Um Lugar Bem Longe Daqui (Where The Crawdads Sing)

9/03/2022 02:38:00 AM |

A principal coisa que os fãs de livros costumam reclamar quando sua obra favorita é adaptada para os cinemas é a de falta de detalhes, de não passar a sensação de leitura, ou até mesmo por mudarem demais os personagens principais, mas hoje mesmo sem ter lido "Um Lugar Bem Longe Daqui" posso dizer com toda certeza que ver o filme foi quase como passar duas horas lendo o livro, pois é notável o enfoque que a diretora deu para cada detalhe, vemos movimentos de mãos, toques em roupas,  movimento de cadeiras, detalhamento da forma de desenhar e tudo mais tão em evidência que apostaria fácil que tudo ali está no livro em minúcias, e isso é incrível de ver, pois nos conecta ainda mais com os personagens, vemos todos os elementos sendo bem trabalhados, e felizmente o filme entregou atos bons tanto de um romance quanto de um filme de julgamento com suspense envolvido, de forma que ficamos bem curiosos sobre o que realmente aconteceu com o morto, todos os detalhes da vida da protagonista reclusa, e claro seu esconderijo preferido que é a tradução literal do título que seria "Aonde os Lagostins Cantam", que aliás nem sabia que lagostim cantava, mas que para o longa tem uma referência marcante da forma de se esconder aonde não pode ser achada. Ou seja, é um bom filme, que tem estilo, e que mesmo sendo um pouco devagar, parecendo ser até maior do que é realmente, entrega tudo o que precisava e agrada com toda a formatação, valendo a indicação tanto para os fãs do livro, quanto para quem gostar de um bom romance com pitadas de drama e suspense.

A sinopse nos conta que abandonada por sua família, Kya Clark, também conhecida pelos habitantes da cidade de Barkley Cove como a Garota do Pântano, é misteriosa e selvagem. A jovem Kya vive isolada na pequena cidade da Carolina do Norte, e o filme segue duas linhas temporais: A primeira sobre as aventuras da menina, e a segunda é sobre a investigação de um assassinato de uma celebridade local na cidade fictícia de Barkley Cove. Enquanto a história acompanha o amadurecimento da jovem criada pelos pântanos do sul dos EUA na década de 1950, quando o figurão da cidade é encontrado morto e inexplicavelmente ligado a Kya, a Garota do Pântano é a principal suspeita em seu caso de assassinato. Baseado no romance de Delia Owens.

Diria que a diretora Olivia Newman foi muito bem no desenvolvimento da trama que a roteirista Lucy Alibar criou em cima do livro best-seller de Delia Owens, pois conseguimos captar todas as sínteses na tela, sem precisar de grandes explicações, não é necessário ser um devorador do livro para entender cada nuance presente no filme, e principalmente soube entregar um livro nas telas sem precisar capitular tudo, nem ficar demarcando as viradas de página, mas ainda assim entregando todas as sínteses e envolvimentos. Ou seja, o resultado do trabalho da diretora é expressivo em nível máximo, e consegue ser criativo sem forçar a barra, sendo daqueles que você irá lembrar pelo bom feitio, e claro alguns irão até ficar com vontade de ler o livro para comparar as cenas, sendo um trabalho meticuloso que muitos diretores de longa bagagem errariam a mão, e ela em seu segundo longa acerta com primor. Claro que dá para reclamar do ritmo, dá para reclamar de alguns fãs-services, mas tudo é visual, tudo funciona bem, e envolve, então é aceitável e agrada mais do que atrapalha.

Quanto das atuações, Daisy Edgar-Jones trabalhou bem sua Kya, usando um ar bem tímido, misterioso e com nuances bem propícias para o que a personagem necessitava, ao ponto que não ficou como um bicho do mato, mas também não foi extremamente saidinha, de forma que convenceu com todas as cenas que fez, e soube segurar bem as pontas da trama tanto com boas expressões, quanto na entonação da narração completa do filme, ou seja, acertou em cheio. Taylor John Smith conseguiu o feito de ser um bom galã e envolver bastante com o charme de seu Tate Walker, sendo doce e bem trabalhado, não explodindo e nem fazendo exageros cênicos, de forma que costumam ser bem os galãs de livros, e claro seu ato de não aparecer é o clássico do estilo, ou seja, agradou bem com o que fez. Da mesma forma Harris Dickinson fez o famoso cafajeste com seu Chase Andrews, de modo que dá vontade realmente da moça o matar com o que ele fez, não só pelo abuso, mas sim o jeito da troca, a forma de conversa, e tudo mais, sendo completamente moldado e chamando atenção com o que fez em cena. Agora sem dúvida todo o envolvimento caiu em cima de David Strathairn com seu Tom Milton, pois além de um personagem fofo, que entende a garota, a defendeu no melhor estilo que um bom advogado deve se portar, entregando boas nuances e chamando toda a pauta para si, sem desviar da garota protagonista, ou seja, foi marcante sem levantar a bola e a usar, agradando demais. Ainda tivemos boas cenas com Michael Hyatt com sua Mabel e o envolvente Sterling Macer Jr. com seu Pulinho, que certamente no livro têm ainda mais atos marcantes, mas que acertaram bem no tom e envolveram nos atos que foram colocados, se destacando bem entre todos os demais personagens do filme, que foram bem usados, e acertaram na medida, valendo inclusive pontuar o quão bom foram as expressões de Jojo Regina como a versão jovem da protagonista. 

Visualmente o longa contou como já disse com muitos detalhes, desde as diversas penas e conchas de animais da região, mostrando bem o simbolismo da casa e do ambiente aonde a garota cresceu e aprendeu a enxergar tudo ao seu redor, a casa simples bem decorada para passar ainda mais um ar rústico sem ser forçado, sendo graciosamente preparado, temos boas cenas nas praias, e claro mostrando bem o pântano e o brejo em seus contrapontos, marcando bem tudo ao redor, e funcionando muito cenograficamente, além disso tivemos bons atos dentro do julgamento, e até uma cadeia simples, porém marcante, e também algumas cenas na cidade com mais pessoas aparecendo, e claro a mercearia do Pulinho sendo bem marcante, ou seja, um trabalho precioso por parte da equipe de arte, que com certeza devorou o livro para se ater a cada detalhe para os fãs sentirem a presença que imaginaram ao ler.

Enfim, é um filme bem marcante, com nuances fortes bem trabalhadas, que como já disse agradou em dois gêneros que é difícil de trabalhar, e ainda mais juntar, que é o romance e o suspense dentro de um julgamento, e assim sendo o resultado agrada bastante, funciona, e que só não é melhor por não ter um ritmo mais cadenciado, porém acredito que se acelerassem mais, acabaria incomodando mais do que agradando, então vou dizer que funcionou mesmo não sendo mais explosivo. Ou seja, é daqueles filmes que vão chamar muita atenção ainda, que muitos fãs do livro irão conferir, e até mesmo os fãs de Taylor Swift vão assistir para ouvir a canção tema criada pela compositora apenas para o filme, mas foi usada apenas nos créditos, então talvez reclamem disso. Sendo assim recomendo o longa com certeza, e fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

PS: Talvez até daria para dar uma nota maior, mas o ritmo me cansou um pouco, talvez também pelo horário da única sessão legendada, então vou tirar um pontinho dele, porém ainda assim é um ótimo filme.


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