A Primeira Comunhão (La Niña De La Comunión) (The Communion Girl)

4/01/2023 02:32:00 AM |

A maioria costuma reclamar que os longas de terror entregam clichês demais em suas tramas, mas diria que o gênero pede isso, sendo algo bem próprio e quase uma marca clássica, só que como tem tantas vertentes dentro do estilo, algumas entregam algumas inovações mais chamativas enquanto outros ficam mais repetitivos dentro da base. E o maior princípio característico que sempre vemos é espíritos ou assombrações demoníacas que causam um certo mal nas pessoas, as perseguindo para que descubram um jeito de sobreviver antes de surtarem efetivamente, e com a trama do longa espanhol "A Primeira Comunhão" vemos bem essa base sendo usada de forma interessante, causando claro vários sustos gratuitos, e também alguns atos bem tensos que se encaixam com a densidade da trama, e claro que muitos vão ficar mais precavidos e não vão pular tanto, porém o resultado é bem marcante, e se não quisessem deixar aberto para uma continuação/prequel colocando um fechamento melhor, diria que teriam cumprido todas as metas com muito sucesso, mas como quiseram brincar com possibilidades acabou ficando um pouco exagerado demais.

O longa nos situa nos anos oitenta numa cidade como qualquer outra em Espanha, mais precisamente 1987 no povoado de Tarragona. Sara teve que se mudar para este lugar e simplesmente não se sente confortável na cidade. Lá ela tem uma melhor amiga chamada Rebe que também vive no lugar. Um dia, elas se divertem em uma boate, bebem, se drogam e vivem uma noite inesquecível. Ao voltarem para casa, encontram uma estranha boneca vestida com um vestido de comunhão. Mal elas sabem que essa descoberta mudará completamente suas vidas e os transformará em um pesadelo.

O diretor Victor Garcia já experimentou várias faces de tramas de terror, mexendo com alguns clássicos e continuações, e embora não seja daqueles que trazem muitas novidades em suas obras, ele sabe brincar com as facetas tradicionais do estilo e causar tensão, de modo que dá pra ficar pensativo em alguns momentos com o que fez aqui, se assustar com algumas aparições repentinas, e causar com a violência de algumas mortes, não sendo algo que você vá sair do cinema passando mal ou ficar sem dormir, mas acaba sendo um bom nome para se pensar quando falar de diretores de terror, pois ele usou o artifício do orçamento barato e de muitos efeitos práticos, que acaba impactando mais do que muita computação gráfica, e chama o público para perto de si. Ou seja, aqui não temos nenhum filme grandioso que será lembrado por anos, mas que sendo honesto com o que o público do gênero gosta de ver acaba funcionando.

Sobre as atuações, o mais bacana em filmes de terror é quando as atrizes entram no clima e demonstram estar com temor do ser, pois quando não passam a ideia para o público o filme acaba ficando morno demais, e aqui Carla Campra teve alguns atos interessantes de espanto, mas logo sua Sara se vê quase como uma detetive, e isso acabou pesando um pouco no estilo, não que ela tenha se saído mal, mas poderia se impactar mais. Embora Aina Quiñones tenha um estilão punk, sua personagem Rebe tem tantos problemas em casa com o pai que o monstro acaba sendo até meio que light para ela, mas quando o bicho pega, a atriz acabou fazendo atos bem desesperados e marcantes. Ainda tivemos Marc Soler bem feliz com a moça lhe dando bola, e sendo corajoso em alguns atos de seu Pedro, mas sorriu bem mais do que ficou com medo, e isso não é algo comum com um bicho daqueles lhe perseguindo, e claro ainda tivemos Carlos Oviedo como o traficante Chivo, bem direto e explosivo, tendo sua cena de impacto bem marcante, e diria que poderiam ter feito outras dessa forma, quanto os demais alguns saíram meio que jogados em cena, outros tiveram nitidamente suas cenas cortadas, mas não damos tanta falta deles.

Visualmente a trama teve uma boa contextualização de época, com figurinos e carros, mas também deu todas as nuances das vilas aonde todos se conhecem, com suas lendas e tendo claro a Igreja como base de tudo, ousando brincar com uma loja de jogos da época, catacumbas, rolos de filmes antigos, revistas de galãs juvenis e tudo mais que pudesse chamar atenção, funcionando bem, mas sem grandes chamarizes, ou seja, sem ter muito para gastar.

Enfim, é um bom filme do gênero que dava para ter ido um pouco mais além, mas que causa alguns sustos e funciona como deveria, valendo a recomendação para quem gosta do estilo e quer ver algo bacana sem ser o tradicional americano. E é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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