Diria que o diretor e roteirista Jérôme Salle foi ousadíssimo em sua proposta, pois sendo baseado em uma incrível história real, ele nos entrega várias possíveis possibilidades para que o homem tenha sido preso, a qual até hoje não se sabe muito direito qual foi: a de como diretor de uma escola que além de línguas leva a cultura francesa para onde abre seus centros, e ao mostrar uma peça de dois homens se abraçando e beijando num país rigoroso; ou de um soldado da FSB ter visto ele dançar com sua nora em uma festa; ou talvez dançar com a filha vestindo roupas de fadas para brincar com ela. Ou seja, não tem como ele saber o motivo de terem feito tanto estardalhaço e prenderem ele, e o pior inventando todo um dossiê falso (a palavra компромат vem daí = evidência comprometedora) de um crime dos piores possíveis para ser jogado numa prisão, afinal ficando na mesma sela que assassinos acabariam com ele em minutos, ou seja, algo que o diretor do filme até se arriscou em colocar na sua trama, e assim sendo o filme teve uma desenvoltura incrível, pois a embaixada da França na Rússia não quis se envolver, alguns começaram a achar que ele era um espião, e por sorte ele teve a ajuda da moça com quem ele dançou para a fuga completa, senão não teríamos essa história. Sendo assim Jérôme que já entregou outros brilhantes roteiros conseguiu dramatizar aqui algo tão cheio de cultura, que virou um filme de festivais, mas que facilmente ao cair nos streamings da vida irá fazer muito sucesso, pois é um tremendo filmaço, mesmo com o terceiro ato um pouco arrastado demais, mas que passa tranquilamente.
Sobre as atuações, já até cansei de falar de Gilles Lellouche nessa semana, afinal veio para o Varilux com seus três últimos trabalhos, e todos com personificações sensacionais, e se nos anteriores ele trabalhou um advogado calmo porém revoltado com os pesticidas, um ajudante de joalheiro soberbo que subiu para a cabeça com o poder, aqui com seu Mathieu ele se virou de um diretor cultural a fugitivo de ação em questão de minutos, e fez isso com muito primor, com trejeitos fortes, com desenvolturas na medida máxima, e sem fraquejar nas escolhas lutou bravamente pelo seu objetivo mostrando uma atuação incrível que provavelmente vai lhe dar prêmios nesse ano, afinal ainda não estreou comercialmente, então vai pegar todas as próximas premiações, e com chances reais. Joana Kulig entregou uma Svetlana incrível, cheia de personalidade e pronta para ajudar, e o melhor fazendo tudo com muita densidade e imposição, ou seja, chamou para si o filme em diversos momentos, e só não sobrepôs o protagonista por pouco. Ainda tivemos momentos bem imponentes de Michael Gor com seu Rostov, Mikhail Safronov com seu Ivanovich e Sasha Piltsin com seu Sergey, cada um de uma maneira direta e desesperada para colocar o protagonista atrás das grades, ou preferencialmente morto, e da maneira russa fizeram caras bem secas e fortes, chamando atenção.
Visualmente o longa foi muito bem trabalhado com cenas no frio, barro, chuva e tudo mais, mostrando desde uma casa simples na cidade, passando por festas, supermercados, e uma prisão incrivelmente tenebrosa, além de muitas cenas nas ruas, em fugas, em ônibus, carros, se escondendo em porta-malas, pulando de prédios, e claro toda a perseguição imponente que dá início ao filme e depois é concluída nos atos finais, com muita imposição, névoas, lobos e tudo que se tem direito, mostrando que a equipe de arte foi bem precisa com o que precisava entregar fazendo bonito.
Enfim, é daqueles filmes que são tão bem feitos que agradam mesmo que a história seja um pouco maluca, e dessa forma acabamos muito conectados com tudo e até mesmo o terceiro ato sendo alongado e demorando para finalizar o resultado acaba sendo funcional e agrada bastante, e dessa forma é claro que recomendo para todos que vejam no cinema como todo bom longa de ação deve ser visto, mas se não conseguir torçam para em breve surgir nos streamings. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com muitos outros textos, então abraços e até logo mais.
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