Globoplay - O Salão de Huda (صالون هدى) (Huda's Salon)

7/17/2022 04:33:00 PM |

O que mais curto em festivais é a possibilidade de conferir filmes selecionados de países que costumeiramente vejo bem pouco, e tramas boas de espionagem hoje viraram mais filmes de ação do que realmente algo cheio de tensão e desenvolturas em cima de culpa e acusações. Então se você também é desses que gosta de algo bem intrigante, e claro, baseado em histórias reais a dica é o longa egípcio "O Salão de Huda", que mostra algo bem complexo de um salão aonde a dona após ser pega pelo serviço secreto da Palestina passou a criar fotos vergonhosas de mulheres para que elas também passassem a servir contra os resistentes e rebeldes. Ou seja, é um filme bem denso, cheio de envolvimento, aonde sentimos o desespero da mulher em ser revelada para a família, em ser capturada, e tudo mais, numa dinâmica de conversas fortes e interpretações marcantes, que talvez poderia ter sido ainda mais forte com poucas mudanças, mas ainda assim vale bem todo o processo pela forma que foi entregue.

A sinopse nos conta que Reem, uma jovem mãe casada com um homem ciumento, vai ao salão de Huda em Belém, para um corte de cabelo e botar as fofocas em dia. Mas essa visita comum azeda quando Huda, depois de ter colocado Reem em uma situação vergonhosa, a chantageia para que ela trabalhe para o serviço secreto. Enquanto Reem escapa do salão, na mesma noite, Huda é preso por Hasan. Eles encontram fotos sem nome de todas as mulheres que Huda recrutou, incluindo a de Reem. Huda sabe que será executada assim que revelar os nomes. Ela tenta esperar o máximo de tempo possível.

O diretor e roteirista Hany Abu-Assad é bem famoso por saber segurar suas tramas com conflitos até bem próximo do final, não dando abertura para subtramas nem muitos respiros, e aqui ele colocou uma situação dramática que vemos muito em diversos lugares, não apenas no mundo islâmico, de mulheres sendo usadas para pegar rebeldes, armas e tudo mais, colocando em dúvida sempre seus atos de vergonha, e claro que num ambiente extremamente machista como é os países árabes, cair uma foto como a que fazem com a jovem é algo que facilmente muitas se matariam, ficariam na dúvida de pedir ajuda e acabariam tendo seu mundo desabado, e o diretor soube controlar muito bem na edição o lado da dona do salão sendo interrogada sem querer dar os nomes, sabendo que ali acabaria sua vida, tentando enrolar com uma boa lábia, e do outro lado a jovem sem poder nem respirar, aflita, com tudo explodindo sabendo também que ao contar para o marido perderia tudo, ou seja, a amplitude dos dois lados é bem igual, e dificilmente sairia diferente disso, e contando com boas tensões, o resultado acaba funcionando demais.

Sobre as atuações, é fato que o filme fecha bem no trio de personagens protagonistas, tendo uma ou outra abertura para os demais tentarem chamar atenção, mas não o foco do diretor foi mesmo em cima dos três, e isso que faz funcionar tanto o filme. Dito isso Maisa Abd Elhadi trouxe para sua Reem um desespero de nível máximo após o ato inicial, sendo daqueles envolvimentos tão fortes que sua feição é praticamente congelada depois que sai do salão até seu último ato no telefone, que se fosse uma daquelas brincadeiras de quem pisca primeiro, certamente a jovem ganharia por quase nem respirar com a entrega que faz, e assim seus atos acabam soando marcantes, cheios de estilo e completamente dentro da proposta, ou seja, foi muito bem no que fez. Da mesma forma Manal Awad trabalhou sua Huda com uma desenvoltura bem própria e chamativa, trabalhando seu diálogo de maneira calma e direta, não sendo forçada nem recaindo a trejeitos casuais, de forma que ficamos esperando até mesmo o líder que está conversando com ela ser enganado pela sua lábia, mas sabemos que isso era querer demais, e assim ela foi forte e bem marcante. Falando do líder, Ali Suliman tem um estilo bem trabalhado com seu Hasan, sendo determinante na forma de persuadir a protagonista a falar os nomes nas fotos, criando mentiras e sendo explosivo com sutilezas, não sendo daqueles que saem na mão no primeiro ato, mas sim que faz conduzir a pessoa no seu mais profundo âmago, e o ator tem essa personalidade, e chama muita atenção no seu gestual calmo e direto. Quanto aos demais, vale um leve destaque para alguns atos do marido Yousef vivido por Jalal Masarwa, mas nada que chamasse de uma grande expressividade, apenas entregando a base e conseguindo com isso representar bem o que qualquer marido do país faria ao ouvir o que a esposa diz, mas foi bem também em trejeitos, e assim vale o que fez.

Visualmente o longa tem a base de poucos ambientes, mas bem representativos, como o salão tradicional, mas com uma porta de vidro aonde a protagonista faz as fotos, de uma maneira bem direta e sem sobreposições, mostrando uma grande intensidade cênica, depois temos a casa simples da protagonista, com tudo bem arrumado como uma casa com um jovem bebê, e temos a gruta/esconderijo do grupo rebelde aonde temos o interrogatório, uma cena forte de queimada, e tudo muito meticuloso para não ficar soando forçado em nada, além claro de um aparelho de rastreio de telefone com alguns homens andando usando o carro, mas nada que saísse do plano simples que o diretor quis para que seu filme tivesse um teor mais prático e menos aventuresco.

Enfim, é um bom filme do gênero de espionagem com um ar dramático bem denso e interessante de ser conferido, que muitos vão gostar de tudo, mas que certamente uma pesada maior na mão levaria o longa a outros patamares, mas que impacta e faz pensar, isso faz, então vale a dica para a conferida na Globoplay/Telecine no Festival do Rio, ou quando surgir nos streamings da vida. Então é isso pessoal, abraços e até logo mais.


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