Meu Filho é um Craque (Fourmi) (Of Love And Lies)

11/18/2022 12:23:00 AM |

Sou suspeito para falar de filmes franceses, pois costumo dizer que sabem equilibrar tão bem seus dramas com envolvimentos bem encaixados que não tem como não se apaixonar pelo que entregam, e quando colocam crianças no meio dificilmente cometem deslizes que atrapalhem qualquer coisa no resultado final. E diria que a data escolhida para o lançamento (ao menos no Brasil, já que o filme estreou na França lá em 2019!!) de "Meu Filho é um Craque" foi muito sagaz, afinal ele estreia dia 24 nos cinemas bem na estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo, ou seja, toda a conexão de um filme envolvendo futebol com o maior evento do mundo da bola, e a trama é simplesmente deliciosa, contando com uma dinâmica incrível entre os dois protagonistas, com um garotinho muito esperto (tanto o personagem quanto o ator) cheio de interações e desenvolturas próprias, aonde a base é a mais tradicional de mentir sobre algo para tentar mudar uma vida, e conforme as situações vão aumentando tudo fica cada vez pior de se manter. Ou seja, é um filme bem leve e até simples demais se olharmos a fundo, mas tudo é tão gostoso de ver que acabamos nos conectando com todas as interações, dando sorrisinhos bobos para cada situação boba também, e até torcendo para que tudo dê certo no final, o que é de praxe em um filme desse estilo, então é assistir e curtir bastante, pois vale a pena.

O longa nos apresenta Théo, aliás Fourmi, como o único filho de pais divorciados. Enquanto sua mãe Chloé está vivenciando o início de uma nova história de amor, seu pai Laurent parece estar atolado em uma vida sem perspectivas. No auge dos seus 12 anos, Théo tem um dom para o futebol. Quando um recrutador de um prestigiado clube inglês se interessa por ele, o garoto vê isso como uma oportunidade de devolver alguma esperança ao pai.

Diria que o diretor Julien Rappeneau foi muito singelo na condução dessa obra que é baseada num quadrinho espanhol de Mario Torrecillas e Arthur Laperla, pois ele não quis abusar demais na comicidade que o filme poderia ter, e também não quis apelar na dramaticidade de algo digamos forte que são as mentiras, de modo que ele deu um tom mais ingênuo e bem alocado para mostrar a preocupação do garotinho em tentar fazer seu pai voltar a ter alegrias, e com isso usando toda sua sagacidade para mentir e com a ajuda de um amigo aumentar ainda mais a mentira para que tudo funcionasse bem. Ou seja, é uma direção bem elaborada, sem riscos, mas também bem precisa nas dinâmicas para que o filme não ficasse bobinho demais, mas sim emocional na medida certa para agradar a todos.

Sobre as atuações, o garotinho Maleaume Paquin foi a escolha mais minuciosa e acertada que o diretor já fez na vida dele, pois foi tão bem encaixado com seu Théo tanto nos atos jogando bola, como nos atos com os adultos, e ainda mais nas conexões com os amigos, de forma que não conseguimos tirar os olhos dele com o carisma que acaba entregando, sendo perfeito em movimentos, em atitudes e olhares e fluindo sem enrolar o público, o que acaba agradando demais. Da mesma forma François Damiens se entregou por completo para seu Laurent, mostrando as facetas de alguém deprimido, com problemas com bebida, e claro sua mudança para algo maior, ou seja, ele diverte e chama muita atenção em tudo. Ainda tenho de falar muito bem dos amigos Ismaël Dramé com seu Karim bem divertido, a jovem Cassiopée Mayance com sua doce Romane, e principalmente Pierre Gommé com um Max icônico que entrou completamente na loucura do protagonista aumentando a mentira em níveis incríveis de informática, ou seja, uma turminha bem encaixada. Quanto aos demais adultos, todos foram bem conectados, cada um da sua maneira, com o técnico bem direto e sonhador, o assistente atrapalhado que gosta mais de confeitaria do que de futebol, a mãe do garoto tentando uma vida nova com o namorado, valendo então dar um leve destaque para a assistente social bem disposta que Laetitia Dosch fez e que felizmente o diretor não quis colocar um romance em segundo plano atrapalhando o filme.

Visualmente a trama tem boas sacadas mostrando um campo de treino, vemos alguns jogos, temos a escola do garoto, um bar tradicional bem montado, o quarto/apartamento do amigo hacker que vive no seu mundinho, temos a casa da amiga com um quarto bem diferenciado, o escorregador no meio de um lago bem envolvente, algumas cenas em escritórios e muito mais, sendo um longa bem produzido e dinâmico, aonde tudo encaixa, tudo tem seus devidos símbolos, e o resultado acaba chamando muita atenção em até elementos cênicos bem simples como aulas de inglês em fitas K7, todos os mimos do time do Arsenal e muito mais, ou seja, um trabalho primoroso nesse sentido.

Enfim, sei que muitos amigos críticos vão achar a trama infantil demais, algo bem Sessão da Tarde, mas toda a alegoria desenvolvida na trama acaba emocionando e agradando bastante, sendo algo que vale recomendar e se envolver com tudo o que é mostrado, e que como disse no começo veio na época certa para recomendarmos, afinal chegou a época do futebol, então fica a dica para todos verem ele nos cinemas a partir do dia 24 de novembro, e eu fico por aqui hoje, então abraços e até logo mais.


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