O jeito que o diretor Banjong Pisanthanakun escolheu desenvolver sua história foi algo brilhante de observar, principalmente para um filme de terror, afinal entregar um documentário inicialmente sobre uma religião/entidade numa comunidade meio que isolada e devota à ela, depois perceberem a possibilidade de documentar a transferência dessa entidade para outro ente da mesma família, e sem ficar com diálogos da equipe, mas sim deixando a fluência para a família em si, como se as câmeras fossem algo cotidiano ali é algo muito diferenciado, pois em certos momentos nem vemos mais os personagens respondendo as perguntas da equipe, mas sim apenas reagindo a tudo e a equipe pouco se lixando se ia morrer ou se aquilo ali estava quebrando a privacidade ou qualquer coisa que um documentarista pensaria, e isso deu um sentido completamente maluco para a trama nos atos finais aonde qualquer um fugiria, ou se esconderia como rolou com um dos membros (claro sem parar de filmar!), e assim tudo é perfeito nesse sentido, aí entramos no conceito de terror e filmes com entidades, pois diferente de um monstro ou espírito assombrando, aqui vemos não só a incorporação, mas o acreditar naquilo, de quão forte é tudo, e como algumas pessoas entram na ideia religiosa mesmo sem saber o que é realmente, tanto que o último depoimento de Nim que é o fechamento do filme diz tudo, então é o terror acontecendo da forma mais crua e tensa na tela, e isso embora nojento, forte e intenso, é lindo de ver. Ou seja, o diretor fez um filme que é o que ele queria, sendo ficção, mas que passaria facilmente num festival de documentários reais, e alguns do júri dariam boas notas.
Sobre as atuações, só posso dizer que todos foram muito naturais no que fizeram, parecendo realmente pessoas comuns na comunidade, que vivenciaram toda a insanidade dos rituais, de tal maneira que se entregaram para tudo, e até mesmo o tio estranho vivido por Yasaka Chaisorn ficou muito bem encaixado com a família dele quando parecia meio que jogada no longa. E assim sendo a jovem Narilya Gulmongkolpech inicialmente comum com sua Mink, apenas exagerando nas bebidas e brigas ocasionais de jovens, mas depois virando o próprio demônio com dobras corporais, olhares revirados, saltos, cenas obscenas, coisas nojentas e tudo o que se pudesse pensar numa incorporação demoníaca que dá muito certo de ser vista, ou seja, foi muito bem no que fez. A tia vivida por Sawanee Utoomma fez uma Nim bem densa, com olhares reflexivos, e tradicionais de uma pessoa mística, rezando muito, fazendo seus cultos e oferendas, e sendo bem direta nos depoimentos, sendo a protagonista real de seus atos, o que é perfeito de ver. Sirani Yankittikan trabalhou sua Noi de uma forma bem desesperada, tradicional de mães, e se jogou literalmente na personalidade que precisava, agradando bem em todos os atos e finalizando ainda melhor. O outro guia espiritual Santi, que Boonsong Nakphoo fez ficou meio explosivo demais, com trejeitos até falsos e estranhos, mas que é comum de ver em rituais, então fez bem seus atos finais, e agradou. Agora Arunee Wattana poderia ter feito uma Pang um pouco melhor e mais convincente, pois pareceu perdida em alguns atos, porém foi pouco usada, o que acabou não atrapalhando a produção. Quanto dos diversos câmeras, produtores e diretores do documentário, eles apareceram quase nada em cena, e falaram menos ainda, mas seus gemidos finais, suas fugas e tudo mais foi algo bem bacana de ver.
Quanto do visual, o filme se passa todo na comunidade, e tendo um galpão de uma fábrica para os ritos mais tensos, então é uma casa bem simples, o emprego da jovem com várias mesas e cadeiras sem grandes chamarizes, uma parada natalina bem comum, muito matagal, e claro câmeras noturnas, câmeras acompanhando cada um, um culto mais calmo, um mais cheio de pessoas diferentes e malucas, e claro o grandioso fechamento com um culto assustador, além de alguns ritos de funerais bem culturais e interessantes, ou seja, pareceu realmente que a equipe foi para alguma cidadela e filmou todo o cotidiano ali acontecendo, o que é perfeito de ver, e que mesmo abusando de algumas luzes falsas, o resultado impacta bem com muito sangue, vômitos, coisas nojentas e até atos sexuais bem explícitos, ou seja, o conjunto de um terror completo.
Enfim, é daqueles longas que funcionam demais dentro do proposto, que até tem falhas, mas que são relevantes, e usando duas ou três pequenas cenas de jumpscare para pegar o espectador (mas que você estará preparado para elas se conhecer um pouquinho de filmes de terror), o restante é apenas o luxo do mais tenso estilo de terror, e isso faz valer demais a recomendação para quem gosta de um bom filme do gênero. Então fica a dica, e eu fico por aqui hoje deixando meus abraços e até breve, pois essa semana está bem cheia de estreias.
2 comentários:
Sua review me fazendo querer assistir. Eu vi o nome do diretor e reconheci de dois outros filmes muito bons, Shutter e Pee Mak, adoro filme de terror tailandês. São sempre muito intrigantes, de qualidade ou muito engraçados, o que também é muito bom. Diferentes dos filmes de terror com ou sem humor, americanos.
Vou procurar pra assistir com certeza, valeu pela indicação. Aliás achei seu blog por uma review muito antiga de opera e acabei ficando por aqui, porque gostei da forma como você conta a história e constatações, e como avalia o que assiste. Até mais!
Olá 'lana... que bom que veio e ficou!!! Me indicaram mesmo outros do diretor, vou tentar arrumar pra ver, mas olha... ainda bem que os terrores são bons que os dramasssssss... jesus... já quase dormi em 2!!! Abraços e volte sempre para comentar!!
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