O Palestrante

8/08/2022 01:17:00 AM |

O que mais gosto do estilo de Fábio Porchat é que ele brinca com assuntos que muitos teriam medo de jogar na tela, e ele mesmo acaba não se levando tanto a sério, deixando seus personagens sempre de um modo amplo para que o público se enxergue mais do que veja ele propriamente na tela, e aqui em seu novo filme "O Palestrante", ele entra no assunto do momento que são os coaches ou treinadores profissionais, ou motivadores com alguns se denominam, alguns mais renomados se colocam como mentores, ou até mesmo o básico palestrantes como é o nome da trama, e mostra que basicamente o que eles fazem que é notar o que a pessoa precisa e a enganar com frases bonitas que eles desejam a fundo receber, mas mais do que isso, o filme brinca com a ideia também de não conseguir sair de uma mentira muito grande e estar apaixonado por alguém que está recebendo essa mentira que é você, ou seja, algo bem complexo, cheio de desenvolturas e que o filme trabalha bem também. Porém, aí é que está o grandioso problema, o filme tenta se levar a sério, sem se levar a sério realmente, e se perde em alguns atos de junção, sendo então um grande conglomerado de boas esquetes, que funcionam e divertem, mas que com alguns ajustes daria para ficar um filme completamente melhor, que volto a frisar, não é ruim de forma alguma, mas faltou detalhes para ficar muito melhor.

O longa nos conta que Guilherme, um contador sem perspectivas que acaba de ser demitido e abandonado pela noiva, viaja para o Rio de Janeiro com o objetivo de resolver pendências da empresa que o demitiu. Sem encontrar um rumo na vida, ele é confundido com um famoso palestrante motivacional. Em um impulso de quem não tem nada a perder, assume o lugar do tal Marcelo, sem saber que se trata de um palestrante motivacional contratado para animar os funcionários da empresa de Denise. Guilherme tem que colocar todos pra cima, mas talvez ele também precise desse novo Marcelo para mudar de vida, e ao tomar seu lugar, ele vai tentar achar uma razão própria para viver.

O diretor Marcelo Antunez soube trabalhar até que bem o texto de Fábio Porchat e Cláudia Jouvin, criando todo o ambiente, dominando as ânsias mais expressivas e explosivas por parte de cada um, mas faltou um pouco mais de concisão para que seu filme fluísse melhor, pois tudo é amplo e muito fácil de acontecer, e mostra bem muitas dinâmicas que conhecemos e vemos os maiores coaches brasileiros fazendo com seus contratantes, além de boas dinâmicas nos bastidores das palestras, mas ele parece que sempre que o filme vai ir além, ele pega e abre a possibilidade para uma nova vertente e não deslancha a que começou, o que acaba irritando um pouco. Ou seja, é um filme com uma comicidade bem colocada, com vários tipos de piadas, desde as mais bobinhas até as mais pesadas, e que tem uma boa desenvoltura completa, porém que faltou uma melhor fluidez para que tudo fosse uma história só, e não várias sequências ora com um tema, ora com outro, que até se conectam de certa forma, mas que não tem um grande projeto maior. 

Sobre as atuações, já falei e volto a repetir que gosto demais do estilo de Fábio Porchat, e aqui ele entrega para seu Guilherme/Marcelo uma desenvoltura leve e bem direta, com um ar desesperado por estar fazendo algo errado (que é assumir a personalidade de outra pessoa e estar enganando até quem ele está gostando), mas também se entregando e desenvolvendo bem um alguém novo e que possa ser sua nova personalidade realmente, de forma que conseguimos nos conectar e até acreditar em seu personagem, o que acaba sendo bem legal e interessante de ver. Dani Calabresa foi muito bem encaixada com sua Denise, pois ela conseguiu criar algumas piadas em cima de sua personagem e sem forçar demais deu um bom tom para que a empresária se colocasse em segundo plano, de uma maneira bem trabalhada e engraçada, ou seja, não apelou para seu tradicional ar cômico, nem deixou de divertir, o que era exatamente o necessário na produção, e sendo a melhor amiga de Porchat, ambos conseguiram ter uma boa química nas cenas mais envolventes, embora tenham dito que foi bem difícil fazer elas. Agora quem foi responsável pelas piadas mais sujas e acabou sendo bem trabalhado foi Antonio Tabet com seu Josué, e a química da dupla dele com Maria Clara Gueiros, com sua Márcia, foi bem incorporada, cheia de nuances e sacadas bem colocadas, e acabaram tendo até mais participação do que provavelmente teriam originalmente, mas deram um bom tom que funcionou, e seus atos agradaram para ir além. No grupo dos funcionários da empresa, tivemos bons momentos com Otávio Muller, Paulo Vieira e Miá Mello, cada um trazendo seus ares tradicionais de comicidade, e jogando a bola para que os protagonistas rebatessem da melhor forma, e assim o resultado acabou sendo bem bacana, mas poderiam ter dado mais tempo de tela para que eles fossem além, o que não aconteceu. E quem acabou ficando com esse tempo de tela foi Rodrigo Pandolfo com seu Flávio, que até tem alguns atos bacanas, mas ficou meio que birrento demais para um papel que necessitaria um algo menos infantil.

Visualmente o longa foi bem simples, tendo inicialmente um escritório bem tradicional, com as várias baias e salas, tudo bem certinho e comum para representar a entediante vida do contador, com um chefe meio exagerado e piadista demais, temos também o apartamento que vive com a esposa dentista que lhe força a viver com mil regras dentárias para poder ter um relacionamento com ela, então vamos para um hotel no campo, com piscina, quadra e claro um salão de eventos aonde ocorrem as palestras e um refeitório também bem tradicional, sem grandes chamarizes, e claro com as tradicionais apresentações de powerpoint, ou seja, tudo bem básico, mas feito na medida para o resultado do filme.

Enfim, é um filme bacana, que dá para rir e se divertir com algumas boas sacadas, mas que certamente poderia ter ido mais além para funcionar melhor e ser realmente algo completo dentro do que propuseram inicialmente, não ficando um filme no meio do caminho que é algo que incomoda um pouco, de modo que diria que quem for buscando um passatempo divertido até vai gostar do resultado geral, mas quem exigir um pouquinho a mais irá reclamar bastante, e não é isso o que esperamos acontecer em um filme. Sendo assim recomendo ele, mas com algumas ressalvas, e fico por aqui hoje, voltando em breve com mais textos, então abraços e até lá.


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