Amazon Prime Video - Mergulho (La Caída) (Dive)

1/31/2023 01:03:00 AM |

Abusos sexuais nos esportes é algo que já existe faz tempo, mas não parecia ser algo tão banal como hoje, que a cada dia ficamos sabendo de mais e mais casos estampados na mídia, aliás o tema não deveria existir em nenhuma profissão (afinal estou falando do esporte profissional, que tende a ter um envolvimento mais amplo entre técnicos e atletas), mas a cada dia que passa as coisas ficam mais sujas e feias no mundo todo, ou seja, não vemos uma solução fácil para a "humanidade" atualmente. Dito isso, o longa original da Amazon Prime Video, "Mergulho", usa como base os acontecimentos pré-Olimpíadas de 2004 na Grécia com a delegação de mergulho mexicana, mas a diretora usou relatos de vários outros ex-atletas que se dispuseram a contar seus casos para que tudo ficasse ainda mais marcante, e o filme embora simples de situações é completamente forte, cheio de nuances e olhares intensos, aonde a protagonista inclusive treinou por alguns anos o mergulho para não precisar tanto de dublês e passar o sentimento real em seus atos, ou seja, é daqueles filmes que a personificação chama até mais atenção do que a história em si, e tudo acaba sendo de grande importância, criando emoções e situações bem fortes, que só não digo que tenha sido perfeito por faltar talvez um impacto maior em tudo, mas como disse, infelizmente essa situação está bem banal, então fazer com que chocássemos com algo nesse interim é algo difícil de acontecer.

O longa nos mostra que Mariel é uma mergulhadora veterana e competitiva que tem uma última chance nas Olimpíadas. No entanto, quando uma terrível verdade vem à tona, Mariel tem que enfrentar seu maior dilema pessoal: ela está realmente conquistando seu sonho?

Diria que a diretora Lucía Puenzo foi muito imponente na forma de trabalhar o seu longa, pois soube segurar a dramaticidade em pontos bem específicos sem precisar ficar fazendo algo constante, mas sim deixando que o terror e a mensagem ficasse explícito no olhar e nas dinâmicas da protagonista, não jogando todo o fato para cima da garotinha, mas sim de alguém que já vivenciou tudo e começa a se enxergar na outra, pensando em tudo o que possivelmente já ocorreu, em tudo o que vivenciou e se aquilo foi algo bom para ela, e com atos introspectivos cheios de amplitude ela foi permeando tudo na cabeça do espectador para que as conclusões fossem únicas para todos, fora o que chama atenção nas falas e atos da adolescente, que depois pesquisando um pouco fiquei sabendo que foram falas reais de uma jovem e que aconteceu tudo daquela forma. Ou seja, é daqueles filmes que ficamos olhando indignados e revoltados por acontecer assim, e que por vezes até pediria algo mais ficcional para dar a explosão necessária para um filme, mas nesse caso não vou, pois a necessidade de mostrar isso está cada vez mais evidente, e possivelmente veremos em breve outras produções do mesmo estilo.

Sobre as atuações já falei um monte no começo e volto a falar sobre o quanto boa foi a interpretação de Karla Souza com sua Mariel, pois além de aprender a mergulhar para não precisar de dublês de corpo na maior parte das cenas (acredito que não tenha feito todas as manobras, mas se fez parabéns multiplicados ao máximo!), mas além disso soube trabalhar muito mais com olhares e expressões do que com diálogos, e isso fez dela algo que já falei de voltar às origens do cinema que é não precisar ficar explicando tudo o que está na tela para o público ver, e seus sentimentos cênicos disseram muito sobre tudo o que pensa e como a personagem pensava de uma forma única e muito precisa. Hernán Mendoza também foi muito bem com seu Braulio, de forma que se impôs como um técnico duro, porém bem carismático, mas que passa dos limites com suas atletas, e mesmo sem mostrar tudo o que ocorreu de fato, as sínteses acabaram sendo bem mostradas nas entrelinhas, e a cena do carro é marcante com ele se debulhando em lágrimas pedindo o perdão e a protagonista apenas um "não me toque nunca mais em sua vida", e sua expressão muda de forma bem imponente, ou seja, se encaixaram muito em tudo. Ainda tivemos outros bons personagens como o da garota Nádia vivida por Dèja Ebergenyi, a mãe imponentíssima dela vivida por Fernanda Borches, entre outros que deram encaixes para a trama, mas a base mesmo ficou com os dois protagonistas.

Visualmente o longa mostrou bem o centro de treinamento com vários equipamentos de acrobacias (sério eu não sabia como treinavam para as cambalhotas no ar e gostei muito!), a moradia de alguns atletas dentro do clube, o apartamento da família e um motel aonde a equipe ficou hospedada durante uma competição, mostrando bem todas as dinâmicas mais tensas e envolventes com simbologias e as devidas convenções, tendo claro como principais elementos os remédios para constantes infecções, o vídeo mostrando a vida de competições da protagonista e claro o diário da garotinha com suas anotações, mostrando que a equipe de arte trabalhou bem nos ambientes, tirando todo o ar "festivo" dos alojamentos e acertando em não forçar tanto a barra, pois dava para ir além.

Enfim, é daqueles filmes que você se sente mal só de pensar no que as atletas passaram com os técnicos que estão sendo acusados, e que faz pensar também o motivo de muitas não agirem de cara, pois muitas vezes a repreensão é tão grande que a vítima acaba sendo acusada de algo numa inversão idiota que muitos fazem, ou seja, um filmaço que faltou um pouco mais de explosão, mas que ainda assim é importantíssimo a conferida, e recomendo demais. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.

PS: Dei um ponto a mais pela importância do filme, pois cinematograficamente falando a nota seria um oito.


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