Costumo dizer que quando vão fazer uma biografia, muitas vezes o resultado acaba melhor do que a vida da pessoa realmente foi, pois criam desenvolturas e sacadas que a família nem acredita no que está vendo, e aí precisam colocar no final o escrito que ninguém da família esteve envolvida na produção. E um bom exemplo disso estreou essa semana na Netflix com o longa espanhol "Um Homem de Ação", que mostra a vida do anarquista, ladrão de bancos, falsificador e pedreiro Lucio Urtubia, que deu um grande desfalque no Citibank e ainda conseguiu sair bem de tudo, ou seja, um dos poucos que defenderam esse estilo de vida e não foram fuzilados ou viveram eternamente em prisões. Ou seja, é um filme que muitos que não curtem o estilo irão reclamar demais, de que tudo é falso, que inventaram coisas demais, mas que se lerem um pouco sobre o personagem verão que foi idolatrado por muitos jovens, teve contato com grandes lendas do anarquismo e souberam fazer um filme bem marcante com toda a ideologia e a forma que falsificaram dinheiro e depois os famosos cheques-viagem, que depois acabaram sendo substituídos por cartões para minimizar o desfalque e a falsificação, afinal muitos bancos sofreram com o papel. E aqui vemos boas interações, e claro toda a inteligência e sagacidade do personagem em vários anos.
O estilo do diretor Javier Ruiz Caldera é mais pegado para o lado cômico e de dinâmicas mais rápidas, e aqui ele não usou tanto essa sua costumeira opção, dando abertura para cenas mais dramáticas e cheias de desenvolturas, aonde vimos mais traquejos dos protagonistas do que atos rápidos bem colocados, o que facilmente nos enganou no trailer, que foi mais próximo do que conhecemos, e talvez isso seja um pouco culpa do roteiro de Patxi Amezcua que foi mais fechado de ideias, e trabalhando um ar mais certeiro, o que não é ruim, mas de certa forma o filme ficou daqueles que em certos atos duvidamos de tudo, e em outros a seriedade exagera demais no ar biográfico. Então o que posso dizer é que é daquelas tramas que até tem um ar divertido e realista, mas também sai com alguns elos aparentemente ficcionais demais, e o miolo se perde um pouco, sendo levemente arrastado, mas que não chega a cansar por sempre ter rápidas quebras no desenvolvimento completo.
Sobre as atuações posso dizer que Juan José Ballesta fez muito bem Lucio, sabendo segurar toda a intensidade para si nos atos mais marcantes, desenvolvendo bem os olhares e nuances técnicas que a trama pedia, e principalmente não fazendo uma caricatura de Urtubia, mas sim uma vivência clara e bem colocada que acaba chamando atenção e envolve na medida certa. Tivemos também toda a beleza e espontaneidade de Liah O'Prey com sua Anne bem direta nos atos mais impactantes, e também bem séria nos atos mais densos, criando com propriedade toda a clareza da mulher que acompanhou o falsificador em diversos momentos, mas que foi correta para escolher o momento de parar. Ainda tivemos atos bem colocados com Luis Callejo com Asturiano seu companheiro em diversos momentos, bem colocado e cheio de bons trejeitos, Monica Lamberti bem colocada como PetiteJeanne e Miki Esparbé como um bom Quico Sabaté, mas sem dúvida quem soube aparecer bem e ter grandes nuances foi Alexandre Blazy como o Inspetor Costelo, falando em diversas línguas e dominando os atos como um bom perseguidor do protagonista por mais de 20 anos, e assim seu resultado foi bem trabalhado em todos os atos e agradou com o que fez.
Visualmente a trama teve atos bem interessantes de época, mostrando um pouco dos anos 60, um pouco dos anos 40 e até um pouco dos anos 70/80, sempre com ares próprios da central dos anarquistas na França, alguns atos em bancos e uma cadeia simples que nem exploraram muitos atos por lá, algumas desenvolturas em hotéis e obras aonde o protagonista trabalhou, mas tudo de uma maneira bem subjetiva, sem grandes elementos cênicos, que tirando a impressora e prensa para fazer dinheiro e cheques falsos, de resto vale destacar apenas as bolsas de copas que o protagonista usa, e nada mais, mostrando que a equipe de arte nem foi tão acionada.
Enfim, é um filme interessante para conhecemos alguns idealistas anárquicos, vemos todo o trabalho que foi desenvolvido na França por esse espanhol bem direto nos planos que não desistia tão fácil de nada, e que como filme funciona bem, tendo alguns atos de oscilação sem muitos chamarizes, mas que agrada mais do que erra, e assim sendo vale a recomendação. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.
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