Globoplay - A Felicidade Das Pequenas Coisas (Lunana: A Yak In The Classroom)

8/01/2022 01:01:00 AM |

Costumo dizer que alguns filmes simples são tão bem trabalhados na essência emocional que acabamos sentindo a necessidade de até ver mais exemplares deles para dar valor as coisas que temos, e quando a trama é bem feita, não tem como não se envolver com os personagens e sentir tudo o que passam na mensagem completa. Um ótimo exemplar que está rodando vários festivais ainda, e que muito brevemente deve ficar em tempo integral nos streamings é o longa butanês, "A Felicidade Das Pequenas Coisas", que além de trabalhar a simplicidade do campo numa aldeia no meio do nada do país, de conscientizar a valorização do simples, também coloca em cheque a profissão de professor, que para eles é algo quase que sagrado e extremamente importante por poder dar futuro para uma pessoa, ensinando ela as coisas úteis e necessárias para mudar de vida. Ou seja, é tão leve, tão gostoso e bem trabalhado nas nuances simples que vemos o filme com um calor gostoso no peito, e até emocionaria mais ver algo diferente no final, mas serviu de lição e o resultado agrada demais por ser bem simbólico também, mas sem exigir altos pensamentos e reflexões para entender a lição, e assim sendo vale muito a dica.

A sinopse nos conta que um jovem professor no Butão, Ugyen, foge de seu trabalho enquanto planeja ir para a Austrália para se tornar um cantor. Como castigo, seus superiores o mandam para a escola mais remota do mundo, uma vila glacial do Himalaia chamada Lunana. Ele se vê exilado de seus confortos ocidentalizados após uma árdua jornada de 8 dias apenas para chegar lá. Lá ele não encontra eletricidade, nem livros, nem mesmo um quadro-negro. Embora pobres, os aldeões dão as boas-vindas ao novo professor, mas ele enfrenta a difícil tarefa de ensinar as crianças da aldeia sem nenhum material. Ele quer desistir e ir para casa, mas começa a aprender sobre as dificuldades na vida das belas crianças que ele ensina e começa a ser transformado pela incrível força espiritual dos aldeões.

O mais bacana de tudo que esse é o primeiro longa do diretor e roteirista Pawo Choyning Dorji, ou seja, falo isso quase que todas as vezes que se vai iniciar na função o melhor estilo é o drama leve, e aqui ele acertou com tanta fluidez, com tanta representatividade nas situações, colocando emoções nas personificações e basicamente conseguiu criar um filme com um realismo quase que documental, pois entrou no meio das pessoas, deu as nuances da vila e soube trabalhar os diversos elementos com ares puros e certeiros, o que acabou sendo ficcional mesmo foi a vida do professor, seu sonho de ser cantor no exterior, pois os demais se duvidar são pessoas reais, que vivem ali, que se doaram para o filme e entregaram bons momentos, criando desenvolturas próprias e bem colocadas, que acabam emocionando e funcionando na ideia completa do diretor. Ou seja, é daquelas tramas que poucos imaginam criando, mas que passam sentimento e agradam demais, tanto pelo ar emotivo, quanto pelo ar representativo, e assim se tornam simples e completos.

Sobre as atuações, diria que Sherab Dorji entregou um Ugyen bem tradicional da juventude atual, desses que fazem um serviço já pensando em outro, com trejeitos meio que jogados num primeiro momento, com todos fazendo de tudo para ele, e ele nem aí, mas soube dimensionar tudo muito bem e ir se desenvolvendo com o decorrer da trama, chamando as cenas para si e agradando bastante com seus atos mais sutis, ao ponto que acabou mais interessante do que parecia num primeiro momento, e isso é muito bom de ver. Ugyen Norbu Lhendup foi quem mais se destacou na trama com seu Michen, e demonstrou um conhecimento gigantesco em cima de tudo, e talvez possa ser até sua a história real da trama, e sendo bem direto e chamativo conseguiu ser marcante em diversas cenas do longa, desde o começo da caminhada, até vários atos na aldeia, agradando bastante com o que fez. Ainda tivemos bons atos com Kunzang Wangdi com seu Asha bem simbólico como um grande líder e exemplo, com Kelden Lhamo Gurung com sua Saldon bem envolvente no canto, e claro pela ótima garotinha líder da turma Pem Zam, pois foi direta e certeira em todos os atos.

Visualmente a trama é bem interessante, mostra um lugar completamente remoto, com uma simplicidade bem trabalhada, mostrando desde as casas simples de cada um até uma escola praticamente sem nenhum recurso, aonde o jovem traz algo a mais para as crianças tão necessitadas de conhecimento, e isso acaba sendo bonito de ver na forma que ele pegou a escola e na forma que deixou, que acaba sendo agradável e muito chamativo por parte da equipe de arte, mostrando elementos simples desde o comparativo das botas e suas serventias, da cultura de beber e aceitar a bebida, e até mesmo de cada elemento ser funcional na forma toda da arte para ser bem representativo em tudo, ou seja, um grande acerto na simplicidade.

Enfim, é um filme que certamente ficará marcado na mente de quem conferir, pois entrega algo muito bonito e sensível, com um envolvimento gostoso e que por mais que não seja uma trama explosiva, cheia de conflitos e reviravoltas, consegue ter a dose certa de tudo que uma boa trama do gênero necessita, e assim sendo um grande acerto por parte de toda a equipe. Então fica a dica para todos conferirem quando puder, seja em algum cinema que esteja exibindo como parte de algum festival ou nos streamings que certamente devem colocar logo ele na programação, e eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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