Netflix - O Pálido Olho Azul (The Pale Blue Eye)

1/07/2023 01:37:00 AM |

Se tem algo que gosto bastante é conferir longas de mistérios para tentar adivinhar tudo antes do protagonista, e quando colocam uma boa densidade dramática junto, criando as perspectivas em cima dos personagens o envolvimento fica ainda maior, pois é fácil demais errar por completo toda a ideia. E mesmo sendo baseado em um livro de sucesso, o longa "O Pálido Olho Azul" aparentava no fechamento ter o desfecho simples demais que os longas de mistério da Netflix entregam, porém deram uns poucos minutos de respiro e conseguiram surpreender com uma boa reviravolta interessante que conectou tudo, mas que certamente poderiam ter trabalhado menos personagens na história, pois em determinado momento da trama já parecia que iam usar todos os cadetes possíveis do exército e trabalhar a história de cada um na tela, mas logo que o cerco fecha, a dinâmica fica bem melhor. Ou seja, está longe de ser um filme genial, mas as atuações dos protagonistas funcionam demais e o resultado acaba sendo agradável.

A sinopse nos conta que em 1830, um detetive é contratado para investigar, com muita discrição, o terrível assassinato de um dos cadetes da Academia Militar de West Point. No entanto, o código de silêncio dos cadetes se mostra um obstáculo incontornável para a investigação, fazendo com que o detetive peça a ajuda de um dos alunos da academia: um jovem que entraria para a história como Edgar Allan Poe.

O mais bacana de tudo é a forma que o diretor e roteirista Scott Cooper brincou com a trama do livro de Louis Bayard que já tinha brincado com a história de vida do grande escritor Edgar Allan Poe, pois as tramas misteriosas do escritor que sempre foram recheadas de códigos, de crimes e de trabalhos mais fechados e densos já fluem naturalmente, então usar ele como um protagonista numa trama com olhares amplos é algo que acaba sendo bacana, as investigações não foram tão jogadas, e principalmente nos foi entregue algo que não ficou enrolando, pois mesmo sendo longo tem estilo e boas dinâmicas, só diria que poderiam ter economizado nos personagens, pois alguns foram quase que apenas jogados na tela para nada, o que certamente no livro tem muito mais para ser mostrado, mas num longa daria para fechar em pelo menos uns quatro a menos que daria o mesmo impacto e agradaria bem mais.

Sobre as atuações é fato que grudamos nossos olhares em Christian Bale, e ele não desaponta com seu Augustus Landor, de tal maneira que faz um detetive meio canastrão e até seco demais, mas que o papel pedia e até o fim nos é entregue um pouco mais do motivo dele ser desse jeito, e com nuances práticas e até algumas forçadas de barra o resultado chama atenção e até quem sabe desejamos uma continuação de antecedência mostrando os outros crimes que solucionou e são falados logo no começo pelo coronel da Academia. Claro que fui pesquisar um pouco e realmente Edgar Allan Poe foi cadete da Academia Militar de West Point nos EUA, e aqui Harry Melling deu bons trejeitos para o papel, soube brincar com toda a desenvoltura do personagem, ser sagaz quando precisou e dinâmico com estilo, de forma que acaba indo até por alguns elos de lado, mas funciona demais e é isso o que importa. Ainda tivemos papeis mais fechados como o de Timothy Spall como o superintendente da Academia e Simon McBurney com seu Capitão Hitchcock e claro toda a família estranha Marquis com o pai médico vivido por Toby Jones, a mãe bizarra vivida por Gillian Anderson, a filha doente que Lucy Boynton deu boas nuances e o filho feito por Harry Lawtey, mas sem grandes chamarizes ou impactos durante o longa inteiro, somente nos atos finais sendo mais diretos, e ainda tivemos quase que duas participações rápidas de Robert Duvall como um ocultista bem trabalhado, mas que ficou só de enfeite mesmo para a trama.

Visualmente o longa é bem escuro, mas cheio de sombras e nuances para dar o ar misterioso, figurinos bem densos e rebuscados para dar a época, e claro ambientes bem próprios para filmes de mistério como florestas, mansões imponentes com muitas velas, cabanas, e claro todo o contexto da Academia Militar, com os diversos treinamentos e casernas aonde os jovens vão para afogar o dia na bebida, ou seja, tudo bem trabalhado e sem grandes requintes, valendo reparar bem em todas as pistas entregues desde a primeira cena para tentar acertar o mistério por completo, afinal a equipe de arte nesse estilo de filme sempre trabalha a favor do espectador.

Enfim, é um filme digamos interessante e bem feito, que acredito que poderia ter ido mais além ou eu fui conferir ele com expectativas demais, mas agradou ao menos, só temos de pontuar o que já falei várias vezes de fechar mais a quantidade de personagens, senão acaba virando uma série/novela e o diretor mais se perde do que entrega algo funcional. E assim sendo recomendo ele para quem gosta do estilo, mas deixo a dica de ir sem esperar muito, que aí talvez o resultado seja melhor, e fico por aqui hoje, voltando o quanto mais breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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