sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Netflix - Nada de Novo no Front (Im Westen Nichts Neues) (All Quiet on the Western Front)

Acho que já falei tanto de filmes de guerra que já nem sei mais o que de novo pode aparecer, mas é engraçado que nunca assisti ao ganhador do Oscar de 1930, "Sem Novidade No Front", e eis que agora o indicado da Alemanha ao prêmio de Melhor Filme Internacional é uma refilmagem do clássico, agora distribuído pela Netflix, chamado "Nada de Novo no Front", e para quem assim como eu não viu o original, esse passa a ser o que vamos conhecer sobre a vida dos jovens soldados do lado alemão na Primeira Guerra Mundial, e posso dizer facilmente que pode ser muito bem encaixado no grupo dos melhores filmes envolvendo guerras, com cenas fortes, batalhas imponentes, e claro toda a loucura patriótica dos jovens querendo ir lutar por algo que nem eles sabem o motivo direito. Ou seja, são 147 minutos intensos aonde acompanhamos bem a vida de um jovem por alguns meses, perdendo os amigos, entrando em combate, lutando pela vida, se divertindo em alguns momentos, roubando para comer melhor e até mesmo se jogando nos minutos finais no meio do caos por ordens de generais malucos, numa trama quase que sem cores, aonde só malucos mesmo para saber quem estava de azul ou de verde para atirar e atacar, e que envolve do começo ao fim, não tendo tempo nem para piscar com todas excelentes atuações e dinâmicas. E sendo assim, acreditaria fácil se o filme fosse indicado para mais prêmios do que apenas Filme Internacional, pois tem tudo o que uma boa trama do gênero precisa e muito mais.

O longa segue a história do adolescente Paul Bäumer e seus amigos Albert e Müller, que se alistam voluntariamente no exército alemão, movidos por uma onda de fervor patriótico. Mas isso é rapidamente dissipado quando enfrentam a realidade brutal da vida no front. Os preconceitos de Paul sobre o inimigo e os acertos e erros do conflito logo os desequilibram. No entanto, em meio à contagem regressiva, Paul deve continuar lutando até o fim, com nenhum objetivo além de satisfazer o desejo do alto escalão de acabar com a guerra com uma ofensiva alemã.

Como já disse esse é uma refilmagem do longa de 1930 que ganhou o Oscar de Melhor Filme e Melhor Direção além de concorrer aos prêmios de Melhor Roteiro e Melhor Fotografia, que baseado no livro publicado em 1928, que foi um best-seller global imediato, traduzido para 28 idiomas, aonde quase todos os veteranos da Primeira Guerra Mundial leram o livro e todos sabiam que esta era a sua história, independentemente de ser alemão, britânico, francês, americano ou russo, e assim sendo o diretor e roteirista Edward Berger conseguiu criar algo dinâmico, com nuances bem fortes e bem dramatizadas, aonde vamos vivendo a vida do garoto nos meses que passou dentro das trincheiras e dos poucos metros que andavam na batalha, e sem perder a mão em momento algum sentimos todo o carisma do personagem, toda sua imponência e desespero de estar perdendo os amigos, de tentar se vingar nos atos finais já estando amargurado, e até mesmo tudo o que desejava, mostrando que assim como o livro retratou bem a vida de todos que batalharam nas partes baixas da Guerra, poderiam se ver como o jovem, querendo voltar para o conforto da família, querendo vencer tudo e trabalhando em um ritmo perfeito (sem nem correr, nem arrastar o tempo), acabamos envolvidos e até emocionados, mesmo que aqui observássemos entre aspas o lado inimigo da Guerra. Ou seja, mesmo sendo uma refilmagem, é um trabalho autoral bem bonito, com grandes nuances e ensejos que nos transporta para o front e funciona muito bem, coisa que poucos longas de guerra conseguem fazer.

Sobre as atuações, posso dizer facilmente que Felix Kammerer foi impecável com seu Paul Bäumer, sendo daqueles jovens que aparentemente não entregam o carisma necessário para o personagem, mas que conforme passamos todo o tempo com ele, acabamos conectados e torcendo para que ele chegue até o final, e ele soube dosar expressões fortes mistas com emotivas, mudando trejeitos, chamando a responsabilidade do filme para si, mesmo sendo quase que um estreante no cinema, ou seja, deu show. Da mesma forma, acabamos muito conectados com Albrecht Schuch e com sua entrega feita para com seu Stanislaus "Kat" Katczinsky, que sendo basicamente alguém que se conecta demais com o protagonista, viramos praticamente também seu amigo, e diferente de Felix, o jovem aqui tem carisma, tem personalidade, e muita desenvoltura para que seus atos soassem bem chamativos, ou seja, funciona de uma maneira fácil e suas cenas fluem muito facilmente, então sempre jogava a bola para o protagonista na ponta do gol para apenas ele cabecear, e isso foi muito bacana de ver. Ainda tivemos boas cenas feitas por Aaron Hilmer com seu Albert Kropp, Moritz Klaus com seu Franz Müller, e claro todo o lado bem trabalhado de Edin Hasanovic com seu Tjaden Stackfleet, apenas para citar alguns do front mesmo que chamaram a atenção. E ainda tivemos toda a imponência cênica de Daniel Brühl com seu Matthias Erzberger negociando o fim da guerra, com todos os olhares e ensejos que já conhecemos bem do ator, e sobrou um pouco de raiva para falar de Devid Striesow com seu General Friedrichs, que impõe de cima de seu belo escritório, comendo e bebendo junto de Sebastian Hülk como Major Von Brixdorf, apenas que os tontos se matem lá embaixo.

Visualmente a produção é gigantesca, com muitas cenas de tiroteios, figurantes e personagens correndo no meio das trincheiras, tirando água, merda, e tudo mais com os capacetes, se jogando, arremessando granadas, atirando para tudo quanto é lado, com figurinos bem trabalhados (e mostrando no começo todo o processo das roupas sujas de sangue dos mortos, sendo lavadas, costuradas e levadas para novos recrutas eufóricos para ir para a guerra!), temos uma boa amostra das batalhas homem a homem, as armas simples e a chegada dos tanques e lança-chamas, vemos o lado chique também das negociações em trens, o escritório do general com muita comida boa enquanto os soldados se matavam pra comer as sopas e roubar algumas fazendas para comer algo melhorzinho, e tudo mais, sendo algo que se forem corajosos dá até para encarar a premiação de Design de Produção, Figurino e Fotografia, pois tudo é muito imponente e bem feito.

Enfim, é um tremendo filmaço que vale cada minuto conferido, sendo impressionante tanto nos conceitos artísticos quanto de história, e que facilmente ficará na mente de muitas pessoas, mostrando uma guerra já antiga, que já vimos muitos filmes e sabemos bastante sobre o que aconteceu, mas que a cada novo aprendo um pouco mais e vejo mais dramas e dificuldades que todos enfrentaram, desde os que morreram por lá, os que foram saqueados, e até os que achavam que estavam bem no que estavam fazendo, sendo um filme gigante que alguns vão fugir pelo tempo de tela, mas que não desanda e agrada demais do começo ao fim, e sendo assim recomendo ele para todos. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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