Segredos de Guerra (Firebird) (Tulilind)

1/04/2023 12:59:00 AM |

Sabemos bem que relacionamentos são complicados, e que nem sempre tudo rola bem quando temos algo conflitivo às escondidas, e numa época aonde ter qualquer tipo de relação homossexual era considerado um crime monstruoso, um piloto e um jovem soldado acabaram tendo um convívio intenso, e sendo uma história real diria que souberam dosar até que bem todas as dinâmicas de "Segredos de Guerra", trabalhando os envolvimentos de um modo mais sutil, mostrando bem todas as dinâmicas das tropas e as devidas conexões, para que a trama não ficasse só nos protagonistas, e embora isso tenha sido um artifício tanto para contextualizar o público, quanto para que o filme não ficasse tão forte no conteúdo sensual/sexual, o resultado acaba sendo algo envolvente, mas também simples. Ou seja, é uma trama interessante e bem intrigante, que parece faltar com algo a mais, mas que agrada e incomoda mais por ter tantos personagens falando inglês na antiga União Soviética do que realmente a sexualidade dos protagonistas, e isso dava para ter sido mudado, e principalmente daria chances para a Estônia ter um filme forte na concorrência de prêmios por filme internacional.

O longa é baseado na história real que deu origem ao livro “A Tale About Roman”, retratando um triângulo amoroso proibido entre o jovem soldado Sergey, o ousado piloto de caça Roman e sua companheira Luisa, em meio ao ambiente perigoso de uma Base Aérea Soviética, no auge da Guerra Fria. À medida em que a amizade entre os dois homens se transforma em amor, eles arriscam suas vidas e sua liberdade ao confrontarem um regime rígido e conservador.

Diria que o diretor Peeter Rebane foi bem conciso na história que tinha em mãos, afinal vindo a base de um livro conseguiu junto do ator Tom Prior determinar um bom envolvimento e um desenvolvimento bem criativo e dinâmico para que o personagem tivesse um algo a mais a mostrar, e a grande dinâmica do filme está no carisma que vemos na relação, não apenas como algo emocional, mas sim pelas conexões artísticas, pelo conteúdo dramático bem encaixado, e principalmente pela posição em si, que já de cara dá para pegar todo o problema do jovem com o amigo no passado, e assim vamos seguindo para tudo o que acaba rolando nos vários anos mostrados. Ou seja, a direção foi eficiente em não ficar presa em clichês e conseguiu fazer com que o filme tivesse um ar bem diferente dos tradicionais, mas para isso precisou abrir o leque e gastou certamente mais do que um drama romântico simples gastaria, com muitos elos de época, e principalmente sem usar grandes efeitos computacionais. Sendo assim, não colocaria o longa como algo romantizado, mas sim um drama bem alocado com elos sentimentais e sensuais, que agrada pelas escolhas feitas, porém que poderiam ter sido mais usadas, e nisso o diretor economizou.

Sobre as atuações, diria que Tom Prior tem muito estilo e conseguiu fazer muito bem o personagem nas várias épocas em que o longa se passa, trabalhando seu Sergey com muito envolvimento e desenvolvendo trejeitos bem marcados, que claro foram bem orientados pelo verdadeiro Sergey antes de morrer em 2017, ou seja, foi criativo e emocional, e soube não ficar preso a um estereótipo, de modo que seu carisma marca presença e agrada bastante. Já Oleg Zagorodnii desenvolveu algo mais fechado, porém bem colocado com seu Roman, de modo que traçou elos emocionais simples, mas diretos em olhares e desenvolturas, o que acaba chamando muita atenção nas suas cenas, e também agrada bastante. Ainda tivemos bons atos de Diana Pozharskaya com sua Luisa, meio que sempre em segundo plano, mas importante demais na história toda pelas dinâmicas em si, e claro Margus Prangel sempre olhando torto para os protagonistas com seu major, além de alguns atos soltos de Jake Henderson como Volodja que foram bem direcionados, ou seja, o elenco trabalhou bem para que os protagonistas tivessem o foco total, e assim funcionou bem.

Como já disse a equipe poderia facilmente abusar de cenas mais baratas, mas optou por mostrar todo o treinamento e desenvolvimento das tropas na Guerra Fria, e com isso temos atos com aviões, armas, alojamentos, figurinos bem trabalhados, mas tudo condizendo perfeitamente com a época e com os momentos, que claro deram um tom a mais para o filme, mostrando que a equipe de arte soube usar tudo em seu benefício e agradar, além de cenas depois numa Moscou bem trabalhada no inverno, com mais roupas ainda de época e boas montagens teatrais.

Enfim, é um filme bem denso e que consegue passar bem a representatividade e o carinho dos personagens representados, que sendo uma história real nem daria para enfeitar muita coisa, mas que conseguiram simbolizar bem e envolver com tudo o que é entregue, só diria que faltou um pouco mais de emoção nos atos, que aí sim resultaria em algo mais perfeito, mas vale bem a dica para a conferida a partir do dia 05 em cinemas de várias cidades. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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