quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Globoplay - Perfil (Profile)

Costumo dizer para os amigos jornalistas (principalmente os investigativos) que eles já não possuem alma mais, e nem precisam ir rezar, pois se existir inferno mesmo já tem lugarzinho garantido com vista para o fogo ardendo com tudo o que usam para conseguir suas matérias, e claro ganhar seu dinheiro "limpo", mas tem alguns que mexem em vespeiro com uma varinha tão curta que não tem como não sair sem algumas picadas, e o longa que estreou hoje no Telecine/Globoplay, "Perfil", é uma história real de 2014 quando uma jovem jornalista freelancer fez uma matéria sobre como era o processo de recrutamento de mulheres do Estado Islâmico, se envolvendo por conversas de vídeo com um jovem jihadista, e meus amigos, o filme começa morno, parece bobinho e simples nos minutos iniciais, logo ficamos na dúvida se vai dar em algo pelo formato ser quase todo filmado com a tela de um computador, aí a coisa vai esquentando, a jovem vai fazendo alguns atos complexos para melhorar a sua matéria, e tudo vai ficando tão forte que nas cenas finais você já está desesperado com tudo o que rola, e o final então arrepia até os pelinhos do dedinho do pé. Ou seja, um filme baratíssimo, com uma precisão incrível que vai fazer muita gente surtar com a formatação, e assim sendo recomendo ver num dia mais calmo, pois é completamente insano.

A sinopse nos conta que com o objetivo de investigar as técnicas de recrutamento usadas pelo ISIS para atrair mulheres para a Síria como esposas jihadistas, Amy Whittaker, uma jornalista freelancer, cria um perfil falso no Facebook. Quando um recrutador do ISIS entra em contato, ela encontra a oportunidade de experimentar o processo em primeira mão. Porém, com o passar do tempo, o limite entre sua vida real e on-line se dissolve.

Diria que o diretor Timur Bekmambetov foi tão preciso na montagem e na direção de seu filme, que a base encontrada no livro de Anna Érelle sobre sua história real foi totalmente transmitida para o público com algo que facilmente muitos nem classificariam como cinema, afinal vemos uma tela de computador e algumas imagens e conversas rolando, meio que quase nós estivéssemos no controle do que está acontecendo, como se fôssemos a jovem jornalista, e o resultado das situações só vão crescendo e ficando mais trabalhado, mais forte, mais angustiante, e quando vemos já praticamente estamos desesperados com tudo, e isso é algo que um filme muito bem gravado, com cenas criadas cheias de efeitos e representações expressivas certamente não passaria nem a metade. Ou seja, é um filme muito fácil de ser feito, se pararmos para analisar, mas que foi tão preciso e detalhado, que acabamos completamente envolvidos pela protagonista, pelo jihadista e por incrível que pareça pelo computador em cena, ao ponto que tudo funciona, agrada e acerta demais, numa perfeição completa, mostrando que o produtor que já fez dois filmes desse estilo de telas, vai ainda ganhar muito dinheiro fácil se arrumar sempre bons diretores.

Sobre as atuações é até engraçado falar isso, mas a jovem Valene Kane teve uma presença cênica tão forte com sua Amy que impressiona todo o seu domínio interpretativo, os olhares que faz para o homem do outro lado da tela, seu semblante mudando com técnica e precisão, de tal forma que sua voz impacta e seus trejeitos ajudam num nível máximo demais, e quase que diria que ela não precisaria nem se mover muito e ir em alguns outros ambientes para dar a cadência, de forma que o filme inteiro poderia ter sido gravado dentro de um quarto, ou seja, deu show. Da mesma forma, mas dependendo um pouco mais de interação, de efeitos em algumas cenas mais pegadas, mas também ganhando muito envolvimento nas cenas mais calmas, Shazad Latif acabou entregando muito para seu Bilel, de forma que foi expressivo, foi comunicativo, e acabou chamando muita responsabilidade cênica afinal ele é quem fica a maior parte do tempo em destaque na tela, ou seja, foi muito bem também. Ainda tivemos atos bem marcados com Amir Rahimzadeh como o técnico de informática Lou, que foi bem objetivo para a protagonista aprender em alguns segundos a dominar as gravações no computador, e Christine Adams bem colocada como uma chefe bem impositiva com sua Vick, mas sem grandes chamarizes expressivos, de forma que qualquer um poderia ter feito bem os papeis secundários, e digo mais, o papel do namorado e da irmã ao meu ver foram completamente desnecessários, servindo para dar um pouco mais de ênfase em algumas cenas, mas dispensáveis.

Visualmente nem dá para falar que a equipe de arte teve algum trabalho, na verdade um técnico de computação teve mais trabalho para que tudo fosse bem mostrado e convencesse o público dos movimentos e execuções na tela como se a moça estivesse fazendo tudo, mas precisaram criar ambiente para o fundo, tanto dela quanto dele se não gravaram as cenas realmente de explosões e de movimentos do jovem rapaz, algumas cenas em estúdios para a chefe, e outras na rua para o namorado passeando com o cachorro, mas tudo com muita simplicidade, com câmeras que passassem resoluções mesmo de celulares, e o resultado funcionou demais, mostrando um grande acerto por parte de todos.

Enfim, confesso que dei o play no longa esperando praticamente nada dele, achando até que iria odiar, pois alguns filmes desse estilo fizeram a febre na época da pandemia, alguns melhorzinhos, mas a maioria bem estranho de ver, e aqui o resultado acabou surpreendendo demais, envolvendo, criando tensão, e principalmente nos atos finais um desespero de arrepiar em nível máximo, ou seja, foi perfeito, e que só não darei a nota máxima para ele por colocarem momentos demais com a irmã e com o namorado, que daria para reduzir pelo menos uns 20 minutos de filme, mas do contrário vale cada segundo da trama. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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