A Viagem de Pedro

9/23/2022 09:56:00 PM |

Sempre que paramos para analisar a História do Brasil ficamos com muitos pontos em branco de situações que foram apenas contadas por quem conviveu, restos de alguns objetos e claro algumas pinturas, porém a "fuga" de Dom Pedro I foi algo que pouco material acabou sendo gerado, já que estava doente, louco com tudo o que estava acontecendo, e com uma tripulação que também não gostava dele, então o que podemos dizer do filme "A Viagem de Pedro" é que a diretora brincou bastante com os devaneios de alguém doente em alto mar, o misticismo dos tripulantes, e claro histórias que foram sendo contadas, que acaba agradando pela grande produção, pelos arquétipos das interpretações e claro pelo ambiente ficcional em aí bem montado numa trama conflitiva, que agrada bastante, mas que quem for esperando mais realismo não irá curtir tanto. Ou seja, vale pela dimensão entregue, pelos bons figurinos e pela essência entregue, mas que esperava um pouco mais de tudo.

O longa nos mostra um olhar intimista sobre a vida de Dom Pedro I e dos eventos históricos que giram em torno do príncipe, com atenção para um momento determinante de sua trajetória. Em 1831, o primeiro Imperador do Brasil volta à Europa sob condições adversas, no navio inglês Warspite. Diante de sua abdicação ao trono do Brasil, esse é um momento de profunda reflexão para D. Pedro I, que pondera os erros e acertos de sua administração desde o momento em que chegou no país com sua família aos 10 anos de idade, em 1808. A Viagem de Pedro toca em assuntos delicados sobre o imperador do Brasil enquanto volta para a Europa. Assuntos como sua masculinidade, epilepsia e sua suspeita de ter contraído sífilis e sua instabilidade emocional enquanto deixava seu filho no país e se separava dele. A representação intimista de Pedro mostrará como o tal se sentia traidor de Portugal e alguém sem pátria definida.

Como falei no começo, a diretora e roteirista Lais Bodanzky soube trabalhar bem usando as dinâmicas de uma ideia maior que talvez tenha vindo em sua mente e que de certo modo permitiu que o ambiente se desenvolvesse, porém em alguns momentos toda a loucura não tem um eixo para que o público acredite no que é mostrado, sendo assim uma ficção que força acreditarmos ou não no ela criou, e isso pesa bastante, pois usando uma montagem bem bagunçada mostrando o presente no navio e o passado em vários lugares tudo acaba conflitando demais, o que é um tremendo problema. Ou seja, ela acaba nos entregando algo incomum que até agrada mas que acaba perdendo a força no miolo, e assim sendo não empolga como deveria, mas que não acaba sendo ruim de ver por completo.

Quanto das atuações, diria que o foco primordial é todo de Cauã Reymond com seu Pedro, de forma que o ator soube desenvolver bastante trejeitos de delírios, trabalhou uma impressão bem intimista ao criar as personificações junto das diversas mulheres, e foi direto ao ponto para que o público mantivesse o olhar completamente em suas nuances, o que acabou sendo um bom acerto, mas talvez um pouco mais de explosão agradasse mais. Luise Heyer com sua Leopoldina, Victoria Guerra com sua Amélia, e Rita Wagner com sua Domitila, brincaram bastante com as devidas nuances das várias mulheres de Pedro, sendo acertivas nas personificações e agradando nos seus momentos mais tensos, que soaram marcantes claro pela sensualidade e pelos atos mais carnais bem feitos. Quanto aos demais, tivemos encenações bem trabalhadas de Francis Magee com seu Comandante Talbot, Welket Bunguê como o Contra Almirante Lars e Sergio Laurentino bem desenvolvido como Chef, entre vários outros que apenas tiveram algumas passagens pelo navio, e vale também as cenas mais dialogadas com Isac Graça fazendo Dom Miguel.

Visualmente a trama foi bem montada dentro de um estúdio que simulou bem os movimentos de um barco para as cenas internas, tudo bem recheado de muitos apetrechos que a corte fugiu levando, vemos muitas cenas de um grandioso barco, várias cenas nos palacetes, e claro tudo muito simbólico para juntar numa trama realista de ambientes e maluca de essências, valendo pela equipe de arte criativa que não economizou em nada na grandiosa produção.

Enfim, é um bom filme que talvez pudesse ter ido mais além, que agrada pelos atos marcantes e bem cheios de devaneios, mas que saímos da sessão parecendo ter faltado algo, e isso é um peso que poderiam ter minimizado. De certa forma recomendo ele com algumas ressalvas, mas vale como um retrato de nossa História que não é tão bem contada. E é isso meus amigos, eu fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.



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