Por ser um filme bem simples, mas muito desenvolvido e que pegou muito da história real dele, diria que o diretor e roteirista Gaspar Noé soube controlar sua ansiedade e explosão para que o filme tivesse todas as devidas nuances emocionais bem retratadas, toda a sensibilidade por mostrar a casa de um diretor de filmes completamente bagunçada de livros, roteiros e textos, e ainda dar as devidas colocações da doença, pois embora não fique claramente mostrado que o pai também tem um pouco de demência, vemos que ambos estão muito velhos, e que oscilam bem entre dias bons e dias ruins na sua vida e desenvoltura, ao ponto que não tem como não se conectar com eles, e a sacada de dividir a tela (coisa que só em filmes cômicos costumam trabalhar, em pequenas cenas, não num filme inteiro) foi muito bem trabalhada para que não perdêssemos nenhum de vista, e que mesmo que o olhar recaísse mais para um lado em determinado momento, ao que o outro se movimentava você já pegava a ideia ali. Ou seja, é um filme aonde a direção e a história fazem o milagre, mas que os protagonistas colaboraram para que ficasse ainda melhor, e assim sendo a obra pode até parecer cansativa com seus 142 minutos, mas o resultado completo é lindo e muito bem feito.
E falando das atuações, muitos vão estranhar o nome do primeiro ator, mas sim é o famoso diretor italiano Dario Argento fazendo o papel do pai, e com seus 82 anos segurou muito bem toda a expressividade necessária para o papel, transmitiu sentimentos com olhares e falas mais dosadas, e sendo diretor há tantos anos soube entregar para o diretor da trama aqui muitas nuances bem encaixadas, envolvendo bem e sendo marcante, o que faz valer cada momento seu. Agora sem dúvidas todos os aplausos recaem para Françoise Lebrun como a mãe com demência avançada, andando sem rumo, indo para um lugar e chegando em outro fazendo trejeitos fortes e emotivos, e passando um envolvimento para o público tão emocional, tão marcante e sentimental que não tem como não se conectar a ela, dando literalmente um show do começo ao fim. E por fim, mas não menos importante Alex Lutz também entregou muita personalidade para seu Stéphane que deu as nuances certas para um filho que não pode falar muito por seu passado/presente no meio das drogas, mas que soube ser bem expressivo e marcar cada um dos seus atos junto dos pais com olhares e envolvimento na medida.
Visualmente a trama mostra um apartamento bem bagunçado, com muitos livros e coisas espalhadas, remédios aos montes tanto pelos que os velhinhos tomam, quanto pôr a protagonista ser uma ex-médica ficar fazendo suas receitas e indo até a farmácia pegar mais produtos, e vemos ela mexendo com roupas, indo para os vários cômodos, saindo perdida de seu apartamento pelas ruas, revirando os papeis do marido, e até mesmo tentando se matar, e da mesma forma vemos o marido escrevendo seu livro, conversando com amigos no telefone, participando de reuniões, e tudo mais além claro de seus ambientes preferidos no apartamento. Ou seja, uma representação visual bem imponente pelo ambiente bagunçado, mas que bate uma certa depressão ao vê-lo vazio no final, e aí entra tudo o que ouvimos no rádio no começo pela representação da morte, e do vazio que fica nos familiares.
Enfim, é um filme bem diferente tanto pelo desenvolvimento da história, quanto pelo formato de tela com duas janelas menores, mas que passa bem a mensagem e funciona demais dentro da síntese completa da doença, do luto, e da família conturbada em si, e assim sendo vale demais a recomendação para todos, que certamente irão se emocionar com vários atos mesmo que não tenham ninguém na família assim, mas quem tiver o baque será um pouco maior. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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