quarta-feira, 26 de outubro de 2022

A Acusação (Les Choses Humaines) (The Accusation)

Diria que muito mais do que a condenação do jovem no longa "A Acusação" é ouvirmos e refletirmos a frase que seu pai diz para a atual esposa bem próximo ao fim quando lhe é indagado "e se fosse o inverso, se fosse a filha dele que tivesse sido violada ao invés do filho que violou, qual seria a atitude dele?". Pois bem, essa é a principal dinâmica que nos faz pensar sobre o longa, que estreia na próxima quinta (27) nos cinemas, pois em diversos momentos ficamos pensativos sobre as declarações da garota, sobre tudo o que o jovem falou e também o que ambos omitiram, afinal foi consensual ou não? A garota só denunciou por saber que era uma aposta? Ou o que? E tudo isso faz com que o filme ficasse ainda melhor, cheio de nuances, cheio de ótimas desenvolturas tanto pelos pais dos protagonistas, quanto pelos próprios atores, e muito mais pela defesa e acusação, aonde nos ensejos finais entregam discursos incríveis que pessoas que amam filmes de julgamentos (como é o meu caso!) ficasse na torcida de um fechamento bem preciso por parte do diretor, afinal queremos sua opinião final, e assim sendo, o longa tem seu fechamento bem mais morno do que algo impactante, mas volta na cabeça a frase do pai, a imagem da garota saindo do depósito, seus olhares, e pronto, você fecha a opinião de tudo, e só pensa em uma coisa: aplaudir o filme, pois valeu cada minuto dos 138 de exibição, não tendo espaços para cenas soltas ou pequenos deslizes, mas sim um filme perfeito que torço para que todos possam conferir o mais breve possível, afinal é tudo o que precisamos no atual momento.

A sinopse nos conta que Alexandre, é um filho exemplar, que estuda em uma prestigiada universidade americana. Durante uma breve visita a Paris, Alexandre conhece Mila, filha do novo companheiro de sua mãe, e a convida para uma festa. No dia seguinte, Mila denuncia Alexandre por estupro, que destrói a harmonia familiar e inicia um complexo julgamento que apresenta verdades opostas.

Diria que o diretor e roteirista Yvan Attal é um fã nato de julgamentos, pois seu longa anterior trabalhou a vida de uma garota e seu professor na faculdade de direito, sendo incrível por sinal para quem não viu "O Orgulho", mas agora ele pegou o livro de Karine Tuil e colocou em cheque uma discussão grandiosíssima de lados de uma decisão no caso de uma acusação de estupro, afinal assim como o júri, não vimos o ato acontecer, que vai nos sendo mostrado aos poucos durante o julgamento, e somente no final vemos tudo de uma forma ainda assim não precisa, mas que acaba valendo toda a dinâmica, todas as imponentes falas dos advogados tanto de defesa quanto de acusação, e que entra no caso toda a parte reflexiva também do ato do pai do garoto, já que está em discussão a vida de um jovem e também o brio de uma garota, então temos os motivos, temos a dinâmica e principalmente temos nossos conceitos, sejam eles morais ou não, e assim sendo a direção de Attal é impecável, pois abre todas as nuances possíveis e brinca com algo bem sério, que vale muita discussão. Ou seja, é daqueles filmes que valem a sessão, que vale ser colocado numa palestra, e que vale muita discussão, pois é amplo e muito bem feito.

Sobre as atuações, é até engraçado falar, mas o protagonista e filho do diretor Ben Attal não sobressai em momento algum, fazendo bons trejeitos com seu Alexandre, sendo explosivo na medida e contido nos atos de julgamento, mas ficou literalmente aonde deveria: sendo julgado e defendido, e isso ao mesmo tempo que é bom pelo que o papel pedia, é ruim também por não dar tantas nuances para o personagem, ou seja, fez alguns atos bem colocados, mas em alguns momentos até esquecemos que ele está ali, podendo ser até um boneco que faria o mesmo papel. Já a jovem estreante Suzanne Jouannet entregou atos bem marcantes e expressivos para sua Mila, segura de trejeitos, trabalhando olhares e desenvolturas, e sendo bem segura para todas as contra-acusações que a defesa lhe jogou, agradando bastante e mostrando futuro no cinema. Diria que Charlotte Gainsbourg entregou uma mãe bem colocada, mas ficou meio que em cima do muro com a expressividade que precisava para o momento, pois começa dando uma patada nos outros, mas na hora que é o seu filho ficou morna demais, ao ponto que era isso o que precisava mostrar no filme, e assim até foi um bom acerto, mas poderia ter ido além. Da mesma forma, Pierre Arditi trabalhou o seu Jean como aquele mal exemplo, do grande chefão de TV que leva a estagiária para casa, que trabalha bem nas palavras e logo leva para cama, mas na hora de defender tem todo o lado machista, que o filho pode, mas com a filha mataria, ou seja, caiu bem no personagem. Agora sem dúvida alguma o melhor ator do longa foi Benjamin Lavernhe como advogado do garoto, sabendo entregar os pontos marcantes, dominando o ato teatral de um julgamento, e sendo expressivo na medida sem chamar exageros cênicos, nem ficar acuado, dando show literalmente. E embora tenha aparecido pouco, tivemos bons momentos de Judith Chemla como a advogada da garota, e Mathieu Kassovitz acabou sendo marcante também nos seus poucos momentos, o que funciona para a proposta.

Visualmente o longa é bem simples, tendo um bom comparativo de casas do pai do garoto com todo o requinte de alguém com anos de televisão, com vários ambientes, e da mãe já num lugar menor, não vemos tantos símbolos da família judia na casa da garota, com bem poucos elos, mas é falado, então está valendo, e todo o ambiente do tribunal foi muito bem montado, com um amplo salão, com júri e juízes sentados lado a lado em algo que nunca tinha visto, todas as conversas ali, e claro mostrando sempre aos poucos como foi a festa, como foi o processo do crime, em uma montagem singela, mas muito bem feita.

Enfim, sou suspeito de ter gostado tanto da produção toda, pois adoro o cinema francês e amo filmes de julgamentos, principalmente quando bem inteligentes e desenvolvidos como é o caso aqui, que não vai surpreender ninguém, não é algo que caia seu queixo, mas que faz refletir todas as nuances, toda a ideia, o crime em si, o lance do seu lado ou do outro lado e muito mais, então fica a dica para que todos vejam, seja nos cinemas de sua cidade (sei que nem todas trazem a maioria dos filmes, mas quem sabe deem sorte), ou quando chegar nos streamings ou para locação, pois vale demais cada minuto de tela. E é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos.

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