Pureza

5/20/2022 08:23:00 PM |

Algumas histórias reais sempre vão pesar na formatação de um bom longa, porém quando cai na mão de um bom diretor ficcional que sabe como fazer o público entrar no clima da produção o resultado acaba indo até além, já nas mãos de um documentarista ele acaba ficando mais no tema e esquecendo que o público precisa se emocionar e sentir o filme para que a trama exploda realmente. Iniciei o texto do filme "Pureza" dessa forma pela única e exclusiva crítica do filme ficar bem longe de algo imponente: a falta do ar ficcional que ultrapassasse o clima documental misto com o novelesco, pois em alguns atos parece que estamos vendo uma reconstituição feita para algum jornal nacional e não um filme realmente, e isso vai acabar pesando muito no público que for conferir. Ou seja, é uma história que daria muito envolvimento para emocionar, chocar e impactar com tudo o que acontece, mas acabamos apenas vendo e não sentindo a força que deveria ter, principalmente se compararmos com "7 Prisioneiros" que trabalha o mesmo tema, só que na cidade ao invés do campo.

O filme é baseado na história real de Pureza Lopes Loyola. Na trama, Pureza é uma mãe solo que mora com seu filho, Abel, em uma pobre região do Maranhão. Descontente com a vida que levam, o jovem resolve deixar o local para buscar emprego em um conhecido garimpo, com a promessa de dar uma vida melhor para a matriarca. Após meses sem notícias do filho, Pureza resolve sair em busca do rapaz. Durante a jornada, ela encontra uma fazenda que emprega um sistema de aliciamento e cárcere de trabalhadores rurais, a famosa escravidão moderna. Ainda à procura do filho, ela passa a trabalhar neste lugar, testemunhando o tratamento brutal sofrido pelos empregados, além do desmatamento ilegal de florestas. Lutando contra um sistema perverso e poderoso, esta batalhadora mulher enfrentará a tudo e todos que ficarem à sua frente, sempre com uma fé religiosa inabalável e a esperança de encontrar o filho.

Talvez o problema tenha sido o diretor e roteirista Renato Barbieri ter encarado uma ficção depois de muitos documentários, inclusive o último sendo sobre a escravidão moderna chamado "Servidão", e aí não ter conseguido ir além em algo que acompanhou, pois como costumo dizer o roteirista precisa soltar seu filho nas mãos de outra pessoa para que ela dê uma vida melhor pra ele, senão a chance de não deslanchar é alta, e isso foi o que acabou ocorrendo, que vemos um bom texto, sem grandes chamarizes, que acaba sendo inteligente de proposta, porém sem atitude mesmo com uma atuação forte da protagonista. Ou seja, é um documentário excelentemente interpretado que virou um filme fraco, mas que poderia ser um filme incrível com uma proposta documental se outro diretor fizesse as vezes.

Sobre as atuações, basicamente temos de engrandecer uma das melhores atrizes nacionais que é Dira Paes, pois sua Pureza é imponente, tem presença, e se entrega por completo na trama, lembrando um pouco o que está fazendo na nova versão de "Pantanal", que aliás deve ter usado o longa para puxar alguns trejeitos para a novela, e aqui fez bem o que precisava, e chamou a responsabilidade toda para si, agradando e fazendo o que dava, mas poderiam ter usado ela mais ainda sem precisar aparecer tanto ela na trama. Matheus Abreu apareceu quase que de enfeite com seu Abel, de forma que quase poderia ser um nome apenas. Mariana Nunes tentou se impor com as poucas cenas de sua Elenice, mas também resulta mais na simplicidade do que no chamariz mesmo. Já Flavio Bauraqui e Sergio Sartório com seus Narciso e Zé Gordinho até foram bem marcantes como capatazes, mas faltou explosão nos papéis para irem além, e assim sendo apenas estiveram presentes. Já os demais foram apenas figurantes em cena, o que é uma pena, pois valeria chamar mais atenção dos escravos.

Visualmente a trama foi até que bem trabalhada na simplicidade do ambiente, mostrando no começo a olaria da família, que ganhava pouco e fez com que o jovem tentasse mudar de vida, e depois a fazenda grandiosa com um armazém bem sujo com várias coisas ruins para os "trabalhadores" se endividarem, uma cozinha simples, mas que a protagonista dominou, alguns rádios, e claro cenas de corte de pastagem, um açude sujo aonde pegavam água, um abrigo com redes bem precárias, e depois algumas cenas em Brasília, com salas que sabemos que não foram filmadas lá dentro pela simplicidade do ambiente, mas que representou ao menos, ou seja, tudo foi bem feitinho, mas nada surpreendente.

Enfim, é um longa de boa proposta, que mostra uma época sofrida e forte que praticamente sumiu do mapa no país, mas que tem reaparecido, então vale para reflexão e denúncias claramente, mas que poderiam ter feito algo mais forte e ficcional para realmente impactar, e assim sendo não digo que recomendo com muita força para todos os amigos, pois a maioria vai reclamar da simplicidade que lembra até um pouco os filmes que fazíamos na faculdade. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas vou conferir mais um hoje, então abraços e até logo mais. 


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