhos. David é solteiro, pois nunca conseguiu estabelecer um relacionamento duradouro. O vínculo mais duradouro de sua vida é Benito, seu filho de 9 anos, fruto de uma aventura casual. As coisas mudam completamente quando, em meio a uma forte discussão com Silvina, a mãe do menino, ele descobre que Benito não é seu filho. Pouco depois dessa revelação, Silvina morre. Benito pede que ela faça uma última coisa para ele, que ajude-o a encontrar seu verdadeiro pai.

O longa anterior do diretor Ariel Winograd, "O Roubo do Século", foi incrível por ele saber dominar o simples, e fazer com que uma história grandiosa funcionasse sem grandes exageros, já aqui que ele tinha uma história simples para desenvolver quis ir além demais e acabou se enrolando um pouco, pois talvez o roteiro de Mariano Vera até tivesse um algo a mais com todo o lance do programa de histórias falsas bem contadas para dar a nuance de um pai falso virar algo a mais, mas acabou ficando tão jogado e grandiosamente produzido, que o programa pareceu ser a parte mais importante do roteiro, e a busca pelo pai do garotinho algo apenas extra na trama, e se analisarmos a fundo é exatamente o inverso, ou seja, poderiam ter trabalhado muito mais com outros "possíveis pais" que sairia bem mais divertido, pois ambos os atores foram ótimos e tiveram uma química incrível, e a cena do programa seria apenas uma abertura com o hipnotizador e o médico logo de cara participando do mesmo ato para entendermos seus usos nas demais cenas, e claro a cena do protagonista sendo personagem do programa, e pronto, eliminamos pelo menos uns 20 minutos de atos desnecessários, e o longa ficaria mais funcional. Ou seja, não acredito que o diretor tenha errado em colocar tudo, mas provavelmente gastaram tanto no feitio do ambiente do programa que quiseram brinca mais ali, e aí desandou um pouco.

E já que falei que a química dos protagonistas foi muito boa de ver na tela, vamos falar um pouco sobre eles, pois sabemos bem da qualidade técnica de Leonardo Sbaraglia, e aqui ele não decepciona no estilo marcante, nem na forma chamativa que dá para seus personagens, ao ponto que seu David "El Griego" Samarás tem a pinta de galã que o ator sabe fazer bem, junto com uma doçura característica que vai permeando durante toda a busca do pai do garotinho, e claro incrementando boas cenas e estilos, ou seja, continua um tremendo ator bem colocado em cena, e marca a posição principalmente nas dinâmicas junto do garotinho. Agora falando de Benjamín Otero, posso dizer com toda certeza que se lapidarem bem ele, em breve será mais um tremendo ator argentino, pois ele tem a famosa sacada irônica que tanto gostamos de ver nos filmes do país, tem carisma, e tem um estilo já de mini-galã, ou seja, se crescer bem ainda vira daqueles que todos querem em uma trama, e aqui seu Benito é tudo isso que já falei e um pouco mais, pois se doa com o ar de sofrimento, e se entrega para a cena, que é algo que agrada bastante, ou seja, foi preciso em todos os atos e chamou a responsabilidade para si quando precisava. Quanto dos demais, a maioria teve poucas cadências chamativas, tento um leve destaque para Charo López com sua Yani, mas poderiam ter usado mais ela nas dinâmicas, pois seus trejeitos foram interessantes, e tiveram uma boa pegada, ou seja, agrada na simplicidade e tem um bom tino cômico para os atos que precisavam ser feitos.

Visualmente, como já disse o longa tem duas aberturas, uma nas ótimas passagens pelo quarto do garotinho na casa do pai, as belas cenas na praia, o estúdio de pintura aonde a mãe foi musa, entre outros pontos bem colocados que divertem na conexão da busca por um pai para o garotinho, tudo bem simples, porém funcional e interessante de ver, e do outro lado a superprodução que foi o estúdio do programa que dá nome ao filme, com poltronas em formato de carros, toda uma oficina e uma vila ao fundo, vários elementos e luzes por todos os lados, toda a dinâmica criativa em cima dos atores que faziam os papeis no programa para passar algo real, e tudo mais que como disse acaba sendo meio que desnecessário para o longa, ou seja, a equipe de arte gastou mais com o que não precisaria, e menos com detalhes para o ar do garotinho, aliás ainda destacaria as cenas do encontro com o pai provável e o super autorama dele, que é incrível.

Enfim, é um bom filme de passatempo que alguns até podem se emocionar um pouco com o bonito fechamento, e com alguns diálogos trabalhados na trama, mas acabou faltando aquele algo a mais que sempre esperamos nas produções argentinas, e que facilmente comoveria bastante se tivessem dado uma leve lapidada na trama, mas dá para recomendar bastante, e assim sendo fica a dica. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...