sábado, 15 de outubro de 2022

A Conferência (Die Wannseekonferenz) (The Conference)

Existem alguns filmes que você quer ver toda a produção, o ambiente, o desenvolvimento dos personagens e tudo mais que faça você entrar de cabeça na trama, mas tem outros que você olha e vê que facilmente caberia num palco sem nada, pois o texto é tão forte e imponente que fala sozinho com o público, e se olharmos o ambiente do longa alemão "A Conferência" é uma mansão lindíssima ao redor de um belo lago, com uma paisagem deslumbrante, mas que lá dentro foram tomadas algumas das decisões mais horrendas e desumanas que o mundo já viu em sua existência, e se vermos a naturalidade dos personagens em pensar como gastariam menos para dar uma solução final para os judeus da Europa toda, se indagando com algumas contas que iriam cansar demais os seus soldados e tudo mais, que chegam a doer na alma inteira, e sim o filme foi baseado em algo que aconteceu, e que brilhantemente foi muito bem representado na tela por atores que se expressaram com olhares fortes e dinâmicas tão bem colocadas em um único ambiente que chega a ser traumático. Ou seja, é um filme denso de uma reunião, que durou menos que 100 minutos expressa muito mais terror nos olhares dos protagonistas que vários filmes de terror mesmo, valendo como uma trama biográfica, mas também como uma reflexão de como a humanidade se perdeu por completo ali.

A sinopse nos conta que em 20 de janeiro de 1942, representantes de alto escalão do regime nazista alemão se reuniram em uma idílica vila no Great Wannsee, no sudoeste de Berlim, para uma reunião que ficou para a história como a Conferência de Wannsee, por causa de seu alcance, fatalidade e consequências, talvez a conferência mais terrível da história humana. Estão presentes 15 líderes da SS, do NSDAP e da burocracia ministerial. Eles foram convidados por Reinhard Heydrich, chefe da polícia de segurança e do SD, para uma "reunião seguida de café da manhã". O tópico exclusivo da discussão de aproximadamente 90 minutos é o que os nacional-socialistas chamaram de "Solução Final para a Questão Judaica", que significa a organização burocraticamente planejada do assassinato em massa sistemático de milhões de judeus de toda a Europa.

Diria que o diretor Matti Geschonneck foi muito preciso no estilo que desejou representar na tela, pois como se sabe a reunião foi bem curta, com pouco mais de 90 minutos, com os líderes chegando para um breve café da manhã, algumas discussões e depois voltarem para seus postos, e ele não quis nada de muito fora da base, tendo algumas conversas paralelas numa varanda, outras alfinetadas de ego durante a boquinha livre, mas todo o processo mesmo concentrado nas três mesas, aonde ele pode passear com sua câmera no meio e pegar as melhores expressões sérias e marcantes em cima do tema, pois como bem se pensava na época enxergavam os judeus como bichos realmente, uma praga que precisava ser destruída como alguns falavam, e toda essa dinâmica de discussões, de apresentações dos projetos das câmaras de gás para economizar balas e até os próprios soldados, afinal os próprios judeus iriam tirar os mortos para terem "algo especial" cedido, ou seja, é um texto fortíssimo que é dito com muita facilidade pelos protagonistas, e isso tornou o filme forte e brilhante para algo simples e digamos até bem fácil de ser produzido.

Quanto das atuações, todos entregaram trejeitos bem fortes e dinâmicas muito bem colocadas nos devidos atos, mas como é uma reunião aonde todos estão sentados discutindo, não tivemos grandes expressividades e momentos chamativos que fizessem nenhum dos 15 se destacar tanto, mas vale claro chamar a atenção para Philipp Hochmair com seu Heydrich bem direto nas colocações, chamando sempre o ato para si, e claro botando todos os pingos nos is das dúvidas dos demais de como seria o processo, mostrando um ar bem fechado mas completamente feliz com os resultados atingidos. E do lado oposto Godehard Giese com seu Dr. Stuckart discordando de algumas ideias, sugerindo outras, e com um ar não tão amplo fazendo meio que um desdém de todo o processo, sendo também bem marcante na mesa. Ainda tivemos Frederic Linkemann com seu Dr. Lange, que trabalhou muito feliz em cena, demonstrando um carisma por conta do que o personagem tem feito no leste do país, e o ator soube entregar carisma e atitude, algo que sabemos que muitos desses generais nunca tiveram.

Visualmente nem tenho muito o que falar, afinal já repeti diversas vezes que o ambiente do longa facilmente poderia ser um palco em qualquer teatro simples, afinal é uma reunião com 3 mesas, várias pastas e papeis, figurinos padrões dos generais nazistas, alguns cafés, comidas e conhaques, tudo dentro de uma mansão incrível ao redor de um belíssimo lago, mas que não usaram nada do ambiente, afinal a reunião foi ali fechada e muito bem representada. 

Enfim, é um filme com um texto interessantíssimo, que envolve e faz você nem piscar durante toda a discussão, que mesmo sendo algo terrível o que gerou na história real ainda vale pelos ótimos diálogos imponentes e que falam sem humanidade alguma, e que funciona demais, então se você não ligar para a força da trama, pode com toda certeza assistir ele assim que estrear nos cinemas no dia 03 de novembro, então fica a dica, e eu fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da A2 Filmes que tem mandado seus longas para apreciarmos, então abraços e até logo mais.

PS: Só não dei nota máxima para o filme por achar que poderiam ter usado mais o ambiente, mas essa não era a proposta, então fica valendo o que foi entregue!


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