domingo, 14 de agosto de 2022

Luta Pela Liberdade (Xuan ya zhi shang) (悬崖之上) (Cliff Walkers)

É até interessante ver obras de espionagem sem ser no estilão americano/britânico de ações, daqueles que ficamos desesperados com atos imponentes e cheios de reviravoltas brilhantes, pois como bem sabemos, os espiões e agentes são pessoas mais comuns e dispostas a enfrentar tudo com uma certa diplomacia do que fazendo lutas corporais gigantescas, tendo mais a base de códigos e sinais, e que muitas vezes acabavam sendo torturados ao máximo para liberar um mínimo de informações. Usando essa base, o premiadíssimo diretor e roteirista Zhang Yimou entregou um longa frio e intenso, cheio de conexões e desenvolturas com seu "Luta Pela Liberdade", aonde qualquer um pode estar por trás da investigação, pode estar do mesmo lado ou não, e que dificilmente você se conecta com cada personagem, pois pode estar te enganando e você nem notar. Ou seja, é daqueles filmes bem densos, mas também com atos marcantes de tiros e ataques, aonde a principal base é pegar as conversas, observar detalhes, e ver como um grupo de quatro agentes e alguns aliados sobreviveu no meio de muitos inimigos, sendo torturados, observados e tudo mais, sendo um filme que você não vê grandes atos explosivos, mas ainda assim não pisca com toda a sensibilidade técnica do diretor.

A sinopse nos situa no estado de Manchukuo, um lugar controlado pelo governo, na década de 1930, a trama segue quatro agentes especiais do Partido Comunista que retornam à China depois de receber treinamento na União Soviética. Juntos, eles embarcam em uma missão secreta com o codinome "Utrennya". Depois de serem vendidos por um traidor, a equipe se vê cercada por ameaças de todos os lados desde o momento em que saltam de paraquedas na missão. Os agentes vão quebrar o impasse e completar sua missão? Nos terrenos nevados de Manchukuo, a equipe será testada até o limite.

O cinema do diretor Zhang Yimou é sempre bem diferenciado, seja quando faz longas mais introspectivos ou quando resolve colocar grandiosas batalhas em suas tramas, e aqui ele ousou brincar com um tema mais denso que é a espionagem, conseguindo criar um clima bem frio tanto pelo tema, quanto pela época em que o longa se passa que é um inverno repleto de neve, incluindo cenas nas montanhas geladas, dramatizando todo o processo no meio de roupas pesadas e olhares fortes de inimigos que se passam por camaradas para tentar enganar os agentes, muitos elos e desenvolturas chamativas para tudo funcionar e envolver. Ou seja, é o tradicional estilo do diretor, só que numa trama que abrange suas duas principais forças de ação e de intimidação, que acaba floreando bem com cenas fortes de tortura, cenas dramáticas de olhares e diálogos marcantes que muitas das vezes ficamos na dúvida de que lado estão alguns, de como eles se portam e tudo mais, que só no final vamos entender melhor a proposta, e não sendo jogada apenas para o público que é sua marca registrada.

Por sempre termos ótimos atores orientais, os filmes acabam sempre soando confusos demais de interpretarmos quem é quem nos filmes, e aqui a situação fica ainda mais difícil embaixo de roupas imensas semelhantes demais e para piorar os agentes do governo ainda ficando misturados com os espiões acaba sendo algo que facilmente dá para se perder, mas sem dúvida alguma o principal e mais expressivo personagem ficou a cargo de Hewey Zu com seu Zhou jogando em ambos os lados, confundindo desde seu general que não consegue saber quem está lhe traindo, como também os espiões com algumas de suas atitudes, e que trabalhando com um semblante bem sério e forte, acaba envolvendo e chamando muita atenção nas desenvolturas de seu personagem, o que agrada demais e até comove em algumas cenas. A jovem Hailu Qin também foi bem comovente com sua Yu, trabalhando suas cenas sempre meio que em segundo plano, mas disposta a tudo e sendo meio que uma fotógrafa sem câmera com sua memória, o que agrada demais em toda a disposição e envolvimento emotivo nas cenas mais fortes do final. Ainda tivemos os jovens Yi Zhang e Yawen Zu que sofreram muito com as torturas e tiros, mas sem entregar seus parceiros, fazendo de seus Zhang e Chu papeis marcantes. E para fechar o grupo de agentes ainda tivemos Haocun Liu fazendo sua Lan bem dimensionada e com ares sérios e bem fortes, ou seja, um elenco bem trabalhado que deu o tom que a trama precisava.

Visualmente a trama teve um envolvimento cênico incrível de época, com carros no meio de muita neve, prédios fechados e bem representativos, muita desenvoltura no meio dos labirintos das casas e prédios, todo o envolvimento das cenas dentro e fora do cinema mostrando Chaplin com seu filme "Em Busca do Ouro", temos todas as máquinas e drogas de tortura bem exibidas, temos as cenas intensas no meio das montanhas, no trem com vários agentes e códigos sendo mudados, além claro de figurinos pesados e muito marcantes que deram o tom completo da fotografia preta e marrom do longa, sendo um trabalho minucioso e claro confuso num verdadeiro jogo de espiões.

Enfim, é um longa clássico e cheio de bons momentos, que a China apostou na indicação dele para o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar de 2022, mas que acabou não chegando tão longe nas premiações ocidentais, pois o estilo é intenso, mas não como disse no começo não é a famosa e explosiva trama de espionagem que esse público tanto gosta de ver, porém sem dúvida alguma é um tremendo filmaço que vale a indicação, e que estreando agora por aqui nos cinemas quem puder deve conferir. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...