Ela Disse (She Said)

12/10/2022 09:37:00 PM |

O jornalismo investigativo é daqueles que você costuma acompanhar e fica pensando até onde eles vão para conseguir compor toda a matéria, de forma que funcione e tenha boas fontes, que não dê brechas para processos e tudo mais, e um dos casos mais polêmicos dos últimos anos, que acabou virando algo tão gigantesco e cheio de nuances foi o caso de Harvey Weinstein e os diversos abusos que fez enquanto dono da Miramax, mas para conseguir atingir um dos homens mais fortes do cinema na época o processo das jornalistas do The New York Times foi algo extremamente complexo, afinal foram feitos acordos imensos com várias vítimas dele, muitas tinham medo de falar qualquer coisa sobre o que aconteceu de forma oficial que pudesse ser usado na matéria, fora as possíveis represálias, e dessa forma o longa "Ela Disse" até lembra bem outro filme de jornalismo investigativo que ganhou diversos prêmios anos atrás: "Spotlight - Segredos Revelados", só que lá as coisas iam acontecendo de forma mais rápida e direta, enquanto aqui tudo era muito sigiloso e de difícil acesso, mas em ambos os casos temos filmes fortes e bem marcantes que certamente recaem no gosto do público e das premiações, então fica a dica.

O longa conta a história de duas jornalistas do New York Times que mudou Hollywood. Megan Twohey e Jodi Kantor escrevem uma das histórias mais importantes de uma geração, que ajudou a lançar o movimento #MeToo e quebrou décadas de silêncio em torno do assunto de agressão sexual em Hollywood. Em 2017, a repórter do New York Times Jodi Kantor recebe uma denúncia de que a atriz Rose McGowan foi abusada sexualmente pelo produtor de Indiewood, Harvey Weinstein. McGowan inicialmente se recusa a comentar, mas depois liga de volta para Kantor e descreve um encontro em que Weinstein a estuprou quando ela tinha 23 anos. Kantor também fala com as atrizes Ashley Judd e Gwyneth Paltrow, que descrevem seus próprios encontros sexuais com Weinstein, mas ambas pedem para não serem citadas no artigo por medo de um golpe na carreira. Frustrada com a falta de progresso em sua investigação, Kantor recruta Megan Twohey para ajudar com a peça.

Bem pouco tempo atrás conheci o trabalho da diretora Maria Schrader com o filme da Amazon, "O Homem Ideal", e se lá ela foi bem dinâmica com o estilo, trabalhando ares mais funcionais e direcionados, aqui ela se fechou completamente no tema, nos mostrando as diversas conversas que as jornalistas tiveram com pessoas envolvidas com Weinstein, desde atrizes e funcionárias que sofreram abusos dele, até contadores, financeiros e tudo mais, além claro das várias reuniões dentro do jornal para ver aonde iriam atuar, como conseguiriam um trabalho completo, e o que posso dizer é que a diretora também quis ter uma trama bem completa, de forma que seu filme tem envolvimento, tem um ar mais fechado, e o resultado acaba que ao mesmo tempo nos deixando revoltados com tudo o que ouvimos, mas também nos faz refletir sobre esse mundo do cinema com tudo o que sabemos que acontece nos bastidores, e que claro com muito envolvimento o filme acaba atingindo demais. Não diria que a trama seja tão perfeita como o outro caso que citei no começo, pois lá tudo nos pega com muita força conforme vai acontecendo, e que por ter sido mais distante nem sabíamos tanto sobre ele, sendo realmente uma revelação, enquanto aqui por ser algo atual, que lemos e vimos muito sobre o assunto, ficou parecendo faltar um algo a mais para impactar, mas bem longe de ser algo ruim, o filme é incrível e mesmo sendo meio lento envolve bastante.

Sobre as atuações temos diversos bons momentos com vários personagens, e precisaria de muitas linhas para falar de todos, então vou me ater nas protagonistas, afinal Carey Mulligan entregou uma Megan Twohey imponente, direta e bem presente em cena, se colocando nos atos com muita voracidade, afinal para quem já tinha enfrentado um Trump, enfrentar um Weinstein ou qualquer outro na rua era moleza para ela, e a atriz conseguiu passar bem esse ar forte. E da mesma forma Zoe Kazan foi precisa demais nas entrevistas que sua Jodi Kantor conduziu, se emocionou com vários atos marcantes, e passou uma sinceridade no olhar com cada momento bem colocado na tela, ou seja, envolveu demais com tudo e foi um grande acerto na escolha. Ainda tivemos Patricia Clarkson bem direta como Rebecca Corbett cheia de nuances sérias e Andre Braugher como Dean Baquet direto e cheio de conexões marcantes, mas sem dúvida os destaques recaíram para Jennifer Ehle como Laura Madden e Sean Cullen como Lance Maerov, pois ambos trabalharam sentimentos e olhares tão bem pautados nas conversas com as protagonistas, que vemos o tanto que um jornalista consegue abrir com seus entrevistados.

Visualmente o longa não tem tantos chamarizes, pois vemos todo o ambiente editorial gigantesco do jornal, vemos algumas casas por onde elas foram entrevistar as pessoas, restaurantes escondidos e até fechados, e claro as casas das protagonistas com seus maridos, filhos e elas com a mente em outros lugares, o que é a vida de um investigador realmente, ou seja, tudo bem fechado, mas ao mesmo tempo amplo para ser bem representativo, inclusive alguns atos passados e corredores de hotéis por onde rolaram os assédios, mas o áudio fala mais alto e chama bem mais atenção com tudo.

Enfim, é um filme bem técnico, mas ao mesmo tempo consegue ser muito simbólico e representativo, aonde os diálogos, os depoimentos e toda a intensidade sobrepõem o ritmo mais lento, então quem não se lembrar bem de tudo o que aconteceu em 2016, e até quem quiser ir mais a fundo, a trama é bem direta e envolvente, sendo uma boa recomendação para todos. E é isso meus amigos, eu fico por aqui agora, mas verei mais coisas esse fim de semana, então abraços e até logo mais.


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...