sábado, 22 de outubro de 2022

Amazon Prime Video - Argentina, 1985

Quem lê meus textos já há algum tempo sabe que um dos estilos que mais gosto de ver é o tal de filmes de julgamentos, pois é sempre bacana ver a defesa e a promotoria se pegar e desenvolver tudo com testemunhas e tudo mais, mas juntar a isso todo o processo do medo dos envolvidos em acusar os generais da ditadura argentina por uma comissão civil com as devidas ameaças, o processo de busca de provas e tudo mais resultou em uma trama real tão imponente que fez o longa "Argentina, 1985" ficar imponente e marcante, cheio de grandes nuances e claro da ótima expressividade de Ricardo Darín, que entregou o promotor do julgamento mais famoso que a Argentina já teve. Ou seja, é daqueles filmes que impactam tanto pela história quanto pela presença cênica dos personagens, pela tensão criada pelo julgamento, pelos atos de provocações, pelo desenvolvimento intenso e claro pelo ótimo discurso final, sendo daqueles que contam um período fortíssimo do recomeço da Argentina após um período negro de ditadura, e que funciona bastante pelas escolhas dos atores e do ambiente, retratando bem a história real.

O longa é inspirado na história verídica dos promotores Julio Strassera e Luis Moreno Ocampo, que em 1985 ousaram investigar e processar a ditadura militar mais sangrenta da história argentina. Sem se deixar intimidar pela ainda considerável influência militar na frágil nova democracia, Strassera e Moreno Ocampo reuniram uma jovem equipe jurídica de heróis improváveis para a batalha de Davi contra Golias. Sob constante ameaça a si e às suas famílias, correram contra o tempo para fazer justiça às vítimas da junta militar.

Diria que o diretor Santiago Mitre foi muito cauteloso com a forma de entregar sua trama, mas também soube ser bem direto no assunto, não fazendo rodeios nem firulas para que o filme ficasse leve, mas mostrando com uma forma bem artística como é quase um teatro propriamente um julgamento, e o mais engraçado é que o grande amigo do promotor é um diretor teatral, então vemos atos de montagens e todo o processo de uma turma jovem, afinal todos os velhos advogados fugiram com medo de enfrentar os generais, aliás mostrando que até mesmo o protagonista torcia para que não fosse o responsável pelo julgamento, afinal estaria mexendo com peixes bem grandes. Ou seja, é um filme amplo, que vemos um desenvolvimento bem direcionado, com todas as devidas nuances funcionando, e que a direção trabalhou ângulos marcantes, usou imagens de arquivo, afinal o julgamento todo foi transmitido em rede nacional de TV e rádio, e soube principalmente em usar bem toda a representação cênica mista nas palavras, mostrando a seleção da equipe jovem, todos os atos na casa e no escritório do protagonista, e até mesmo alguns atos bem fortes na festa de família do promotor adjunto que era de uma família militar, fazendo com que o filme ficasse bem forte, mas também marcante e sem apelos, o que é uma característica incrível do cinema argentino.

Sobre as atuações, nem dá para falar nada, só aplaudir mesmo, pois Ricardo Darín mostra que é mestre no que faz, e entrega com muita perfeição de tom, de gestual, de desenvoltura seu Julio Strassera, com nuances tão perfeitas e expressivas que sentimos seu medo num primeiro momento, depois sua vontade para com tudo, e por fim sua glória, conseguindo chamar o filme praticamente todo para si, sem atrapalhar que os outros brilhassem também, e se doando ao máximo, ou seja, perfeito como sempre. Não lembro de ter visto nenhum filme do jovem Peter Lanzani (e olha que tem alguns na minha lista sem dar play, será a hora?), mas posso dizer que o que fez com seu Luis Moreno Ocampo hoje o qualifica para entrar nos nomes dos grandes atores argentinos que conheço, pois dominou o ambiente, conviveu com militares em uma festa, expressou medo na cena da possível bomba e nos atos que foi seguido, e principalmente foi muito a campo com os demais da equipe, montando tudo e sendo bem preciso e expressivo, o que acabou resultando em um completo manuseio de personagem. Ainda tivemos bons atos com Claudio Da Passano como o amigo diretor de teatro Somi que orienta a postura do protagonista para seus discursos, Alejandra Flechner como a esposa do protagonista, bem colocada ajudando e atrapalhando o nervosismo do personagem, mas entre vários outros que foram muito bem vale o destaque do garotinho Santiago Armas Estevarena que encaixou muita personalidade como filho do protagonista, sabendo contar as histórias que viu nos momentos certos com um floreio de voz tão bacana que agrada demais com olhares e dinâmicas perfeitas, mostrando tem futuro na atuação.

Visualmente o longa foi bem representativo no apartamento da família do protagonista com tudo muito bem organizado e tradicional, vários atos no escritório da procuradoria inicialmente apenas com ele e sua secretária, mas depois com toda a equipe de jovens coletando e montando todas as provas e testemunhos, temos vários atos com os jovens andando pelo país atrás de pessoas que pudessem testemunhar sofrendo ameaças por parte da polícia, e principalmente a maior parte do filme dentro do tribunal, com testemunhos fortes, câmeras em vários ângulos, imagens da época misturadas com as do filme e trabalhando também texturas, o que deu um show completo para emocionar e vivenciar tudo o que aconteceu, inclusive com figurinos perfeitos que durante os créditos ainda podemos ver as imagens reais e comparar.

Enfim, é um tremendo filmaço que envolve demais e agrada tanto pela forma histórica muito bem representada, quanto pelos atos marcantes mostrado e todo o excelente julgamento bem imponente e cheio de depoimentos fortes e intensos, sendo daqueles que certamente lembraremos quando alguém pedir uma boa indicação, e valendo cada minuto de tela. Só não vou dar nota máxima para o filme por um único motivo, como são mostrados muitos meses que durou todo o processo, acabaram correndo um pouco com tudo, não mostrando talvez elementos que marcaram a época, mas tirando esse detalhe, o filme é incrível e recomendo demais. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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