Em seu primeiro longa, a diretora e roteirista Fernanda Valadez acabou se alongando em demasia com um road-movie diferenciado, porém foi bem precisa em mostrar como as cidades da fronteira entre México e EUA praticamente mudaram nos últimos anos, não sobrando mais praticamente famílias vivendo normalmente, mas sim o tráfico e guerrilhas entre os próprios fazendeiros, indígenas e pessoas que "vivem" de transportes ilegais, tendo matanças a rodo, fugas e tudo mais, numa terra praticamente sem leis aonde famílias acabam nem sabendo o que aconteceu realmente com quem tentou fugir dessa vida e ir para outros lugares, mas muito além disso, ela foi inteligente em dar um fechamento opinativo forte, tanto para a realidade que muitos optam em fazer, quanto pela atitude da mãe que mesmo analfabeta soube mostrar o que realmente queria, e assim o filme mesmo tendo uma fluidez lenta no miolo, entrega algo direto e com a mão da diretora, não largando para que o público reflita e fique flutuando. Ou seja, é uma saga com certos percalços cansativos de enfrentar, vemos trejeitos e dinâmicas que poderiam ser mais ficcionais para impactar mais, mas diferente da maioria desse estilo, a diretora deu seu vértice, e fez muito bem, o que melhorou o filme imensamente.
O principal feitio dos atores Mercedes Hernández e David Illescas foi trazer o mais natural possível para seus personagens Magdalena e Miguel, pois em diversos atos parecem ser pessoas comuns que foram contratadas para os papeis principais, mas não são atores muito bem trabalhados nas expressões, que conseguiram doar suas dinâmicas de formas tão convincentes que acabaram sendo marcantes, tanto que Mercedes levou muitos prêmios pela atuação, e demonstrou um carisma bem próximo ao que uma mãe realmente faria em seu lugar, e seus olhares foram perfeitos do começo ao fim, o que chama ainda mais atenção pelos desesperos, pelos envolvimentos, e claro pelos acertos cênicos que se pôs a fazer. Quanto aos demais, a maioria foi apenas encaixes bem trabalhados, com um leve destaque para Manuel Campos com seu Antonio, mas que poderiam ter legendado para ficar mais forte a cena, embora seja interpretativa, e talvez um pouco mais de emoção nas cenas de Ana Laura Rodríguez para sua Olívia funcionaria mais o papel ali, mas ao menos não atrapalhou.
Visualmente o longa tem atos bem intensos mostrando um país aonde muitos cruzam a fronteira para tentar ter uma vida melhor, outros são mandados de volta, mas principalmente foca nas pequenas cidades ao redor, que foram destruídas e dominadas pelos carteis, mostra uma paisagem seca, casas abandonadas, pessoas com medo de dar qualquer informação, muitas armas, isolamentos e tudo sendo bem representativo para o momento da protagonista, ao ponto que vamos sendo condicionados à um final, e somos surpreendidos pela essência completa mostrada de uma forma bem diferente que marca.
Enfim, é um filme diferente do usual, que funciona bem dentro da proposta, além de uma formatação bem próxima de festivais, que quem não for muito acostumado com tramas mais lentas é capaz de nem chegar na metade, se desinteressando pela dinâmica calma e mais simbólica, mas que volto a frisar que ao menos tivemos um bom final, representativo e impactante, principalmente pela atitude da mãe, e assim acaba valendo o resultado como um todo, então fica a dica. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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