Chega até ser engraçado a oscilação de estilos do diretor e roteirista Scott Derrickson, pois vai desde o terror considerado o mais assustador ("A Entidade") até blockbuster de herói ("Doutor Estranho"), e o mais incrível disso é que ele consegue em ambos os casos imprimir seu estilo em tudo o que faz, sendo daqueles que vamos conferir o longa já esperando uma ou outra sacada pontual e chamativa, ou algum personagem exagerado, e ele tem essa pegada bem trabalhada, que conseguiu transformar um curta de Joe Hill em algo que tem o tempo exato, não sobrando nem faltando, de forma que vamos conhecendo mais dos garotos desaparecidos no porão, vamos conhecendo um pouco da loucura do protagonista ali, e deixando no ar tudo o que possa ter feito com os garotos antes de matar, deixando no ar o motivo dele ser daquele jeito, e muito menos expressando o motivo de usar uma máscara, ao ponto que tudo é muito subjetivo, tudo fica naquela pegada de pensarmos várias possibilidades, e isso acaba sendo genial, mas que vai incomodar muitos que não entrarem no clima facilmente, pois vai ficar parecendo que faltou algo, e essa é justamente a ideia da tensão ali proposta, você não saber exatamente nada, e ficar com medo de tudo. E assim sendo são tantas possibilidades, tantos envolvimentos, e claro que o diretor brinca com o que ele é bom também: sustos gratuitos com aparições do nada, e tem pelo menos umas quatro cenas assim, que num primeiro momento xingamos, mas depois funciona demais. Ou seja, é um filme que faz a volta do diretor para suas origens, e mostra que ainda domina bem a arte de causar tensão, então é ver como deslancha daqui para frente, pois já disse no passado que seu potencial é gigante, e veremos isso acontecer com muita fé, do mesmo jeito que a garotinha protagonista briga com Deus em suas rezas.
Sobre as atuações, esse é o primeiro longa de Mason Thames, e o garoto mostrou muita personalidade, uma boa desenvoltura como protagonista dominando os ambientes com trejeitos sinceros e bem amplos, soube segurar o ar tenso nos telefonemas e nas atitudes, ou seja, fez de seu Finney um personagem carismático e complexo, com um bom ar de síntese que facilmente agrada com o que faz, e agora é ver como vai administrar a carreira, pois potencial tem. Agora quem não precisa mostrar que tem potencial, pois já sabemos o quão bom são suas atuações é Ethan Hawke, e aqui ele entregou um serial com tanta personalidade, com um estilo próprio de trejeitos, já que as máscaras tampam quase sempre seu rosto por inteiro, colocando intenções artísticas em cada nuance, e principalmente sendo perfeito na forma não tão explosiva na maioria dos atos, o que acaba dando um requinte e muita formatação para a trama toda, o que é belo de ver. A garotinha Madeleine McGraw também segurou muito em sua performance, trabalhando olhares, sendo doce e divertida nas conversas com Deus em suas rezas, mas também trabalhando ares tensos em seus sonhos e buscas, dando uma certa leveza nos atos de sua Gwen, e assim agradando demais. Quanto aos demais, tivemos bons atos com praticamente todos os garotos mortos, cada um da sua forma conversando com o protagonista, mas é claro que o jeito e a técnica de luta de Miguel Cazares Mora é o grande destaque com seu Robin, e claro vale também falar sobre o estilo do personagem de Jeremy Davies como pai dos protagonistas, pois teve cenas bem duras e marcantes, chamando muita atenção no que faz.
Visualmente o longa foi muito incrível no que fez tanto com os figurinos dos personagens para dar o ar dos anos 70, brincou com os sonhos utilizando toda a ambientação de bares e jogos, de elementos figurativos, e claro com um porão muito bem detalhado, aonde parecia não ter nada, mas que cada criança morta ali deixou algo importante para o próximo tentar escapar, com maquiagens bem intensas e fortes, com um ambiente podre de certa forma, e dando ainda a possibilidade de técnicas para os diretores de arte e fotografia brincarem com tudo, tendo uso de gramaturas diferentes nos sonhos, com texturas e ranhuras clássicas de como se fossem filmes caseiros, toda a simbologia de trejeitos na máscara do vilão, e claro as referências de abusos em tudo que é mostrado. Ou seja, é um filme que aparentemente não entrega tanto, mas que no fundo tem tudo muito forte e simbólico com cada elemento usado.
Enfim, é um tremendo filmaço do gênero, que tem muito o que ser visto na tela, tem muito que dá para se discutir, e que facilmente muitos irão odiar, e outros amar, sendo amplo para todos os lados, e como já disse dando para recomendar até mesmo para quem não é fã do gênero, pois acaba sendo quase uma aventura dramática dentro de um suspense/terror, e assim o resultado surpreende, e deixo a dica de irem sem esperar muita coisa, pois aí a certeza de entrar melhor no clima, conversar com os personagens como um senhor atrás de mim estava, ficar bravo com algumas burrices clássicas que fazem em cena, e tudo mais, sendo o pacote completo. Então fica a dica, e eu fico por aqui hoje, então abraços e até logo mais.
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