Já tinha dito no longa de estreia de Lô Politi, "Jonas", que o estilo dela era de muita presença de olhares e de conexões de personagens com o público, e aqui ela ampliou ainda mais todo esse envolvimento, pois o filme mostra a tensão de um homem que já não tem mais vontade de viver por ter perdido a companheira, outro homem que não tem qualquer laço com o pai que não vê há muito tempo, e uma garotinha que está ficando com o pai nas férias pela primeira vez depois de um ano separada, ou seja, também quase sem conexão, e essa viagem de encontros, reencontros e ajustes é conflitiva pelo fato de vermos através do olhar dos personagens, o olhar da diretora sobre como um tempo junto, uma viagem mesmo que sem muitas palavras, ou até mesmo um confrontar de olhares pode mudar as vidas delas. Ou seja, a diretora brinca com o ambiente através das dinâmicas da viagem seca, das estradas por onde eles percorrem, e até mesmo da simplicidade dos desenhos e da escultura, que acaba tendo um apreço e uma conexão entre todos do ambiente, e assim o resultado é bem interessante e chamativo, mostrando que vamos ver ainda muitos filmes introspectivos bem dimensionados pela diretora.
Sobre as atuações, posso dizer o trio de protagonista teve uma química meio de choque, mas que funcionou dentro do que era proposto, ao ponto que Rômulo Braga deu boas nuances para o seu Theo, criando uma personalidade meio dura, meio sem jeito do que fazer tanto com o pai quanto com a filha, mas que trabalha tão bem as dinâmicas que acabamos nos conectando a ele. Everaldo Pontes fez atos mais fechados ainda, com olhares meio de desistência da vida, meio que de um peso imenso que precisa carregar, que chega até parecer meio maluco, mas chama bem a atenção. E claro a estreante Malu Landim tem um jeito singelo de se entregar, de modo que sua Duda acaba sendo também bem fechada, cheia de dúvidas, com uma tosse de nervoso meio estranha, mas que literalmente faz a conexão familiar funcionar, o ato de falar com o pai no banheiro é genial pelo método descritivo leve e bem colocado, e o resultado flui bem demais com o que faz, agradando bastante. Quanto os demais, a maioria apenas figura na tela, mas tivemos alguns atos bem marcantes de Luciana Souza como Dona Regininha, que ajuda na conexão inicial do filme, mas nada muito chamativo.
No conceito visual a trama entregou muito envolvimento tanto nos atos dentro do carro que vamos vendo todo o sertão com uma vegetação semi-morta, meio que transmitindo as sensações do protagonista, vemos casas bem simples na cidadezinha, nos é passado as lembranças do protagonista quando garotinho brincando no rio ao fundo da casa, temos o ateliê do pai com várias esculturas e rascunhos de sua amada, um hospital simples, vemos um asilo bem abandonado com pessoas mal trapilhas, e claro vemos um apartamento estúdio do protagonista, de elementos cênicos tivemos a escultura que fica passeando no carro com eles, o skate da garotinha que é fã do esporte, e a briga do protagonista com o fio do carro, tudo muito significativo e com muito simbolismo para a trama.
Enfim, é daqueles filmes recheados de sentimentos, que possuem uma estrutura bem definida de estilo, mas um envolvimento que oscila bastante, e o resultado como já disse é bem reflexivo, valendo a recomendação para assistir sem estar preocupado com muitas coisas, pois necessita de entrar no clima e vivenciar os momentos, pois mesmo não sendo cansativo, ele entrega muitos símbolos ao invés de diálogos. E é isso meus amigos, eu fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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