Diria que o texto forte de Laura Castro (que também é a filha Tânia aqui no filme e foi por vários anos no teatro) é tão atual e bem trabalhado, que a diretora e atriz portuguesa Maria de Medeiros (que na peça faz a mãe) apenas soube dosar os atos com muita destreza e ampliar a situação de uma peça para algo maior, com mais campo, e o resultado ficou bem interessante, dinâmico e representativo para fazer o público sentir e refletir, contando com nuances bem amplas, com situações marcantes, e agradando por mesmo sendo forte não pesar a mão, deixando que o dilema todo fosse parcial e direto. Ou seja, felizmente ela conseguiu criar um filme e não uma representação cênica de uma peça na telona, contando com atos certeiros e com atuações e dinâmicas bem trabalhadas para que o público critique sim tudo, mas principalmente discuta os pré-conceitos de cada tema trabalhado, e como já disse no começo são muitos, interconectados, e que não se destoam nem tropeçam uns nos outros, o que ficou incrível de ver.
Sobre as atuações, foi um grande acerto a diretora não repetir seu papel na peça, pois por mais que já tenha feito centenas de apresentações, quando se está dirigindo você passa um novo olhar e sabe melhor ainda o que pedir da protagonista, e claro que a escolha de Marieta Severo é um luxo para qualquer filme que seja, e a atriz se entregou de tamanha forma para que sua Vera fosse precisa de trejeitos, passasse medo no olhar, angústia nas cenas mais duras, mas também representasse bem a maioria dos pais/mães que não aceitam o mundo atual, mesmo se julgando super liberal, de tal forma que muitos se verão no que ela faz, pois a atriz é tão certeira nas nuances que não tem como não ver alguém de sua família ali na personagem, ou seja, deu show. Já Laura Castro não quis colocar outro nome fazendo sua Tânia, afinal o papel ali é mais do que alguma personagem que tenha interpretado por anos, mas sim alguém que ela criou e vivenciou para chegar no roteiro da peça, e soube dosar a força teatral para que no cinema a personagem tivesse mais esse impacto, e mesmo não sendo daqueles personagens memoráveis da cinematografia nacional, ela representou bem as pessoas que são discriminadas muitas vezes em casa, mas que também discriminam aos montes, como acontece nas cenas dentro do instituto. Ainda tivemos bons atos de Marta Nobrega com sua Vanessa bem impositiva e forte, Ricardo Pereira fazendo um exagerado Antônio, e José de Abreu fazendo de seu Fernando aquele pai que dá tudo, que faz tudo e não entra em conflito nenhum com a filha, sendo o extremo oposto da mãe, além de Claudio Lins surpreendendo com seu Sergio, num papel que inicialmente pensamos uma coisa, mas que no final acabamos levando um belo susto com todo o desenvolvimento trabalhado.
Visualmente o longa foi bem representativo para mostrar que as protagonistas são bem ricas, com casas e apartamentos em bons lugares, mas a mãe opta por viver em um projeto social dentro da favela, com tiros e infiltrações diretas, com tudo do mais simples possível, enquanto a filha vive numa casa chique, numa área bem ampla e de visual bonito para dar bons confrontos, temos ainda as cenas fortes da ditadura com muitas baratas e toda a vivência de memória da protagonista, e embora tudo seja pouco usado, meio que nos moldes da peça, tudo é simbólico e funciona bem.
Enfim, não é um filme perfeito, pois força alguns momentos e não fecha praticamente nenhuma discussão, mas é bem representativo e consegue agradar bastante quem se dispor a refletir sobre eles, sendo assim tanto uma boa trama de cinema, quanto uma boa trama para projetos de discussão, aonde os espectadores vão praticamente fechar tudo o que o longa abriu, valendo então a dica para quem trabalha com esses temas nas comunidades. E é isso meus amigos, fica a dica, e eu fico por aqui hoje, então abraços e até logo mais.
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