quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Rir Pra Não Chorar

Costumo dizer que o gênero mais difícil de acertar a mão é a comédia, pois fazer rir é algo que depende de muitos fatores, depende do gosto da pessoa, depende do humor e depende até mesmo da forma que a mensagem chega para o espectador, pois a piada as vezes pode até ser muito boa, mas é contada de uma forma tão sem graça que acabamos achando ela boba. Então o que falar de um filme que trabalha a com o luto, a depressão, e a perda de graça de um humorista? Pois é, "Rir Pra Não Chorar" é daqueles filmes que aparentemente dariam certo se fizesse mais graça com humor negro, como ocorre nos atos finais, mas que demora tanto para ocorrer realmente que não engrena, sendo que com mais de 60 minutos de filme ainda estamos vendo graça nos preparativos da mãe para morrer e ter uma despedida completa da família, com situações bizarras que não fazem rir, pelo contrário, até deprimem pelo sentimento entregue, então quando tudo parece que vai funcionar, que o protagonista faz os tratamentos mais bizarros possíveis para tentar encontrar graça em sua vida novamente, e passa a fazer piadas com a situação, o filme já acaba. Ou seja, é daqueles longas que ficamos esperando algo acontecer e não ocorre, que não posso dizer que não ri de alguns atos, pois ri, mas que fiquei mais tempo deprimido com toda a situação do que feliz com um filme que até tinha potencial para ir além, mas não foi.

O filme conta a história de Flávio, um comediante de sucesso que entra em crise depois que sua mãe morre. Ele se percebe fortemente apegado e dependente afetivamente da mãe. Acaba se convencendo de que não é mais engraçado e que uma “nuvem de tristeza” lhe persegue. Faz de tudo para tentar recuperar sua comicidade perdida: acupuntura, biodança, constelação familiar, hipnose e tudo isso ajuda, mas não resolve. Seu estado é patético e, por isso mesmo, as situações são hilárias. Já quase sem esperanças, Flávio procura uma terapia de choque comum psicólogo/psiquiatra alemão muito radical. Com a ajudado médico, entende que precisa amadurecer e resgatar sua criança interior que está sozinha e assustada. Daqui pra frente, só quem pode cuidar dele, é ele mesmo.

Diria que a diretora Cibele Amaral não soube aproveitar todos os humoristas que colocou em sua produção, pois desde os mais antigos até os mais novos, todos sabem muito bem trabalhar o humor negro em suas piadas, sabem dosar estilos e entonações para marcar o ambiente e facilmente conseguiriam ampliar a trama dela nos atos finais, mas ela demorou demais na preparação da morte da mãe, fazendo toda a dramatização cômica da doença, do tratamento, do testamento, das últimas visitas, que se perdeu nesse miolo acabando com algo alongado demais que não explodiu, pois fica nítido logo nos primeiros atos toda a dependência emocional do protagonista pela mãe, e isso poderia ser mostrado mais vezes com flashes, mas como ela quis aproveitar demais de Fafy que é uma das melhores atrizes de humor que temos, o filme se arrastou até sua morte, e depois já viram que era necessário ser breves nos atos finais, ao ponto que desandou mais do que agradou. Ou seja, é daquelas tramas que tudo de necessário falta, mas que tem coisa extra demais sobrando, o que dá o famoso choque de parecer bom, mas não ir muito longe.

Sobre as atuações, até gosto do estilo cômico meio bagunçado de Rafael Cortez, mas ele não soube ousar com seu Flávio, fazendo um personagem que acaba sendo até forçado em alguns momentos, mas que enxergamos aonde desejava ir, faltando realmente direção para que ele pudesse deslanchar e chamar toda a responsabilidade que precisava, ao ponto que acaba sendo emotivo sem necessidade, e não soando engraçado o quanto precisava, ou seja, ficou mediano demais para um protagonista. Como já disse Fafy Siqueira entrega tudo e muito mais com sua Graça, sendo até gostoso de ver toda sua preparação para morrer, toda a mãezona que é com os filhos debaixo de suas asas, e que brincando bem em alguns atos vai bem além do que precisava para o filme, mas se jogou bem e agradou. Ainda tivemos cenas bem colocadas de Mariana Xavier como a irmã do protagonista, bem colocada, mas pouco usada, Sergio Loroza como empresário e amigo do protagonista, fazendo até que boas sacadas, além de vários humoristas conhecidos como Mauricio Meirelles, Oscar Filho, e principalmente Marcelo Mansfield como um psiquiatra alemão bem direto nos atos finais.

Visualmente o longa focou bem na casa da matriarca, com reuniões familiares, almoços e boas dinâmicas na sala praticamente o tempo todo, alguns atos engraçados no quarto como uma extrema unção, alguns momentos em hospitais, na imobiliária da mãe, alguns palcos e clubes de stand up, e algumas clínicas de psiquiatria, mas nada que fosse de muito impacto, sendo um filme quase que sem elementos cênicos simbólicos.

Enfim, é o famoso filme que desaponta mais do que agrada, que tem estilo e que daria para brincar bastante com piadas mais fortes e/ou dinâmicas mais impactantes, mas que demorou demais para acontecer e ficou pelo meio do caminho, ou seja, não dá para recomendar ele, e literalmente o nome do filme quase faz a gente chorar mais do que rir. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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