O diretor Felipe Joffily é daqueles que gostam de variar a forma de entregar comicidade no cinema, pois trabalhou desde filmes com uma pegada mais suja e direta até ambientes mais calmos e quase romantizados, e aqui ele ficou com algo digamos até que novo para ele, pois trouxe o ar cômico crítico para sua trama, mas não ousou nem apelar nem romantizar nenhum dos lados, deixando que o filme fluísse bem com ares amplos e deixassem que o protagonista fizesse o resto, já que a história originalmente veio da cabeça de Adnet, ou seja, é um filme que até vemos o estilo do diretor presente com câmeras rápidas e uma boa valorização dos ambientes, mas a base mesmo ficou no texto dinâmico do protagonista, na inteligência empreendedora da esposa dele, e claro nas sacadas críticas em cima dos evangélicos corruptos, ou seja, o longa tem boas bases e consegue soar envolvente e bem trabalhado, que não fica martelando uma ideia até o final, mas ousa bem em motes engraçados sem precisar forçar a barra para rir, e isso é um bom exemplo do que se deve fazer, mas ainda assim dava para ter alguns momentos mais engraçados que aí o fluxo seria perfeito.
Sobre as atuações, como sempre Marcelo Adnet é um dos melhores imitadores do país, conseguindo pegar trejeitos e desenvolver personagens com muita facilidade, e aqui seu Hickson tem um pouquinho de cada pastor que já vimos na TV, mas mais do que isso ele tem personalidade própria de um homem que quer crescer, não quer ter mais perrengues, e que se encanta fácil com tudo, ao ponto que vemos grandes atos dele dominando o palco da igreja, mas também convencendo facilmente o dono da igreja a seguir sua ideia, e sem dúvida seu grande ato foi na prisão lembrando da professora e explodindo tudo, ou seja, foi muito bem no que fez. Letícia Lima também deu bons vértices de parceria para o marido com sua Jéssika, sendo direta nos diálogos, mas tendo muito carinho envolvido nas dinâmicas, o que acabou sendo interessante por não forçar a barra para algo menos familiar, e assim acertou também no que fez. Thelmo Fernandes deu para seu apóstolo Adriano uma personalidade de rivalidade muito grande com o protagonista, de forma que ficamos o tempo inteiro esperando ele dar uma invertida forte no personagem e acabar sendo meio que vilanesco, mas chamou a atenção e fez muito bem o que precisava fazer. Ainda tivemos bons momentos de Otávio Muller com seu Pacheco, o dono da rádio; Tonico Pereira como apóstolo Davi, o dono da igreja; mas sem dúvida o grande destaque recaiu para Elisa Lucinda como a professora de pastores, dando técnicas e instruções bem claras de como fazer os fiéis darem o máximo de si para a igreja.
Visualmente o longa em si é bem simples, mas sem falhar em detalhes, mostrando desde o começo com o carro tradicional de telemensagens (algo que quem inventou certamente estava possuído!), a pequena loja de consertos de informática, depois vemos uma igreja tradicional evangélica, vemos uma rádio simples, mas bem colocada de ideais, depois uma subida aos montes, a mudança da casa simples do protagonista para um apartamento mais rico, tivemos uma escola de pastores, e claro a mudança de palco da igreja de algo morno para algo midiático com banda chique e televisionado com várias câmeras parecendo mais um show do que uma pregação realmente, ainda tivemos uma rebelião na cadeia e uma fuga com muitos sacos de dinheiro, ou seja, tudo muito bem elaborado e moldado para funcionar na tela e fizeram isso muito bem.
Enfim, é um filme com uma proposta bem moldada e que tem atos divertidos, que felizmente não soaram exagerados, então acaba agradando desde quem for esperando ver uma comédia simples até quem for pelo lado religioso da trama, e assim tem um bom público para abranger. Claro que está bem longe de ser perfeito nas duas vertentes, ficando mediano nesse sentido, mas serve como um bom passatempo e agrada pelo contexto inteiro, agora é ver se darão seguimento com a ceninha no meio dos créditos que deixa aberta a possibilidade para uma continuação, mas acho difícil, e isso só o tempo dirá. Então fica a dica para todos verem ele, e eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até lá.
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