domingo, 22 de maio de 2022

Quatro Amigas Numa Fria

Um gênero que o Brasil ainda passa longe de conseguir dominar é a tal da dramédia, ou comédia dramática que tanto nossos vizinhos argentinos mandam super bem, pois fazer as duas pontas bem feitas é quase uma alquimia completa que se errar uma gota acaba estragando tudo, e nossas comédias sempre recaem mais para o lado forçado, e nossos dramas para o lado novelesco, e a mistura desses dois estilos ainda vai precisar de muito tempo para agradar o público geral. Ou seja, não digo em momento algum que o longa "Quatro Amigas Numa Fria" seja ruim de ser conferido, muito pelo contrário, tem estilo, tem uma boa produção, e um time de atrizes bem dispostas a fazer ele funcionar, porém é algo que falta atos divertidos para o público rir, e também falta emoção para envolver esse mesmo público, ao ponto que se torna algo bonitinho, mas que não marca, sendo daqueles que até vale a conferida talvez na TV quando passar, mas no cinema o público da sala sai da mesma forma que entrou, como se não tivesse visto nada na telona, e isso pesa.

A sinopse nos conta que um quarteto de amigas que se conhecem desde a infância, viajam a despedida de solteira de uma delas, mas no final, da praticamente tudo errado. Dani (Maria Flor) está prestes a se casar e convida três amigas - Karen, Ludmila e Josie - para acompanhá-la até Bariloche para sua despedida de solteira. As meninas esperam uma viagem tranquila e relaxante, com muitas aventuras que só uma despedida de solteira pode proporcionar. Enquanto isso, Guto, noivo de Dani, morre de ciúmes da viagem. Chegando à cidade Argentina, nada parece dar certo para as quatro amigas: elas têm que dormir em um chalé congelante, porque Karen esqueceu de fazer as reservas do hotel; Josie precisa andar encapotada porque tem alergia a gelo; e Ludmila, mãe de três filhos, não consegue dormir tanto quanto desejava. Após muitas aventuras, a viagem se tornará uma grande oportunidade para que as amigas se tornem ainda mais próximas à medida que mágoas do passado retornam.

O diretor Roberto Santucci que ficou bem famoso pelas comédias bem escrachadas que tem entregue nos últimos anos lotando as salas dos cinemas com tantas sessões, aqui quis ir por um rumo diferente demais de seu estilo, e isso é perigoso, pois o texto de Paulo Cursino, seu parceiro de longa data nas comédias, tem um peso emocional para dar vários valores de amizade e de reencontro dentro de uma viagem, porém a todo momento tentam colocar algum gracejo e ele soa quase como uma esquete solta do filme, o que não é nem inteligente, nem envolvente como deveria rolar, sendo daqueles que vemos, sorrimos, e acabamos não envolvidos o suficiente para rir nem emocionar como se deve no gênero. Ou seja, o trabalho de ambos é notável como um filme até com um certo apreço artístico, porém não para o público que espera rir de seus filmes no cinema, e assim o resultado não atinge ninguém.

Sobre as atuações, colocaria sem dúvida alguma todo o destaque da trama para Micheli Machado com sua Lud genial, cheia de bons trejeitos, e fazendo exatamente a comédia que o diretor sabe fazer bem, ao ponto que se o filme ficasse só nela seria incrível, pois ela se jogou na personalidade que a mãe e mulher necessitada de descanso encaixa, que muitas irão se conectar a ela, e rir de tudo o que faz e fala, pois é perfeita nesse sentido. Fernanda Paes Leme também foi explosiva e direta com sua Karen, mantendo o ar direto e forte, conseguindo até enganar o público com sua opção, e assim foi bem nos atos mais soltos. Já Maria Flor ficou monótona demais com sua Dani, não sendo uma personagem que o público se conecte, que demonstre o ar perfeitinha que é imposto, ficando para algo mais sem sal do que deveria, resultando em algo que não incrementa nada para o filme. Priscila Assum teve alguns momentos cômicos com sua Josie, principalmente coberta com um milhão de roupas, mas não foi muito além, e talvez tenha faltado um pouco mais de abertura para que seu papel fluísse, sem ser o elo de junção ao final. Pablo Bellini foi bem charmoso com seu Ricardo, no estilo de galanteio completo, e claro um colírio para a mulherada, mas é quase um objeto cênico de expressividade, e isso não é algo que um ator queira ser chamado em um filme. Agora quem me surpreendeu foi Charles Paraventi com seu Esteban, pois geralmente entrega personagens extremamente forçados, e aqui ele mesmo tentando fazer rir em alguns momentos, teve bem mais elos de coração e sentimentos que acabaram agradando bastante, e assim sendo deveria explorar mais esse estilo que vai encaixar bem com sua personalidade. Quanto aos demais diria que foram mais participações mesmo, com Marcelo Saback exageradíssimo com seu Gil fazendo uns trejeitos e gracejos desnecessários, e Marcos Veras como Guto servindo mais para as mensagens da protagonista e para um fechamento que não foi muito além. 

Visualmente a equipe de produção não economizou, indo filmar mesmo em Bariloche, com um chalé bem destruído e cheio de detalhes, um hotel bem requintado com todos serviços incríveis para o relaxamento de uma pessoa, muita neve para todos os lados, e até um bar bem trabalhado encaixando uma boa cena, ou seja, um trabalho primoroso para um longa que até merecia ir mais além, sendo bem representativo nos detalhes, agradando do começo ao fim com as escolhas feitas.

Enfim, volto a frisar que não é um filme ruim, apenas é daqueles que não encaixam em nenhum gênero pré-moldado, faltando fazer rir e emocionar como deveria, mas que vale como um passatempo para um domingo no sofá, desde que a pessoa não espere algo a mais dele. E é isso meus amigos, eu fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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