Todos que me conhecem sabe o quanto eu bato nos atores que resolvem dirigir pela primeira vez, pois geralmente saem do eixo aceitável e não fluem como deveria, porém o feitio de Caio Blat aqui em sua primeira experiência de direção de longa-metragens foi tão boa, que nem sei o que os roteiristas Jorge Furtado e Guel Arraes pensaram quando decidiram que ele seria uma boa opção para a direção do filme, pois é uma trama jornalística teatral, com muito envolvimento e desenvoltura, algo que talvez alguns diretores de grande expressão errariam a mão, mas não, o jovem deu estilo para a trama, conseguiu ser muito criativo nas quebras entre os meses passados e os blocos do debate, dando as devidas nuances para que o filme funcionasse, e principalmente não se atreveu a ficar enfeitando algo que não precisaria, sendo cru e direto na opinião e na formatação que o filme teve. Ou seja, é um roteiro genial de dois grandes nomes do cinema nacional, que foi muito bem trabalhado por um novato, e assim sendo se ele continuar nessa pegada de bons roteiros vai decolar muito facilmente no cargo, mas claro que aqui teve uma ajuda quádrupla dos dois ótimos roteiristas e dos dois brilhantes protagonistas, e assim digamos que seu trabalho ficou mais fácil de não dar errado.
Sobre as atuações, nem tenho o que falar sem ser elogiar e aplaudir ao máximo o trabalho de Débora Block e Paulo Betti, pois ambos conseguiram entregar tanta personalidade para seus Paula e Marcos, que entramos no clima com eles até mais do que acabamos entrando com atores de uma peça, pois passamos a conviver com eles nos seus momentos na pandemia, vemos suas discussões a cada intervalo do debate regados a muito café e cigarro, e vamos entendendo cada vez mais seus atos com uma desenvoltura primorosa por parte de ambos, contando com boas reflexões, bons argumentos, e principalmente passando uma credibilidade nos ensejos que entregam, não ficando apenas numa opinião forçada, mas sim nos moldes que muitas pessoas fazem nas ruas, nas discussões de praças e claro nas discussões familiares, mostrando casos que facilmente veríamos em qualquer lugar hoje se observarmos casais de opiniões controversas sobre a política atual, mas sem sair na mão, apenas respeitando e argumentando, o que acaba sendo genial ver ambos se moldando e acertando com bons trejeitos e dinâmicas.
Visualmente o longa foca basicamente na redação do jornal, mais precisamente na sacada da TV Nacional, aonde os protagonistas passam quase todo o filme fumando, bebendo café e discutindo, num palco de apresentações com um grande telão, várias TVs exibindo o debate enquanto assistem, e claro todas as cenas no apartamento do casal, mostrando suas desenvolturas durante as várias épocas da pandemia, mostrando o começo com poucos carros e muitas motos de entrega, depois as idas isoladas aos mercados, até chegarmos no novo normal, junto com todo o processo de separação amorosa deles, que vai sendo desenhada com bons figurinos, cabelos e até mesmo objetos cênicos, ou seja, uma boa conexão de desenvolvimento da equipe de arte.
Enfim, não é um filme perfeito, pois tem alguns atos que se enroscam um pouco, alguns elementos que poderiam ser mais rápidos, mas toda a discussão é tão divertida, todas as sacadas são tão bem encaixadas, e tem tanto do nosso pensamento atual para ambos os lados estarem corretos na discussão que o resultado flui bem demais, sendo uma grata surpresa (sim, eu estava com muito medo do que veria, por nem ter visto algum trailer antes da sessão) e que vou recomendar com certeza para todos, afinal é obrigatório refletir sobre a política que vem acontecendo, então vá ao cinema e não perca. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.