Diria que a diretora e roteirista Rosane Svartman foi muito esperta com o que fez, pois facilmente o longa sem toda a técnica empregada seria daqueles que alguns veriam para relembrar o livro, criar um saudosismo, mas sendo fraquinho demais acabaríamos esquecendo dele em uma hora depois da sessão, mas então como revolucionar o cinema nacional com o que tinha em mãos, e ela foi sagaz em empregar técnicas com uma equipe totalmente nacional, testando e aprendendo na raça para fazer com que as cenas "fantasmas" não fossem apenas meros efeitos como todo mundo já fez no After Effects, mas sim filmando debaixo da água, montando um estúdio completo numa piscina de 6 metros de profundidade, brincando com fluidez e movimentos de cabelo, de roupa, de vidros, bolhas e tudo mais, treinando os artistas para falarem sem fazer muitas bolhas e aprendendo técnicas de apneia, ou seja, algo gigantesco que será lembrado por muito tempo como a primeira a fazer isso aqui, e por incrível que pareça ficando um resultado lindo de ver na telona. Ou seja, volto no que disse no começo, é um filme simples, mas que vai marcar, e que talvez as crianças mais ingênuas até se divirtam com tudo, e assim o resultado completo chama mais atenção do que o envolvimento emocional que poderia ter sido colocado, mas que sairia talvez do texto do livro de Maria Clara Machado.
Sobre as atuações, sem dúvida alguma o destaque foi para as mil e uma facetas de Juliano Cazarré com seu Pirata Perna de Pau, de tal maneira que fez trejeitos fortes, foi caricato como o personagem pedia, mas sem desapontar em nenhum momento conseguiu entonar uma voz diferente da sua e ser malvado sem estragar a fantasia, ou seja, agradou demais em cena, sendo marcante e mancando muito bem. O garotinho Nicolas Cruz estreou muito bem com seu Pluft, sendo carismático na medida e fazendo doses bem infantis como o personagem pedia, até um pouco demais para falar a verdade, de tal modo que o personagem deveria ser de uns 10-12 anos, mas a mentalidade de uns 6 no máximo, e assim sendo foi envolvente, fez bons movimentos e expressões (que debaixo da água deve ter sido ainda mais difícil) e acabou agradando. Da mesma forma, Lola Belli conseguiu ser chamativa e trabalhou sua Maribel com uma doçura interessante, pois num primeiro momento a personagem parecia ser chata e inatingível, mas foi se envolvendo e entregou bons momentos e emoções mostrando que tem estilo. Fabiula Nascimento é um luxo só, tendo carisma e muito envolvimento para com sua Dona Fantasma, criando cenas complexas com muitos elementos cênicos, e fazendo trejeitos tão bem colocados que acaba sendo marcante e graciosa, de tal maneira que valeria ter até mais cenas dela no longa, mas aí viraria uma série, e sendo assim fez bem o que precisava agradando bastante. Quanto dos marinheiros, Arthur Aguiar (antes da fama e marra do BBB) como Sebastião, Lucas Salles como João e Hugo Germano como Julião foram daqueles que você ri de vergonha do que fazem em cena, de tal forma que cheguei a lembrar do saudoso "Os Trapalhões" com as desenvolturas do trio, e isso é bacana ao mesmo tempo que fiquei pensando o quanto devem ter pensado no que estavam fazendo, mas funcionou, e isso é o que importa. Quanto aos demais, a maioria foi encaixe de cena, com Gregório Duvivier fazendo um dono de Bar, Simone Mazzer como Merluza (cantando várias faixas da trilha) e José Lavigne como Tio Gerúndio, mas sem grandes destaques.
Agora visualmente o longa é incrível, com uma casa bonita mas destruída de forma artística no meio das falésias, com o mar na frente, todo o paredão para alcançar, dentro vários elementos alegóricos de casas mal-assombradas funcionais, um bar pirata clássico com música, brigas, bebidas e tudo mais, e até mesmo a escola religiosa com seu coral bonitinho foi bem funcional, além claro de entrarmos no quesito das cenas filmadas dentro da água que deram formas para os fantasmas, para os elementos que voam na tela e toda sua simbologia, ou seja, a equipe de arte fez um trabalho minucioso que vale demais ser destacado, e funciona demais. Quanto do 3D, a tecnologia ajuda a dar profundidade para muitos elementos, tem nas cenas com a Prima Bolha muitas bolhas voando para fora da tela, perfumes girando e claro técnica, volto a frisar esse ponto, pois é o que faz valer ver o filme.
Para quem quiser, outro ponto positivo e quase que inédito para um filme nacional, foi disponibilizado a trilha sonora do longa, que é bobinha, mas muito leve e gostosa que acabou dando um bom encaixe na produção, então fica aqui o link para escutarem depois de ver o filme.
Enfim, é um filme bem simples, bobinho e caricato no conceito de trama e história, não tendo nenhum envolvimento, moral ou simbolismo que faça a emoção ir além, mas é tão bonito visualmente, e com um resultado técnico tão elaborado que faz a nota ser melhor, e principalmente ser lembrado futuramente quando alguém perguntar sobre alguém que fez a diferença no cinema nacional, pois esse sem dúvida entra junto com "Zoom" como longas nacionais irreverentes e interessantes de ver. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas hoje ainda vou ver um filme do Festival do Rio no Telecine, então abraços e até logo mais.
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