A Morte Habita à Noite

12/07/2022 01:02:00 AM |

Costumo dizer que alguns filmes forçam a barra na intensidade de introspecção que colocam no desenrolar da trama, de tal forma que só quem for realmente fã dum estilo mais reflexivo vai acabar entrando na mesma onda e vivenciar toda a situação, e dito isso, o longa "A Morte Habita à Noite", que estreia nos cinemas no próximo dia 15 de dezembro, traz algo bem trabalhado em cima dos textos de Charles Bukowski, com uma vivencia de um escritor à margem da sociedade que conhece algumas jovens mulheres e tem reflexões das vidas delas, juntamente com seus textos, seus trabalhos (ou bicos) para sobreviver, sua bebedeira, tosse crônica e tudo mais, mas que sendo um ritmo extremamente lento, num ambiente sem grandes nuances e desenvolturas, acabei não conseguindo me conectar com toda a ideia, e assim o resultado foi mais fechado do que algo que eu gostaria de indicar para alguém.

A sinopse nos conta que Raul, um escritor desempregado, serve-se de outra taça de vinho enquanto um vizinho de cima salta para a morte. Sua namorada Lígia fica claramente mais aflita com o incidente, o que antes poderia ser mais facilmente digerido, agora não é mais. Durante uma noite conturbada, Raul conhece Cássia, uma jovem desgarrada e cheia de vida que faz com que ele resinifique o amor e a morte, numa busca por almas gêmeas em um mundo cheio de melancolia.

O diretor e roteirista Eduardo Morotó é extremamente premiado com seus curtas mundo afora, e aqui ele resolveu trabalhar com algo mais íntimo e sem grandes nuances, de tal forma que seu filme até tem um ar intrigante, tem diálogos bem dimensionados, mas não atinge algo totalmente vendável, de forma que é daqueles filmes que só em festivais ou sessões bem cult para ter um público que se envolva com ele, e digo mais, que esteja no mesmo clima dos personagens para poder sentir algo pela trama, pois do contrário acabamos vendo o filme, vendo as diversas situações, e ao final nem sabemos direito o que expressar com o que vimos, o que é muito ruim de acontecer, mas como já disse a trama não é ruim, apenas é daquelas que ou você vivencia ou não vai sentir nada por ela, e isso daria facilmente para ser mudado com um ritmo melhor, personagens mais dinâmicos, e talvez até uma subtrama mais chamativa, mas aí estaria mudando tudo no longa, o que não deve acontecer.

Sobre as atuações, diria que Roney Villela caiu perfeitamente para o papel de Raul, de forma que não consigo nem ver outro ator no personagem, com um estilo depressivo, um ar fechado cheio de vivências e um passado bem alongado de experiências, e com tantas conexões que fala por si só pela expressividade, e assim foi um grande acerto. Quanto às demais personagens, posso dizer que cada uma se doou com bons diálogos e envolvimentos com o protagonista, de modo que vemos uma Mariana Nunes mais fechada com sua Lígia, uma Endi Vasconcelos com uma Cássia mais explosiva e bem colocada e uma Rita Carelli com uma Inês densa e envolvente, de forma que cada uma de sua maneira criou bons elos e funcionaram bem dentro da proposta.

No conceito visual embora quiseram trabalhar algo mais à margem da sociedade, com um quarto bem rústico até feio de ver, com poucos móveis, alguns bares, um cinema pornô, mas tudo de forma bem simbólica e representativa para colocar bem o protagonista no centro do ambiente, e entendermos um pouco mais ali aonde ele vive, mas nada que surpreendesse muito.

Enfim, é um filme que alguns vão amar e outros vão odiar, dificilmente tendo o meio termo, eu infelizmente fiquei no segundo time, pois precisava de algo a mais para entrar no clima introspectivo exagerado que a trama entrega, e assim sendo não tenho como recomendar o longa, ao menos para pessoas que gostam de um desenvolvimento maior de um tema. E é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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