O Garoto Escondido (Il Bambino Nascosto) (The Hidden Child)

11/15/2022 01:31:00 AM |

Quer me deixar muito bravo? É só me indicar um filme bem interessante aonde o diretor não dá o fechamento necessário para que o filme se encerre, deixando aberto demais, com ideias floreando demais, e que mesmo sendo algo digamos bonito de ver, não impacta totalmente sem um encerramento decente. E infelizmente o longa "O Garoto Escondido", que pode ser conferido no Festival de Cinema Italiano, causa um certo suspense com a máfia perseguindo o garoto e o professor, vemos cenas tensas com o professor procurando se inteirar do assunto, sentimos toda a densidade dramática e até de um bom suspense, mas fogem e pronto (sim, estou dando o spoiler do final!), ou seja, temos algumas simbologias com a vida do músico, temos todo o carinho que ele acaba criando com o jovem, e até o medo de ser pego e morto, mas precisavam ter dado algo a mais do que apenas a "liberdade" em outro país para que o filme tivesse um encerramento que valesse realmente a pena, e não algo jogado, pois o filme pedia qualquer outra coisa para tudo, e não ocorre. Claro que muitos vão filosofar em cima da ideia, outros vão pensar em estilos, mas isso não me faz engolir, pois gosto de diretores objetivos e claros, então se você não ligar para isso o resultado até vai chamar muita atenção, mas do contrário irá ficar bravo demais também.

A sinopse nos conta que Gabriele Santoro é professor de música, dá aulas de piano e optou por morar num bairro de periferia. Ele vive na solidão de sua existência habitual até que uma criança se esconde em sua casa: o garoto é filho do vizinho do andar de cima que é procurado pela Camorra por motivos desconhecidos. Aquele homem tímido que "pensa apenas em si mesmo" se encontra diante de uma "criatura" que lhe diz: "Você deve me ajudar". Santoro parte para um longo caminho de aventuras e experiências.

Costumo dizer que bons diretores sabem fechar seus filmes, enquanto medianos preferem deixar algo aberto para reflexão, e essa minha frase muitos críticos abominam por gostar de trazer suas próprias reflexões para cada filme, ou seja, é algo bem pessoal isso, e pessoalmente falando digo que Roberto Andò finalizou seu longa de uma maneira muito boba, ao mostrar que conseguiu fugir do país, e aí pronto, na França ninguém vai encontrar eles, que legal! O longa é baseado no seu livro de mesmo nome, então talvez lá ele tenha floreado algo a mais, mas como não somos obrigados a ler um livro para entender um filme, diria que o resultado aqui ia incrivelmente bem até a última cena, pois ficamos afoitos dele não conseguir passar na barreira, vemos várias situações intensas anteriores, o caos com tudo se explodindo após os erros deles, mas certamente daria para conseguir algo diferente para fechar, pois é simbólico sim toda a mudança que o jovem faz no professor, que extremamente fechado muda com ele, passa a brincar, a se envolver e até deixar de lado as coisas que gosta, mas e depois? Virá uma continuação? E mesmo que venha, largar um filme sem final é o maior erro que considero, e vai pesar bem na minha nota, pois é um bom filme, seria daqueles que certamente indicaria com gosto, mas sem final, não dá.

Sobre as atuações, diria que Silvio Orlando é daqueles atores que sabem criar carisma mesmo com olhares e trejeitos mais densos, pois aqui seu Gabriele é durão, é daqueles senhores que fecham a cara fácil, que já estão tão isolados que não se abrem para ninguém, mas soa doce com o jovem Ciro, brinca com ele, e já na metade estamos tão conectados que passamos a gostar de seus atos, mesmo que errados, ou seja, o ator se sai bem demais. O jovem Giuseppe Pirozzi teve alguns atos bem colocados de seu Ciro, fez trejeitos diferenciados, mas em certos atos exagera um pouco, tendo várias quebras de eixo que deixaram o seu parceiro deslocado, ou seja, precisa melhorar um pouco a postura cênica, mas aqui seu personagem é meio marrento e assim serviu a forma entregue, mas poderia ser melhor. Quanto aos demais, a maioria só aparece em atos colocados, não impactando tanto na trama, tendo Lino Musella um pouco mais de momentos com seu Diego, mas parecendo ter algo a mais para apresentar que ficou apenas no ar, ou seja, faltou desenvolver um pouco mais os personagens secundários para dar amplitude a tudo o que acontece.

Visualmente o longa mostra um apartamento muito elaborado, que mesmo sendo numa periferia perigosa, com um prédio quase que caindo aos pedaços, tem toda uma biblioteca imponente, um piano bem arrumado, e vários quartos e ambientes bem preparados e simbólicos, tivemos ainda várias cenas nas ruas, nos túneis e boas desenvolturas nos carros, com uma leve perseguição sem grandes frutos, além de mostrar um conservatório musical, uma noitada de jogos e até mesmo alguns elos na praça do bairro, ou seja, a equipe brincou bem com os diversos elementos e tentou ser o mais simbólica possível.

Enfim, volto a frisar que não é um filme ruim, muito pelo contrário, conseguindo prender o espectador do começo ao fim, mas como não tem um final decente, o resultado desaponta bastante, e sendo assim não diria que recomendo com tanta força, pois desanima ver apenas algo ok depois de tanta tensão. Ou seja, se você não liga para finais mediano, pode dar o play tranquilamente, do contrário tem outros filmes melhores no site do Festival Italiano. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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